São Paulo: começa o Festival Baixo Centro

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As cidades são colonizadas porque permitimos — ao não enxergá-las. Inverter uma ordem construída ao longo de séculos levará tempo. Mas o primeiro passo é agora!

E se os habitantes das cidades dedicarem-se a recuperar os espaços colonizados pelo dinheiro e suas expressões — asfalto, automóveis, especulação imobiliária, exclusão social? Começou em São Paulo, neste fim de semana, uma experiência original neste rumo. Chama-se Festival Baixo Centro. Desenrola-se durante dez dias, até 1º de abril. Emblematicamente, recaptura, como eixo de suas iniciativas, uma das intervenções viárias mais desastrosas e desumanas da cidade: o Elevado Costa e Silva, “Minhocão“.

É organizado por um conjunto de coletivos de trabalho e pesquisa, boa parte deles reunidos na Casa da Cultura Digital. A programação foi construída de forma autônoma, à moda dos Fóruns Sociais Mundiais.  Quem quer, constrói uma atividade, sem pedir licença aos facilitadores do processo — mas torna-se responsável pela realização do projeto… O resultado é uma combinação feliz de cultura e política (não a representação institucional, mas a construção coletiva do presente e futuro comuns). Entre as mais de cem atividades programadas, há festas (“as ruas são para dançar”, diz o mote do Baixo Centro), teatro, cinema exibido na rua, muita música de múltiplos gêneros e, em especial, convites à intervenção direta da população sobre a cidade.

Uma das propostas fundamentais do festival parece ser desnaturalizar a cidade, desnudar as relações de hierarquia e poder costumeiramente ocultas pelas vestes da rotina. Por isso, estão previstas ações aparentemente apenas zombeteiras, como derramar tinta em cruzamentos movimentados (para visibilizar a ocupação da cidade pelos veículos – foto) ou oferecer bobinas de papel aos transeuntes do Minhocão (fechado aos carros nos domingos), sugerindo-lhes mapear concretamente suas rotas no elevado e na cidade.

Outro viés cultural-político são as oficinas que difundem lógicas alternativas às do capitalismo, para compartilhar bens e serviços. Neste sábado, no Largo do Arouche, o Palanquinho Permitido ensinou a trocar, grátis, arquivos de vídeo e áudio. Na Praça Duque de Caxias, bem próximo à região que o governo paulista chama de cracolândia, uma reconstru-ação vai propor aos moradores reinventar o local onde moram. A partir da meia-noite, na Praça Marechal Deodoro — bem onde funcionou a Rede Globo — haverá partidas autônomas de futebol.

Uma possibilidade adicional, explorada de modo notável pelo Baixo Centro, são as participações a distância. Um site riquíssimo permite, à maioria que não poderá estar em São Paulo, acompanhar o que se passa durante os dez dias. A programação completa está disponível num mapa interativo de alta tecnologia — porém, de uso facílimo. Para obter toda a programação de cada dia, basta clicar nas datas do menu à direita. Informações adicionais sobre as atividades podem ser obtidas com mais um clique, sobre o ícone que as identifica. O próprio mapa geral pode ser deslocado e ampliado, à medida do interesse d@ leitor@. Os relatos sobre o que se passa no festival são construídos de modo colaborativo. Basta postar um texto, foto ou vídeo, em qualquer espaço da internet, incluindo, como tag, “#baixocentro”. O texto é incorporado automaticamente ao site do festival.

Baixo Centro foi construído, também, graças às contribuições de centenas de pessoas, que se quotizaram com ajuda do site Catarse. Se estiver em São Paulo, venha: a excelente programação de domingo, 25/3, está aqui. Acompanhe também a distância e repare: as cidades são colonizadas porque permitimos. Inverter de todo a ordem levará tempo; mas começar, é para já!

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Um comentario para "São Paulo: começa o Festival Baixo Centro"

  1. bel falleiros disse:

    olá,
    obrigada pela divulgação dos trabalhos e projetos!
    o projeto recontru-ação sofreu uma alteração.
    será na rua lopes chaves, com uma nova proposta.
    http://programacao.baixocentro.org/#lat=-23.521898198497997&lng=-46.652605441802564&zoom=16&p=157
    obrigada,
    bel falleiros

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