Sul da África: das guerras ao grande parque

 

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Cinco países formalizam imensa área comum de proteção à natureza, em região marcada, até o século passado, por conflitos devastadores

Surgiu na primeira quinzena de agosto um sinal de que as nações africanas podem estar a caminho de superar antigas divergências e conflitos, em parte herdadas do período colonial. Cinco países – Angola, Zimbabwe, Namíbia, Botsuana e Zâmbia – firmaram em Luanda, a capital angolana, o acordo que oficializa a Kaza (Área de Conservação Transfronteiriça Avango-Zambezi). Existente de modo provisório desde 2006, ela irá integrar 36 parques nacionais e ligar o delta do rio Okavango com os sistemas de rios Zambezi, Chobe-Linyanti, Cuando e Cuito. Exatamente onde desenrolaram-se, entre meados dos anos 1970 e o final do século, conflitos sangrentos envolvendo alguns dos países agora associados e a África do Sul.

Impressionam a riqueza e magnitude da empreitada. A área da reserva totalizará 450.000 km2 – pouco menos que a superfície da França, ou da Bahia – caracterizados por fauna e flora extremamente ricas. Estão em Kaza as maiores populações dos grandes mamíferos africanos: metade dos elefantes e rinocerontes, além de búfalos, hipopótamos, leões, zebras e antílopes. Ha, além disso, 600 espécies e mais de 3 mil de plantas. Abriga, ademais, as Cataratas Vitória.

A iniciativa está sendo festejada por ambientalistas. Organizações como o Fundação Mundial para a Vida Selvagem (WWF, em inglês). lutavam há muito por medidas de preservação que não se esbarrassem nas fronteiras entre os países. Crêem que o estabelecimento de uma área protegida contínua, que vai do oeste angolano até o leste de Zimbabwe facilitará a defesa das espécies animais e vegetais. Já os governos esperam que o parque converta em realidade o potencial da indústria turística. Querem facilitar as leis de turismo, permitindo que se possa passear por todo o parque com um único visto no passaporte.

Cerca de 2,5 milhões de seres humanos vivem na região de Kaza – a maior parte delas em condição de grande pobreza. As comunidades locais esperam ter algum retorno com as obras e serviços. Será preciso construir estradas, aeroportos, acomodação e instalar serviços de conservação e vigilância no parque.

O entendimento de agora contrasta com as guerras que afetaram, no século passado, a vida humana e animal. Em 1975, a África do Sul – então dominada por uma minoria branca e racista – reagiu à independência de Angola financiando e armando uma guerrilha interna (a Unita), que lançou o país em guerra civil até 2002. Também colonizada pelos sul-africanos, a Namíbia abriu, à mesma época, luta por autonomia, igualmente enfrentada com violência (conseguiu a independência em 1990).

Houve milhares de mortes, não só entre humanos. Em busca de recursos para a compra de armas, grupos armados acostumaram-se a abater elefantes para apoderar-se de seu marfim – valorizado por compradores ocidentais. Ume enorme quantidade de minas explosivas foi instalada no solo. É uma herança trágica, que ainda precisa ser removida.

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2 comentários para "Sul da África: das guerras ao grande parque"

  1. martos disse:

    medida como esta poderia ser tomada também no Brasil para a proteção de áreas que estão desaparecendo.
    Africa vive!

  2. renato machado disse:

    Um grande exemplo a ser seguido pelos povos de outros países. Mas com certeza isso é resultado dum amplo movimento social que devem estar há anos pressionando os governos para que isso acontecesse , uma vez que uma região como essa deveria despertar um grande interesse de muitos grupos de assassinos da natureza.

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