Um ano do vazamento em Barcarena

Despejo de resíduos de bauxita, pela Hydro Alunorte contaminou de 15 a 20 mil pessoas, mas só 1,5 mil estão recebendo benefício. Leia também: ministro diz que aviões da saúde indígena traficam drogas; farmacêuticas acima das proibições da Anvisa.

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UM ANO DO VAZAMENTO EM BARCARENA

Neste fim de semana fez um ano que resíduos de bauxita da mineradora Hydro Alunorte foram despejados para o meio ambiente depois de chuvas fortes em Barcarena, no Pará. Embora os laudos da Secretaria de Meio Ambiente negassem qualquer problema, dias depois  o Instituto Evandro Chagas testou amostras de água e comprovou que havia contaminação. E vistorias ainda encontraram dutos clandestino que levavam resíduos poluentes a cursos d’água. 

O Movimento dos Atingidos por Barragens estima que haja entre 15 e 20 mil famílias atingidas, já que as bacias contaminadas atendem a muitas comunidades. Mas só foram reconhecidas e cadastradas 1,5 mil famílias a partir do Termo de Ajustamento de conduta, assinado em setembro. Desde então, elas estão recebendo um cupom com um valor mensal, mas só por cinco meses (já está acabando). A Hydro diz respeitar o Termo, que, afinal, não estabelecia o número de famílias que seriam atendidas. Na sexta, houve uma audiência pública para avaliar o documento, e o MPF anunciou que esse número deve subir.

Em janeiro, a empresa entrou com uma ação contra Marcelo Lima, pesquisador do IEC, alegando crime contra a honra por conta de entrevistas que ele deu à época sobre os resultados da pesquisa que comprovavam a contaminação. No último dia 7, o MPF enviou parecer rejeitando a queixa. 

A tragédia aniversariante não é novidade na região. Em 20 anos, foram 24 desastres. É “uma contaminação continuada que se reflete na queda de cabelo das pessoas, nas doenças gastrointestinais, nas doenças de pele, em aparecimento de cânceres estranhos”, diz o deputado Carlos Bordalo (PT). Em 2009, a Hydro  foi multada pelo Ibama em R$ 5 milhões, também por vazamento de rejeitos em Barcarena, mas recorreu e até hoje não pagou.

ÀS ESCONDIDAS

No ano passado, uma explosão em um gasômetro da Usiminas, bem no centro de Ipatinga (MG), deixou a população do município em pânico. E a reportagem do Intercept mostra que, se a explosão levou para fora a dimensão do perigo de se trabalhar na siderúrgica, dentro dela o medo já existia, e acidentes graves de trabalho têm sido ocultados pela empresa. Por exemplo, os Comunicados de Acidentes de Trabalho produzidos pela Usiminas contam 42 operários acidentados  em 2018, mas omite as 34 vítimas da explosão  e, ainda por cima, o homem que morreu ao tentar fugir.

Os repórteres tiveram acesso a vídeos feitos por funcionários que mostram as condições de trabalho precárias, com acúmulo de função, assédio moral. galpões fechados sem ar condicionado, maquinário velho e vazamento de gases.  

A VALE

Neste fim de semana, 49 famílias foram evacuadas em Macacos, distrito de Nova Lima (MG) onde ficam seis das 22 barragens do município. Foram mais de 200 pessoas retiradas de suas casas, mas segundo eles a evacuação foi “caótica“. Não sabiam se poderiam voltar e quando, houve informações desencontradas, e alguns moradores continuaram em área de risco por falta de transporte.

DAMARES E UMA PEQUENA NOVIDADE

Damares Alves deu entrevista à Folha. Reafirmou muito do que tem dito – a coisa dos príncipes e princesas, o combate à ideologia de gênero, sua defesa no caso Lulu etc. Mas mencionou, sem detalhar, algo que desconhecíamos e chamou atenção. Na pergunta sobre aborto, disse que o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos vai “propor o Estatuto da Gestante e desenvolver políticas garantindo direitos para as mães e as crianças na fase gestacional”. Completou que sua ideia era incorporar as propostas no Estatuto do Nascituro. “Mas, como há pontos polêmicos, vamos apresentar a proposta do Estatuto da Gestante”. Vamos aguardar para ver o que sairá.

