Bolsonaro e a vacina, de novo

• Sistemas de dados do SUS detectaram adulteração • Consumo de álcool é mais danoso do que se imaginava • Quais os problemas das bebidas à saúde pública? • Crescem acidentes de moto • Câncer de mama e densidade do seio •

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A Polícia Federal (PF) realizou uma busca na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, bem como um mandado de prisão preventiva contra alguns de seus antigos assistentes mais próximos. A polícia alega que os suspeitos tentaram inserir dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, é acusado de ser o principal responsável pelo esquema. De acordo com a PF, Bolsonaro sabia da inserção fraudulenta de dados no sistema. Seis pessoas, incluindo Cid e outros antigos assistentes de Bolsonaro, foram presas na operação. Uma das marcas de seu mandato na presidência da República foi incitar os brasileiros a não se vacinarem, incentivar aglomerações e atrasar ações de cuidado durante a pandemia mais mortal dos últimos cem anos.

Os dados de saúde no centro da discussão

A fraude usou dois sistemas exclusivos do ministério da Saúde e do SUS: o Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Os suspeitos teriam inserido dados falsos para atestar que Bolsonaro e outros foram vacinados. O objetivo era a emissão de certificados para circulação em locais que exigem a imunização, como os Estados Unidos, para onde Bolsonaro viajou em 30 dezembro de 2022 com familiares e assessores, para não passar a faixa ao presidente eleito Lula. A PF deflagrou a operação nesta quarta-feira (3/5), no âmbito do inquérito que investiga milícias digitais. O ministro do STF Alexandre de Morais, que autorizou a operação, defende que “é plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de 2022”.

O problema com o álcool

Uma matéria da revista Pesquisa Fapesp expôs dados de alguns dos últimos estudos sobre os efeitos do álcool na saúde. As recomendações mais recentes concluem que não há uma dose segura de consumo, e que qualquer quantidade pode ter repercussões negativas tanto para o corpo quanto para a mente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o álcool é uma substância psicoativa, e não remédio – contrariando o senso comum de que haveria uma dose segura ou até saudável de ser consumida. A famosa frase “um copo de vinho por dia faz bem ao coração” não é verdade, portanto. Os efeitos negativos do consumo de álcool estão associados à ocorrência de mais de 200 tipos de doenças e acidentes danosos à saúde. O impacto negativo da bebida entre jovens adultos é ainda maior: 13,5% das mortes de indivíduos na faixa dos 20 aos 39 anos são atribuídas a problemas causados pelo álcool.

Bebida alcoólica e saúde pública

Ainda segundo a Pesquisa Fapesp, de acordo com um relatório da OMS de 2018, os dados globais indicaram que quase 29% das mortes relacionadas ao consumo de álcool eram devido a acidentes (como colisões automobilísticas, quedas e violência interpessoal), 21% por doenças do trato digestivo, 19% por problemas cardíacos, 13% por doenças infecciosas, 12% por câncer e o restante devido a outras condições médicas. No Brasil, cerca de 5% das mortes são atribuídas ao consumo de álcool, principalmente devido a acidentes de trânsito e cirrose hepática. Um artigo de pesquisadores da Universidade de Brasília publicado em outubro de 2022 na revista científica Plos One estimou que os custos diretos e indiretos com problemas de saúde relacionados ao consumo de álcool no Brasil entre 2010 e 2018 foram de cerca de US$ 1,5 bilhão. Os custos incluíram hospitalização, cuidados com pacientes que não foram internados e absenteísmo laboral. Em 2018, os custos diretos representaram 0,56% dos gastos do SUS com internações e despesas com pacientes. Foram considerados 21 tipos de complicações de saúde e acidentes que podem ter relação com o consumo de álcool.

Aumento de delivery fez crescer acidentes de motociclistas

Um relatório do ministério da Saúde revelou que o aumento da frota de motocicletas e serviços de entrega contribuíram para o aumento das internações de motociclistas acidentados no Brasil, passando de 70.508 para 115.709 entre 2011 e 2021. O documento também apontou que os óbitos de motociclistas permaneceram estáveis durante o mesmo período, mas que aumentaram a participação entre os acidentes de trânsito, representando agora 35,3% das mortes. A maioria das vítimas é formada por homens negros com menos de 30 anos. O relatório recomenda ações que regulem as atividades profissionais de motociclistas e fortaleçam o uso de capacetes, além de aprimorar campanhas de conscientização para grupos mais vulneráveis.

Possível novo risco de câncer de mama relacionado à densidade do seio

Um novo estudo publicado no JAMA Oncology sugere que a taxa mais lenta de declínio na densidade da mama em um seio pode estar ligada a um maior risco de câncer naquela mama. Os cientistas da Universidade Washington analisaram mudanças na densidade da mama ao longo de um período de dez anos em 10 mil mulheres. Destas, 289 foram diagnosticadas com câncer de mama ao fim do período – e seus dados foram comparados com os de 658 mulheres semelhantes que não desenvolveram a doença. Embora a densidade da mama diminua com a idade, o estudo sugere que a taxa mais lenta de declínio pode ser um indicador útil do risco individual de câncer e pode ser monitorada ao longo do tempo em mamografias regulares. Shu Jiang, principal autora do estudo, observa que esses exames, hoje, observam a densidade em um ponto no tempo: “essa informação já está disponível, mas não é utilizada”. Agora, seria possível atualizar o risco de uma mulher desenvolver câncer de mama a cada vez que ela fizer uma nova mamografia. O estudo é o primeiro a medir as mudanças na densidade ao longo do tempo e relatar uma ligação com a doença.

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