A herança maldita de Bolsonaro na Saúde

• Herança maldita de Bolsonaro na Saúde • Saúde da Família é necessidade urgente • Faltam médicos • 4ª morte por varíola dos macacos • Infectar aedes aegypti para conter doenças • Transplante intestinal pediátrico •

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Uma longa reportagem da BBC Brasil demonstra o tamanho do problema que a próxima gestão federal terá pela frente no âmbito da saúde pública. Desde a queda da vacinação à desassistência da população mais pobre, o leque de buracos a serem tapados é vasto. O que exigirá, como dizem os especialistas entrevistados, uma reversão do desfinanciamento do setor, anunciado oficialmente na peça orçamentária de 2023 enviada por Bolsonaro ao Congresso. Uma das mais dramáticas consequências é a mortalidade materna, que caíra de cerca de 68,9 para 59,8 óbitos por 100 mil nascidos vivos entre 2010 e 2019 e saltou para 74,7 em 2020. De acordo com dados preliminares da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), em 2021 o número chegou a escandalosos 107 óbitos para 100 mil nascimentos.

A ineficácia das respostas oficiais e a falta na Atenção Primária

Em nota oficial, o ministério da Saúde faz propaganda aliada à campanha eleitoral, mas não responde à realidade dos dados apresentados. Ele mesmo é fruto da bagunça administrativa, afinal, foram quatro ministros em quatro anos – um deles um general que “nem sabia o que era o SUS” e sabotou qualquer política preventiva séria, inclusive compra de vacinas, adiada o máximo possível pelo governo. Trata-se da maior média de ocupantes do cargo desde o governo Collor. Como mostrou a matéria da BBC Brasil, cerca de um terço da população ainda não conta com Equipes de Saúde da Família, fundamentais no acesso à atenção primária e ausentes de qualquer fala do presidente em campanha pela reeleição. Outro aspecto importante é que até hoje o governo não foi capaz de promover a contratação de médicos para substituir aqueles que foram dispensados do Mais Médicos, em especial cubanos, pelo simples ódio ideológico do presidente.

Bagunça generalizada 

Pateticamente, o governo anuncia um obscuro Programa Médicos pelo Brasil como tardia resposta à lacuna deixada pelo Mais Médicos e diz que até dezembro 4,6 mil profissionais estarão contratados e trabalhando. Vale lembrar que a dispensa dos médicos cubanos foi uma das medidas mais rápidas de Bolsonaro. E, como demonstrou o Outra Saúde, o desmonte se revela em várias frentes, a ponto de nem a vacina BCG, aquela aplicada em recém-nascidos, ter sido garantida em 2022. “Qualquer indicador que você analisa, cobertura de vacinas, internações evitáveis pela atenção primária, filas de cirurgias… Há inúmeros trabalhos mostrando piora. Precisamente pela falta de competência técnica e pelo descaso com a coordenação do sistema de saúde. Tem algumas partes do ministério da Saúde que ninguém coordena mais”, resumiu Rosana Onocko Campos, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Brasil confirma 4ª morte por varíola dos macacos

Segundo maior epicentro mundial da nova varíola, o Brasil teve oficialmente confirmada a quarta morte pelo vírus. Um homem de 21 anos na cidade de Pouso Alegre foi a vítima da vez de uma doença que até agora só matou pessoas jovens: 31, 33 e 41 anos eram as idades dos três primeiros falecidos. Apesar da queda mundial de infecções, o Brasil concentra 8.340 casos dos cerca de 70 mil registrados pela OMS e, segundo o site Our World in Data, tem uma média móvel de 66 casos na última semana. Os números estão em estabilidade nos últimos 15 dias. O país recebeu no início de outubro 9,8 mil das 50 mil doses adquiridas e, de acordo com o ministério da Saúde, os imunizantes serão aplicados de forma experimental, a fim de testar “evidências sobre efetividade, imunogenicidade e segurança”. Na nota anterior, especialistas também mencionam que o país deixou de ter “estoque estratégico” desse imunizante, como um dia teve.

Uma experiência de sucesso no combate ao aedes aegypti

Com apoio do ministério da Saúde, pesquisadores do World Mosquito Program (WMP) publicaram na revista Lancet os resultados do experimento iniciado em 2017, que soltou cerca de 67 milhões de mosquitos aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia em regiões de maior incidência de dengue e chicungunha no Rio de Janeiro. Como mostra matéria da Folha, “nos locais em que a prevalência de mosquitos com Wolbachia na população de Aedes aegypti era menor ou igual a 10%, a redução foi de 7% na incidência de dengue e de 2% na de chicungunha, enquanto naqueles com prevalência superior a 60% a queda nos casos das doenças foi de 71% e 23%, respectivamente”. Importada de laboratório australiano, a bactéria diminui a capacidade de infecção do aedes e foi introduzida nos insetos através de milhões de armadilhas em zonas de maior contágio. Agora, outras cidades têm interesse em reproduzir o experimento.

Transplante intestinal pediátrico é feito com técnica inédita

O Hospital Universitário La Paz, de Madrid, registrou um feito inédito na história da medicina ao realizar um transplante de intestino em uma bebê de 13 meses. Como explicou matéria do Globo, a criança teve insuficiência do órgão diagnosticada no primeiro mês de vida e esperou todo este tempo pela doação do órgão. Bem sucedida, a cirurgia foi feita por assistolia, isto é, o transplante de órgão de uma pessoa recém-falecida através de um procedimento de manutenção de suas funções com uma oxigenação externa ao órgão (extracorpórea). Trata-se de uma nova modalidade de doação de órgãos de pessoas em situação terminal, que os doam ainda em vida. O Hospital espanhol já fez este tipo de transplante em 147 ocasiões, dentre as quais 12 foram cirurgias pediátricas.

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