A força da bancada da bula

Além de financiar campanhas, indústria farmacêutica agora tem suplente no Congresso. Leia também: atual responsável pela Reforma Agrária tem milícia rural no currículo; Damares chamou um maquiador para campanha contra a violência doméstica

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A FORÇA DA BANCADA DA BULA

Ogari de Castro Pacheco (DEM-TO) tem 80 anos, R$ 407 milhões no bolso e é sócio-fundador de uma das maiores farmacêuticas brasileiras, a Cristália. Agora, estreando na política, é também suplente do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que teve 87% de suas doações de campanha vindas de executivos do laboratório. E Pacheco já vai começar a atuar com força, mesmo enquanto suplente. “No acordo que eu tenho com o Eduardo (Gomes), ele é que vai tomar posse, mas eu vou começar a trabalhar já, não vou esperar assumir o mandato para trabalhar. Eu vou ter dentro do gabinete do Eduardo um “subgabinete”. As matérias de saúde vão ficar sob minha responsabilidade, e uma série de projetos que já estão em elaboração. Ele é que vai apresentar, porque ele tem a voz e o voto, mas vou apoiá-lo e subsidiar as informações necessárias para que ele tente aprovar esses projetos”, contou à Repórter Brasil.

Ter um assento no Congresso é uma grande vantagem para a indústria – como disse Pacheco, “a gente sempre critica que tem que se valer de um intermediário. Mas nada melhor do que alguém da área”. Mas o lobby é antigo e a influência do setor é gigantesca.

Um grande levantamento feito pela reportagem apurou que no ano passado, mesmo que a doação de pessoas jurídicas para campanhas estivesse proibida, o volume de investimentos da indústria nas eleições foi de R$ 13,7 milhões, distribuídos entre 356 candidatos. Elas foram feitas legalmente por pessoas físicas: executivos ligados a 462 laboratórios de medicamentos, distribuidoras e farmácias. Em 2010 e 2014, empresas podiam financiar, o setor farmacêutico doou R$ 26 milhões e R$ 57 milhões, respectivamente, para 1.404 candidatos ao todo. Isso, é claro, considerando as doações declaradas. 

O sucesso da indústria farmacêutica depende muito do setor público, como lembra a matéria. Afinal, o SUS responde por quase R$ 20 bilhões das compras de remédios no Brasil, e as isenções fiscais que recebe contam mais R$ 9,5 bi. O maior cliente da Crisália, por exemplo, é o SUS. 

BOI & BALA NA REFORMA AGRÁRIA

Intercept contra quem é Luiz Antonio Nabhan Garcia, responsável no governo Bolsonaro pelas demarcações de terras e pela reforma agrária. De cara, a descrição de um episódio de julho de 2003, logo após a chegada de Lula ao poder, quando um grupo de fazendeiros do oeste paulista apareceu no Jornal Nacional, de armas em punho, anunciando a formação de um ‘centro de treinamentos’ para resistir às ações do MST. Pois as investigações mostraram que os caras eram ligados a ninguém menos que Nabhan , que tem um histórico com milicianos armados usados para proteger terras na região. Ele já foi preso em 1997 por atirar em um grupo de Sem-Terras (um menino de 13 anos foi atingido de raspão na cabeça), e novamente no ano 2000, quando foram apreendidas 21 armas e mais de 5 mil cartuchos em sua fazenda. Em 2004, agrediu a coronhadas um funcionário.

No cargo, ele já disse que o MST é organização criminosa e que não vai negociar com Sem-Terra, além de defender a revisão dos assentamentos de 350 mil famílias e o fim das escolas rurais do movimento. 

SANDERS, DE NOVO

Derrotado por Hillary Clinton em 2016 enquanto pré-candidato, Bernie Sanders anunciou que vai mesmo entrar na disputa pela Casa Branca nas eleições de 2020. A matéria do El País destaca que ainda não se sabe se ele vai ter a mesma força ou se a “energia da esquerda partidária” vai se dispersar por outros candidatos proeminentes da mesma ala. Suas propostas, como saúde universal, impostos altos para os ricos, aumento do salário mínimo e luta contra as mudanças climáticas agora se disseminaram no Partido Democrata, diz o texto. “Há três anos, durante nossa campanha de 2016, quando apresentamos nossa agenda progressista, nos disseram que nossas ideias eram radicais e extremas. Pois três anos se passaram. E, como resultado de milhões de norte-americanos erguendo-se e lutando, todas essas políticas e outras são agora apoiadas por uma maioria dos norte-americanos”, escreveu Sanders, em e-mail a apoioadores. 

ELA NÃO QUER PAGAR

Mesmo após quatro reuniões, a Vale não fechou acordo com atingidos de Brumadinho para pagar auxílio emergencial, segundo o Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB). O último encontro foi na segunda-feira e, além de representantes da Vale e do MAB, teve o Ministério e a Defensoria Públicos estaduais, a Advocacia Geral do estado e representantes das Comissões de Atingidos de cinco comunidades da bacia do Paraopeba. “Eles não entraram em acordo com a gente porque eles não aceitam o auxílio emergencial, que seria um pagamento financeiro mensal para os atingidos até a reparação. Eles querem fazer uma doação no prazo de um ano, no máximo. Não vamos aceitar isso”, disse Tchenna Maso, do MAB, ao Brasil de Fato. Ela afirma ainda que a Vale impõe condições para a realização do acordo, como o desbloqueio de R$ 11 bilhões de seu patrimônio (a Justiça determinou o bloqueio dois dias depois do rompimento). 