Ela confirmou que convidou a ‘ativista antifeminista’ Sara Winter para um cargo de nível baixo no Ministério, com salário de R$ 6 mil, voltado para atender mulheres em situação de risco. Quando perguntada se ela própria é antifeminista, respondeu que é “anti-ativismo exagerado”. E que abraça certas pautas feministas e irá para a rua com elas. “Por exemplo: salários iguais entre homens e mulheres e luta contra a violência. Se for para eu e as feministas irmos para as ruas de braços dados contra isso, eu vou. Mas sem o exagero de seios à mostra. Sem a doutrinação que parece pregar o ódio aos homens”. Só faltou mencionar a depilação.

Disse ainda que a criminalização da homofobia penaliza cristãos por sua “expressão de fé” – a ministra acredita que movimentos gays são usados a serviço de partidos políticos e ideologia de gênero. E declarou que a Comissão de Anistia deve ser revisada: “precisa começar a pensar em acabar”, pois “perdeu o foco”. 


MINISTÉRIO FRAGILIZA COMBATE À TORTURA

Um comunicado do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) acusa o ministério de Damares de impedir a vistoria de penitenciárias cearenses, onde há denúncias de  falta de água, comida e visitas, e ainda práticas de violência. Segundo o comunicado, o ministério afirmou que “não autorizaria nenhum custeio de visita ao Estado do Ceará se não fosse interesse do Governo Federal”. Só que a legislação diz que deve ser garantido o apoio ao Mecanismo, em especial para as visitas regulares e periódicas em todo o país. Outra acusação é a de que o ministério não recompôs o quadro de peritos após o vencimento do mandato de parte da equipe. Era para haver 11, mas atualmente há 8, e o número deve cair para 5 em março, quando vencem mais três mandatos. 

MANDETTA ACUSA

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que aviões pagos com recursos da pasta para a área da saúde indígena fazem tráfico de drogas. Pediu que a PF investigue. “A gente gasta de avião, de transporte, caminhonete e carros, e motoristas. Aviões pagos com recursos do SUS, escrito na lataria “Ministério da Saúde, a serviço do governo federal”, com tráfico de drogas dentro. Porque o traficante ganhou a licitação e o SUS é uma excelente maneira de você fazer tráfico”. Ele ainda acusou que há repasses milionários (de R$ 490 milhões) para uma ONG específica, mas não disse qual. 

A fala não foi recente – foi no último dia 31, na reunião com o Conselho Nacional de Saúde – mas só agora está repercutindo. Daí que Eduardo Bolsonaro pediu à pasta informações sobre os contratos da pasta na saúde indígena desde o início do governo Lula. 

E o distrito indígena de Parintins, no Amazonas, ganhou um helicóptero para reforçar o atendimento médico. Ao comemorar no Twitter, Bolsonaro disse que assim os índios vão começando a se sentir brasileiros. “Reintegrar os índios à sociedade levando até a estes condições para que possam se sentir brasileiros e não apenas serem tratados como massa de manobra e divisão do povo para contemplar planos de poder. Temos o povo mais miscigenado do mundo e somos todos iguais!”, exclamou.

SAUDÁVEIS NA QUÍMIO

Um relatório da auditoria geral do SUS descobriu que no hospital Regional de Cárceres, no Mato Grosso, mais de mil pessoas sem diagnóstico de câncer foram submetidas a sessões de quimioterapia e procedimentos cirúrgicos de oncologia. Se o número absoluto já é grande, fica maior ainda se comparado ao total deste tipo de procedimento na unidade: 2.491. 
A investigação foi de um contrato entre o hospital e a empresa M.M.S. Serviços de Saúde, que provavelmente recebeu valores superfaturados. 

MILITARES GANHAM MAIS UMA…

Bolsonaro escolheu, para um general para a diretoria da Anvisa. É o médico Paulo Sérgio Saudauskas, atualmente  subdiretor técnico de saúde da Diretoria de Saúde do Exército. 

