PÍLULAS | África sem droga para HIV após sediar testes clínicos

• África, HIV e as injustiças da saúde-mercadoria • Confirmada teoria sobre transplante de coração de porco • Estamos perdendo parte de nossas bactéria boas? • ONU compara empresas de petróleo às de tabaco • Brasil e o novo corte na ciência • Jornalismo científico em destaque •

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Usada como cobaia, África pode ficar sem droga promissora contra HIV

O CAB-LA, antiviral injetável para a prevenção do HIV, foi testado em sete países africanos para comprovar sua eficácia. Contudo, ainda restam dúvidas de quando o medicamento será disponibilizado a essas populações. Aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA em dezembro de 2021, o fármaco reduz drasticamente as infecções entre grupos marginalizados e mais vulneráveis à contração do vírus – como o de trabalhadoras sexuais, por exemplo. Testes em países da África subsaariana forneceram dados importantes para a aprovação pela FDA, segundo um artigo da Science, mas a África, continente mais atingido pelo HIV, pode enfrentar uma longa espera para obter o remédio a um preço acessível. Em maio, a farmacêutica desenvolvedora do CAB-LA, a Viiv Healthcare, assumiu o compromisso de emitir uma licença para o medicamento ao Medicines Patent Pool (MPP), com sede em Genebra. Se chegarem a um acordo, o MPP poderá negociar acordos com fabricantes de genéricos para produzir versões baratas do CAB-LA para países de baixa e média renda. Ativistas acusam a Viiv de atrasar a disponibilização e argumentam que o acesso equitativo na África Subsaariana deveria ter sido garantido antes do recrutamento de voluntários na região.

Coração de porco usado em transplante estava infectado

Em janeiro, a medicina deu um passo ambicioso: transplantar o coração de um porco em um humano, feito realizado pela equipe de médicos da Universidade de Maryland, EUA. David Bennett, de 57 anos, recebeu um coração suíno geneticamente alterado para evitar a rejeição do sistema imune humano – e, apesar da operação ter sido um sucesso, faleceu dois meses depois, em março. Agora, o chefe-cirurgião, Bartley Griffith, confirmou que o órgão havia sido infectado pelo citomegalovírus suíno, associado a reações que prejudicam o funcionamento do coração em porcos. Exames feitos cerca de 40 dias após a cirurgia mostraram um aumento na quantidade de vírus, que antes tinha sido identificado em quantidades irrisórias. O caso levanta debates entre especialistas sobre os limites do uso de animais para fins científicos. 

Como o homo sapiens perdeu importantes bactérias intestinais 

A comparação de genomas de bactérias intestinais de vários primatas e populações humanas identificou micróbios possivelmente úteis que desapareceram de nossos intestinos, segundo um estudo desenvolvido por universidades norte-americanas. No intestino humano vivem inúmeras bactérias “boas” que nos ajudam não só a digerir alimentos, mas também influenciam na saúde de nosso sistema imunológico, metabólico e nervoso – estudos recentes apontam a relação entre a microbiota intestinal e a depressão, por exemplo. Alguns desses micróbios estão em nossos intestinos há milhares de anos, mas os humanos perderam muitos desses ajudantes encontrados em outros primatas e podem estar perdendo ainda mais à medida que as pessoas ao redor do mundo continuam a migrar para as cidades, segundo um artigo da revista Science

ONU se manifesta contra companhias de petróleo

António Guterres, diretor-geral da ONU, comparou as empresas de combustíveis fósseis às empresas de tabaco, que insistiram na venda de seus produtos viciantes enquanto ocultam informações ou atacavam conselhos de saúde por mostrar ligações claras entre o tabagismo e o câncer. “Por décadas, a indústria de combustíveis fósseis investiu pesadamente em pseudociência e relações públicas – com uma narrativa falsa para minimizar sua responsabilidade pelas mudanças climáticas e minar políticas climáticas ambiciosas”, afirmou ele, que concluiu: “Nada poderia ser mais claro do que o perigo da expansão dos combustíveis fósseis. Mesmo a curto prazo, eles não têm sentido político ou econômico”.

Após novo corte do governo, comunidade científica vive insegurança

No dia 30 de maio, o governo publicou um decreto alterando sua programação orçamentária e financeira, bloqueando o repasse de R$ 8,239 bilhões para várias áreas. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) foi um dos mais afetados. Em 2022, o MCTI estava autorizado a empenhar R$ 6,807 bilhões, mas o governo irá repassar apenas R$ 5,013 bilhões;  R$ 1,794 bilhão restante ficará retido. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, disse que a estratégia usada pela equipe econômica coloca nos ombros do MCTI a decisão de aplicar seus recursos para além da intenção do governo de repassá-los. “Se o ministério empenhar o valor total que lhe foi garantido no início do ano, correrá o risco de só poder honrar seus compromissos no ano que vem”, afirma.

Os desafios do jornalismo científico no Brasil

O jornalismo científico teve enorme destaque nos últimos dois anos, devido à cobertura da pandemia de covid-19 que se tornou principal interesse das pessoas ao ler notícias. Tradicionalmente pouco valorizado pelas mídias, que espaço este jornalismo ocupará a partir de agora? Essa foi a questão levantada pela newsletter Jornalistas@Cia, de larga circulação entre os profissionais de imprensa do país, e direcionada a vários dos jornalistas científicos brasileiros e a alguns cientistas e assessores de imprensa. Algumas das respostas chegaram à mesma conclusão: a cobertura e o destaque durante a pandemia despertaram um interesse maior da sociedade por esse tipo de notícia. Além disso, o papel da imprensa de informar a população sobre uma série de questões complexas relacionadas à doença e a vacinação levou a valorização de informações relacionadas à ciência. 

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