E os 181 bombeiros que trabalham nos resgates em Brumadinho vão passar por acompanhamento específico por 20 anos. Já começou. Em quatro deles foram detectados metais em excesso no sangue. Um tem cobre e três têm alumínio – a matéria do Estadão diz que, segundo estudos recentes, pode haver correlação entre essa substância e doenças como Alzheimer e alguns tipos de câncer, além de problemas intestinais e inchaço abdominal. 

CÉREBRO ELETRÔNICO

Um grupo de pesquisadores estadunidenses e chineses testou o uso da inteligência artificial para diagnosticar doenças. No estudo publicado na Nature, eles contam como foi. A partir dos registros médicos de 600 mil pacientes chineses de um hospital pediátrico, o sistema montado por eles processou os sintomas, o histórico, os resultados de exames e outros dados clínicos e conseguiu identificar, com precisão, doenças comuns na infância, de gripe a meningite. Isso foi possível devido a uma fragilidade da China, onde há poucas restrições ao compartilhamento de dados digitais. 

A matéria do New York Times republicada no Estadão afirma que estão sendo desenvolvidos sistemas para diagnosticar problemas como osteoporose, diabetes, insuficiência cardíaca e problemas oculares.

SEM SURPRESA

Depois que ganhou destaque o caso da mulher que foi espancada por quatro horas em seu apartamento no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro decidiu dar sua opinião. “Se esta senhora tivesse como se defender, e fosse de sua vontade, uma arma de fogo legal resolveria justamente este absurdo. (…). A defesa pessoal dentro de sua casa têm que ser prioridade urgente do Congresso Nacional”. O Estadão lembra um levantamento feito em janeiro segundo o qual o número de mulheres mortas a tiro dentro de casa é três vezes maior que o de homens, e que, das mulheres assassinadas por armas de fogo, um quarto estava em casa.

AH, DAMARES

A ministra tem um novo colaborador para a campanha de combate à violência contra as mulheres. O “querido maquiador” Agustín Rúbio, que esta jornalista aqui desconhecia até ontem. “Com sua sabedoria e estratégia, iremos desenvolver políticas de qualidade para capacitação profissional das vítimas”, tuitou Damares, com as hashtags #PróMulher e #8deMarço. Não sabemos se o objetivo é maquiar estatísticas ou hematomas. 

DE VOLTA

Ontem à noite houve atos  em dezenas de cidades argentinas pela legalização do aborto. A data entrou para o ‘calendário feminista’ no país, porque foi quando aconteceu o primeiro pañuelazo, no ano passado, quando as manifestações cresceram imensamente e o direito ficou muito perto de ser conquistado. O Brasil de Fato conversou com algumas integrantes da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito. Como Nelly Minyersky, de 88 anos: “No ano passado, todas nós que trabalhamos pelo direito à interrupção voluntária da gravidez na política argentina vivemos uma situação épica”, diz ela. 

NÃO DEU

O ministro do STF Marco Aurélio Mello manteve a decisão do Supremo sobre o caso em que Jair Bolsonaro disse à deputada Maria do Rosário que ela não merecia ser estuprada. Uma indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil já havia sido determinada, mas Bolsonaro entrou com recurso. Mello não aceitou o recurso. Além da (pequena) indenização, que deve ser revertida a alguma entidade voltada a vítimas de violência, a condenação determina a publicação de uma retratação em um jornal de grande circulação, na página oficial do réu e em seu canal no YouTube. 

TAMBÉM NÃO DEU

O Congresso derrubou ontem o decreto assinado por Mourão que modificava a Lei de Acesso à Informação. O texto expandia o número de autoridades que podiam impor sigilo a seus dados públicos. “Perdi, perdi, playboy. O pessoal do Congresso não gosta de mim. Se fosse o presidente, tinha passado”, disse o vice.

LIBERDADE DE CÁTEDRA

Uma série de instituições de ensino e pesquisa e associações científicas aderiram a um termo de compromisso formalizado no fim do ano passado pela Procuradoria Federal de Direitos do Cidadão, que instaurou procedimentos administrativos para acompanhar práticas que possam representar assédio moral ou outras ações arbitrárias contra professores. A Procuradoria acolhe as denúncias e faz os encaminhamentos necessários. A Abrasco acaba de aderir ao termo. 

SURTO EM ALTO-MAR

Primeiro pensaram que fosse rubéola, mas na verdade é sarampo: há 18 casos de em um transatlântico com capacidade para quase 7 mil pessoas. Ele vai parar hoje em Santos para uma vacinação em massa. A quem interessar possa: Wesley Safadão está a bordo. 

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