Sobre desejo e prazer em Deleuze e Foucault

Curso online da revista Cult, ministrado por Ernani Chaves, investigará o embate intelectual entre os filósofos – e as distâncias que os separam em relação a estes conceitos. Quem apoia nosso jornalismo garante desconto e concorre a uma vaga

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Em 1976, Foucault lançava o primeiro volume de seu estudo acerca da sexualidade no ocidente: História da sexualidade – a vontade de saber. No ano seguinte, Gilles Deleuze reconheceu a crítica a ele implícita na obra de seu amigo; por conta disso, escreveu uma carta ao filósofo refazendo o percurso teórico de seu contemporâneo a partir de Vigiar e Punir (1975). Na carta, o “filósofo do desejo” se contrapõe ao privilégio que o “arqueólogo do saber” concedeu ao “prazer” em detrimento do “desejo”.

É em busca de explorar “as razões de Deleuze, mas também as de Foucault no que concerne a essa questão”, que o Espaço Cult, espaço de cursos livres da Revista Cult, irá promover o curso online Desejo e Prazer: Deleuze x Foucault, com Ernani Chaves.

Outras Palavras e Revista Cult sortearão 1 vaga no curso online Desejo e Prazer: Deleuze x Foucault, com Maria Rita Kehl, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 11/9, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

A ideia do curso não é decidir quem tem razão, mas expor as razões de um e de outro. “O que assinala, decididamente, uma distância entre eles”.

Trecho da carta de Deleuze a Foucault:


Chego, assim, à minha primeira diferença com Michel, atualmente. Se com Félix Guattari, falo em agenciamento de desejo, é por não estar seguro de que os microdispositivos possam ser descritos em termos de poder. Para mim, agenciamento de desejo marca que o desejo jamais é uma determinação “natural”, nem “espontânea”. Por exemplo, a feudalidade é um agenciamento que põe em jogo novas relações com o animal (o cavalo), com a terra, com a desterritorialização (a corrida do cavaleiro, a Cruzada), com as mulheres (o amor cavalheiresco)… etc. Agenciamentos totalmente loucos, mas sempre historicamente assinaláveis. De minha parte, diria que o desejo circula nesse agenciamento de heterogêneos, nessa espécie de “simbiose”: o desejo une-se a um agenciamento determinado; há um co-funcionamento. Seguramente, um agenciamento de desejo comportará dispositivos de poder (poderes feudais, por exemplo), mas será preciso situá-los entre os diferentes componentes do agenciamento. […] Em suma, não seriam os dispositivos de poder que agenciariam ou que seriam constituintes, mas os agenciamentos de desejo é que disseminariam formações de poder segundo uma de suas dimensões. Isso me permitiriam responder a seguinte questão, necessária para mim, mas não para Michel: como o poder pode ser desejado? Portanto, a primeira diferença seria esta: para mim o poder é uma afecção do desejo (reafirmando-se que jamais o desejo é uma “realidade natural”).


Confira a carta na íntegra aqui.

Mesmo que em alguns momentos a relação dos filósofos, principalmente no campo teórico, parecesse estar abalada, os dois nutriram uma relação de amizade e colaboração duradoura. O primeiro encontro dos dois foi em 1952 e, de acordo com pesquisadores, imediatamente se afeiçoaram um ao outro; no entanto, foi no fim dos anos 70 que suas diferenças teóricas se aprofundaram, inclusive exposta no debate público. 

Roland Barthes (segundo esq), Michel Foucault (segunda dir) and Gilles Deleuze (direita) IRCAM, Paris, Fevereiro de 1978. Fonte: Monoskop

Ainda assim, há momentos históricos dos dois, como quando em fevereiro de 1978, Roland Barthes, Foucault e Deleuze juntaram-se para um ciclo de cinco workshops no Instituto de Pesquisa e Coordenação de Música e Acústica (IRCAM – Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique) à convite de Pierre Boulez.

 Há também uma conversa interessantíssima entre Deleuze e Foucault acerca das conexões entre a luta por direitos de mulheres, homossexuais, prisioneiros etc com a luta de classes, além de debaterem as relações entre teoria, prática e poder. A conversa pode ser lida no portal libcom.org.

Ainda vale lembrar que em 1986, Deleuze lançou o livro Foucault, abordando com profundidade os fundamentos conceituais de duas das obras mais paradigmáticas do pensador: A Arqueologia do Saber (1969) e Vigiar e punir. Assim como Nietzsche e a filosofia (1962) e Espinosa e o problema da expressão (1968), Deleuze parece pensar junto com Foucault, ao invés de escrever um guia sobre sua filosofia.


Sobre Ernani Chaves

Professor Titular da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará. Pesquisador 1B do CNPq. Estágios de pesquisa na Alemanha e na França. Membro da Rede Ibero-Americana de Estudos sobre Foucault. Sobre Foucault especificamente, publicou “Foucault e a Psicanálise” e “Michel Foucault e a verdade cínica”, além de inúmeros artigos e capítulos de livros no Brasil e no Exterior. É tradutor de Nietzsche, Freud e Walter Benjamin.

Desejo e Prazer: Deleuze x Foucault

Ministrado por: Ernani Chaves

Vagas: 46

Carga Horária: 8h

Dias do curso: 18, 19, 20 e 21/09/2023 – 19h às 21h


PLANO DAS AULAS

  1. Aula: A questão do desejo na França dos anos 60: de Lacan ao Anti-Édipo, passando por Reich e Marcuse;
  2. Aula: Por que o prazer?;
  3. Aula: A carta de Deleuze, 1a. Parte;
  4. Aula: A carta de Deleuze, 2a. Parte.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

  • Deleuze, G. “Desejo e prazer”. In: Dois regimes de loucos. Textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016.
  • __________, “Sobre os principais conceitos de Michel Foucault”. In: op. Cit.
  • Deleuze, G. E Guattari, F. O Anti-Édipo. 2ª ed., São Paulo: Editora 34, 2011.
  • Foucault, M. História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1977, vol. I

_________. História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984, vol. 2

ASPECTOS TÉCNICOS

As aulas serão transmitidas pelo Google Meet. As instruções para o acesso serão enviadas por e-mail dois dias antes do início do curso. Se você se inscrever nos últimos momentos, receberá estas instruções no dia da primeira aula.

As aulas serão transmitidas ao vivo, mas também serão gravadas e podem ser assistidas posteriormente. Os links dos vídeos ficam ativos por 30 dias corridos a partir do fim do curso. Será oferecido certificado apenas para quem tiver 75% de presença nas aulas ao vivo.

Para mais informações: [email protected]


Em parceria com a Revista Cult, Outras Palavras irá sortear 1 vaga no curso online Desejo e Prazer: Deleuze x Foucault, com Maria Rita Kehl, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 11/9, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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