… E AS FARMACÊUTICAS TAMBÉM

Está em uma resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa: agora, empresas vão poder continuar vendendo seus remédios e cosméticos – pelo menos por mais algum tempo – mesmo depois de a Agência proibir a comercalização. É que, quando uma empresa apresentar recurso em relação à proibição, esta ficará suspensa até que haja uma decisão final. Outra novidade é que recursos em segunda instância na Anvisa vão ser julgados pela Gerência-Geral de Recursos, criada em resolução de dezembro , e não mais pela Diretoria Colegiada. 

NUNCA ANTES

A cirurgia de Bolsonaro vai exigir da União algo inédito. O Hospital das Forças Armadas – que é  mantido pelo governo federal e tem contrato para atendimentos a integrantes da Presidência da República – vai ter que pagar ao Hospital Albert Einstein pela internação do presidente. E ele nem foi encaminhado ao Einstein pelo HFA, mas deu entrada direto lá, como paciente comum. 
Não divulgaram o valor, mas são 17 dias internados em uma instituição caríssima e com uma das melhores equipes do país.

“VAGABUNDO NÃO TEM MEMÓRIA”

Foi assim que o deputado federal Daniel Silveira (PSL) justificou ao Uol sua proposta e tornar obrigatória a doação de órgãos de pessoas com “indícios de resultados de ação criminosa”. Como “vagabundo não tem memória”, a lei não iria ferir a memória de ninguém. “Essa é a única coisa que ele pode fazer de bom, pagando uma dívida com o divino”, afirmou ele.

NOVA EDUCAÇÃO SEXUAL

Os vídeos pornô disponíveis o tempo inteiro na internet se tornaram a educação sexual do século 21, afirma uma longa matéria do El País. A idade inicial de consumo está entre nove e dez anos, e a reportagem conversa com profissionais que atuam em escolas e conversam com as turmas sobre isso na Espanha. A questão é que os vídeos não são encarados como ficção, mas como realidade. 

“Já vêm à consulta garotos preocupados porque acreditam que têm ejaculação precoce, quando não têm, porque não duram 45 minutos no coito, ou meninas que se diagnosticam anorgásmicas, porque não têm orgasmos vaginais. Nós deixamos que aprendessem sobre sua sexualidade por meio da pornografia e quando levam isso às suas vidas de casal, os problemas começam. Estou cansado de ouvir a mesma queixa entre as garotas: ‘O que está acontecendo com os homens? Agora, quando tenho uma relação, acham que estão em um filme pornô e tudo é muito agressivo’. E eles, quando lhes pergunto, me respondem surpresos: ‘Ah, mas não é disso que as mulheres gostam?’”, relata um deles. 

AINDA A TELEMEDICINA

A resolução do Conselho Federal de Medicina que regulamenta as consultas a distância segue dando o que falar. A Folha dois artigos de opinião, um apontando que a telemedicina deve trazer avanços à saúde no país, outro dizendo que não. 

Quem escreve contra é Mario Jorge Tsuchiya, do Cremesp. Seu foco é no fato de que a resolução parece uma forma de consolidar que áreas remotaspossam ter maus atendimentos, já que, pelo texto, nesses locais mesmo a primeira consulta poderia ser a distância. Tsuchiya observa, por exemplo, que para pôr a proposta em prática seria preciso uma estrutura técnica “impecável”, o que não é a realidade no país todo, especialmente nessas áreas. 

Já o artigo favorável é de Mauro Luiz Ribeiro, conselheiro do CFM. “Gostemos ou não, a telemedicina já é realidade no país, feita atualmente de maneira desregrada, atendendo a grupos privados, com interesses econômicos. Cabe ao CFM regulamentar a telemedicina, sem receio de a tecnologia interferir na relação de confiança médico-paciente, pilar sagrado da medicina, que independe de encontro presencial”, defende. Ele ressalta que o Conselho vai rever a resolução a partir das críticas. 

PRECISAM-SE

Um estudo do BID sobre o “setor social da Amárica Latina” estimou que, em 2040, o Brasil vai precisar de um milhão de médicos e 4,5 milhões de enfermeiros, além de 4 milhões de professores. 

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