Amil ainda não explicou o que acontecerá com usuários
ANS exige que empresa de planos de saúde dê explicação detalhada sobre as consequências da venda de 338 mil carteiras individuais – que já está prejudicando clientes. Operadora tergiversa
Publicado 21/02/2022 às 06:00 - Atualizado 18/02/2022 às 20:02

A Amil está tendo que se explicar à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – mas não está facilitando o processo. Desde o final do ano passado, milhares de usuários de planos individuais começaram a fazer reclamações de que não estavam tendo acesso à rede que anteriormente os atendia. Foram 2,7 mil chamados só em janeiro, um aumento de 128,5% em relação ao ano anterior. Isso vem acontecendo desde que a Amil resolveu desfazer-se de 337 mil planos individuais, transferindo-os – e pagando 3 bilhões – para uma pequena empresa de saúde suplementar, a APS (Assistência Personalizada à Saúde), e para a Fiord Capital, empresa financeira recém-aberta.
Após as reclamações, a ANS interrompeu a transferência de ativos da Amil à APS. Pede transparência às empresas, para que seus usuários não sejam prejudicados. Em reunião feita na semana passada, foi exigido um plano de ação detalhado sobre como ficará o atendimento aos usuários se a operação de venda for autorizada. Diante do pedido de mais informações da ANS, em duas reuniões, a alegação foi que queriam manter sigilo da empresa. “Não é possível ter sigilo com o regulador”, respondeu Paulo Rebello, presidente da Agência. O único documento apresentado pela Amil não explica o que aconteceu para que os usuários estejam enfrentando tantos problemas. A empresa lista apenas supostas benesses que concedeu aos clientes.
Essas tenebrosas transações acontecem enquanto os parlamentares discutem liberar as operadoras privadas das poucas normas que as obrigam a respeitar direitos dos usuários. A proposta é liberar a venda de planos de saúde de menor cobertura e rasgar o estatuto do idoso, permitindo reajuste de mensalidades após 60 anos de idade. “Estão em jogo o futuro do sistema de saúde no Brasil, nossa saúde e nossas vidas”, alerta um estudo organizado pelo Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde da Faculdade de Medicina da USP e pelo Grupo de Pesquisa e Documentação sobre Empresariamento na Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicado em dezembro em Outra Saúde.
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