2022: o ano da violência contra a mulher

• Violência contra mulher: o aumento em 2022 e o papel da Atenção Básica • O escanteamento das cientistas na academia • Dignidade menstrual • Programa Nacional de Equidade de Gênero • Braço biorobótico com lixo eletrônico •

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A pesquisa Visível e invisível: a vitimização da mulher no Brasil mostra as consequências reais de mais um fenômeno engendrado pelos discursos conservadores e antifeministas: todas as principais formas de violência contra a mulher aumentaram no país. Assédio, abusos sexuais, violência física por meio de facadas ou tiros e, claro, mortes. Encomendada ao DataFolha pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pesquisa fez recortes socioeconômicos e mostra que a desigualdade social também resvala em maior exposição à violência das mulheres negras e mais pobres. O estudo ainda conclui que a saúde mental dessas mulheres sofre pioras significativas e é hora de profissionais da área ampliarem o olhar dos condicionantes não biológicos de tais problemas.

O papel da Atenção Básica na contenção à violência de gênero

Estudo da ONG Vital Strategies, que produz informações em saúde com curadoria de pesquisadores do setor, levantou que cerca de 80% dos casos de agressão a mulheres são registrados em hospitais e pronto-socorros. Ponto de maior contato da população com o sistema de saúde, as unidades básicas fazem cerca de 20% das notificações. O estudo analisou dados acumulados entre 2011 e 2021 em três grandes bases de dados públicos. No entanto, o fator mais negativo na construção de informações a respeito passa pela subnotificação. “Hoje, no Brasil, para reconstruir a história de uma mulher vítima de violência precisamos da análise das bases de dados integradas, mas em muitos casos não há detalhes”, explica Sofia Reinach, gerente da Vital Strategies, à Folha de S. Paulo. Treinar e preparar profissionais da saúde pública para lidar com a violência contra a mulher é uma das saídas que o sistema de saúde pode oferecer para garantir maior precisão e sistematização das informações.

Cientista comenta dificuldades da mulher acadêmica

Como mostrou pesquisa aqui repercutida, a quantidade de mulheres nos estratos de pesquisa e extensão não é acompanhada de forma proporcional quando se vê o número de docentes do gênero. Em entrevista ao Portal Ciência, da UFPR, a professora Camila Silveira da Silva, do departamento de química, comentou as dificuldades históricas do avanço feminino nas universidades. “Os trabalhos liderados por mulheres, em diversas ocasiões, são menos valorizados que aqueles que contam com liderança masculina. São em menor número: as citações de mulheres em artigos, teses, dissertações; as aprovações de projetos com financiamento; as conferências principais nos congressos; a composição nas bancas de concursos; as bolsas de produtividade em pesquisa; a presidência de sociedades científicas; etc. Há, ainda, laboratórios, grupos de pesquisa, orientadoras(es) que não aceitam trabalhar com mulheres, ou se aceitam, as discriminam por seu gênero. A lista das situações de discriminação de mulheres na pesquisa científica é imensa”, enumerou.

Governo federal garantirá absorventes

Neste 8 de março, o governo federal aproveitou o Dia Internacional da Mulher para lançar o Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual, que visa garantir absorventes para 8 milhões de mulheres, com foco nas mais pobres e miseráveis. Com investimento previsto de R$ 418 milhões, a iniciativa reverte retrocessos do governo anterior, que teve no veto de Bolsonaro à distribuição gratuita deste item básico de higiene uma de suas tantas práticas misóginas. “A dignidade menstrual também diz respeito à dignidade humana. Quando as pessoas acessam instalações e insumos seguros e eficazes para administrar sua higiene menstrual, são capazes de administrar sua menstruação com dignidade”, explicou Ana Nery Lima, da ONG Plan International, que militar por direitos de crianças e igualdade para meninas, à Agência Brasil.

Portaria institui programa de equidade de gênero

O ministério da Saúde publicou a Portaria 307, que Institui o Programa Nacional de Equidade de Gênero, Raça e Valorização das Trabalhadoras no Sistema Único de Saúde. Em um texto longo, que reconhece o machismo e o racismo como estruturais, a medida assinada pela ministra Nísia Trindade elenca uma série de enfoques à promoção dos direitos da mulher que trabalha na saúde, como proteção à violência, saúde mental, garantia de maternagem, avanço em projetos voltados à igualdade, formação/educação em equidade de gênero, entre outros. Em texto anexo, a ministra Nísia baliza os conceitos orientadores da portaria, a exemplo de laicidade do estado, combate a discriminações históricas e interseccionalidade dos direitos das trabalhadoras da saúde com outras outras áreas.

Quenianos criam braço biorrobótico com lixo eletrônico

Dois primos autodidatas forjaram uma verdadeira façanha para conseguir uma prótese braçal. Após criar um protótipo em 2012 para um vizinho que sofreu uma amputação em acidente de trabalho, a dupla Moses Kiuna e David Gathu conseguiu criar uma versão ainda melhor de sua própria invenção: trata-se de um braço biorrobótico com conexões cerebrais. Como mostra reportagem da AFP, eles conseguiram transformar materiais eletrônicos descartados em um receptor que capta sinais cerebrais e os envia ao braço artificial. A matéria ainda lista outras criações da dupla, que talvez tenha apresentado uma solução brilhante para uma necessidade pouco acessível, dado que só cerca de 10% das pessoas que precisam de uma prótese conseguem obtê-la. “Temos muitas outras ideias que podemos viabilizar comercialmente, mas faltam recursos e apoio”, contou Gathu.

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