Poetas botam a boca no trombone
Publicado 17/03/2016 às 19:46
Neste fim de semana, em São Paulo, um festival para tirar das sombras a vasta, diversa e rica produção poética de jovens mulheres brasileiras
A produção poética feita por mulheres é esquecida com insistência por boa parte da crítica literária, pela curadoria de festivais e antologias e, até mesmo, por poetas. Pensando nessa discrepância de tratamento, 11 poetAs de 7 cidades do país uniram-se para fazer um festival literário que lance uma lupa sobre a questão.
[eu sou poeta] é um festival literário pensado para combater a invisibilidade da produção poética de mulheres. Entretanto, acaba por ser também um momento de análise e balanço sobre esta produção.
A primeira edição de [eu sou poeta] acontecerá em São Paulo, nos dias 19 e 20 de março. E são previstas edições em diversas cidades do país com mesas, oficinas e debates que tragam questões urgentes e necessárias como lugar de fala, estética poética, inventividade, tradução, produção cultural e literária que evidencie a obra de mulheres poetas. A ideia é fazer outros eventos ainda durante este ano.
O festival foi pensado como um espaço para troca de experiências e criatividade pelas poetas Ana Rüsche, Francesca Cricelli, Jeanne Callegari, Juliana Bernardo e Karine Kelly Pereira (São Paulo); Lubi Prates (Curitiba); Jéssica Balbino (Poços de Caldas); Maíra Mendes Galvão (Brasília); Nina Rizzi (Fortaleza); Pilar Bu (Goiânia); e Renata Corrêa (Rio de Janeiro).
Serão debatidas tradução, poesia e resistência e invenção. Também haverá um clube de leitura sobre o livro “Do desejo” de Hilda Hist com Lubi Prates e Pilar Bu, e duas oficinas: “Lendo Mulheres”, a respeito da potência da poesia feminina, com Jeanne Callegari e a oficina de fanzine “as línguas e os idiomas das mulheres”, com Julia Francisca.
PROGRAMAÇÃO
Dias 19 e 20 de março
Local: Biblioteca Alceu Amoroso Lima
Rua Henrique Schaumann, 777, Pinheiros, São Paulo (SP)
Gratuita, sujeita a alteração.
19 março, sábado
10h: Oficina Lendo Mulheres: a potência da poesia feminina
Mediadora: Jeanne Callegari
30 vagas, para as primeiras pessoas que chegarem.
14h: Abertura
15h: Clube de Leitura
Mediadoras: Lubi Prates e Pilar Bu
Livro: Do desejo, Hilda Hilst
30 vagas, para as primeiras pessoas que chegarem.
16h: Tradução
Mediadora: Francesca Cricelli
Convidadas: Ana Lima Cecilio e Maurício Santana Dias.
18h: Sarau Microfone aberto
20 de março, domingo
10h: Oficina de fanzine: as línguas e os idiomas das mulheres
Oficina para mulheres conhecerem o que é fanzine e sua linguagem, aprender a publicar seus escritos com autonomia. Espaço de diálogo e troca de escritos, referências visuais e técnicas de publicação. O objetivo é reconhecer as diferentes vozes das mulheres e encontrar meios de falar com o mundo, publicar textos, etc.
Mediadora: Julia Francisca, autora da zine [nectarina]
Oficina destinada exclusivamente às mulheres, 30 vagas, para as primeiras que chegarem.
14h: Poesia é resistência?
Poesia é resistência? Essa mesa pretende discutir o lugar da poesia dentro da literatura e as formas de resistência utilizadas pelas poetas contemporâneas, como mulheres e como escritoras; como se fortalecem e criam espaços, levando em consideração também a escrita poética e outros fatores sobre resistir.
Mediadora: Juliana Bernardo
Convidadas: Geruza Zelnys, Jarid Arraes, Jenyffer Nascimento e Tula Pilar
16h: Poesia de invenção: mulheres que abrem caminhos
As mulheres raramente recebem o epíteto de “grandes” ou “geniais”, e dificilmente estão associadas a inovações e subversões formais, de estrutura, de poéticas. De modo geral, os próprios critérios para se definir o que é invenção são masculinos e ligados ao cânone. Essa mesa pretende trazer poetas com estéticas inovadoras para discutir e lembrar invenções feitas por mulheres ao longo da história, e também questionar: o que é invenção? O que é inovação? Como ter critérios que façam jus a formas literárias que nem aparecem no cânone?
Mediadora: Maíra Mendes Galvão
Convidadas: Fabiana Faleiros, Luísa Nóbrega, Dirceu Villa e Julia Mendes.
18h: Microfone aberto
19h: Encerramento: abraço geral
Gostei muito da ideia de criar um espaço literário para as mulheres poetas(ou não). Acho importante, fundamental mesmo, acabar com a ideia de que somos um “sexo frágil”, incapazes de criar, sem autonomia. Também acho importante acabarmos com aquela ideia de que a poesia é feita apenas pra sonhar, que a vida é um mar de rosas, que tudo são flores. A realidade, não apenas a das mulheres, é cheia de atropelos, adversidades, dores e contradições. Temos um papel importante a desempenhar na sociedade. É hora de rasgarmos o verbo, descerrar as cortinas do obscurantismo, de dizer à sociedade na qual vivemos, o que estamos fazendo aqui. É isso.
Gostaria, se possível, de acompanhar o trabalho de vocês.
Obrigada, Carmem