Madri, cidade okupada

Casa okupada Casablanca

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Após grandes mobilizações de 2011, capital da Espanha vive onda de ocupação de imóveis para cultura e arte. Seria exemplo para o Brasil?

Por Gabriela Leite

Cada vez mais difundidas nas grandes cidades do mundo, as novas formas de convívio que valorizam compartilhamento e igualdade – e rejeitam competição e hierarquias rígidas – estão assumindo características particulares em Madri. Para realizar atividades culturais e artísticas, e trabalhar em comunidade, grupos de jovens estão ocupando prédios inteiros. Neles, multiplicam-se shows, troca de saberes por meio de oficinas e cursos constantes, apresentações de teatro, produção independente de mídia na forma de sites e documentários. As decisões sobre o uso do espaço são tomadas em assembleias.

Num artigo recente para a revista norte-americana The Nation, a jornalista Julia Ramirez Blanco conta que já há trinta ocupações deste tipo na capital espanhola – onde são um fenômeno relativamente recente. Trata-se de uma variação dos antigos squats, que surgiram em diversas cidades europeias a partir do final dos anos 1960. Invasões irregulares de prédios abandonados, destinavam-se principalmente a assegurar moradia coletiva, embora o papel de espaço cultural também existisse. Espalhados por muitas capitais europeias, chegaram à Espanha nos anos 70, principalmente a Barcelona. Lá, passaram a ser chamados okupas.

Julia Ramirez explica que os novos tipos de ocupação, em Madri, surgiram após dois fatos marcantes. Uma mudança na legislação penal, de 1995, passou a aplicar multas diárias contra os squats que servissem como moradia. Isso os retraiu fortemente. A restrição estimulou a multiplicação de um tipo de ocupação não proibido: os centros cuturais, ou centros sociales okupados.

Em 2011, os grandes movimentos de Indignados ocuparam as praças públicas da Espanha, lutando por novas formas democracia. Muitos dos jovens dos squats estavam fortemente envolvidos nas manifestações e acampamentos. Estes seguiam a mesma lógica horizontal e de formação de grupos de trabalho, como acontece nos imóveis ocupados.

Quando as barracas foram desarmadas na Puerta del Sol, as reuniões e grupos de trabalho moveram-se para as okupas, que ganharam nova força, além de herdarem também recursos como as bibliotecas e o arquivo de cartazes produzidos durante o movimento. Criaram também novas squats, onde a luta pela democracia desdobrou-se, no momento, em produção cultural e artística questionadora de velhos valores.

Entre as experiências de okupas em Madri, estão algumas muito interessantes. Uma delas é a Kairós, que tomou conta de uma livraria que deixou de funcionar na Universidade Autônoma de Madri, e abriga aulas livres de professores do campus. Em La Morada, filmes são exibidos semanalmente, e a escolha deles é feita em assembleia. A Patio Maravillas tem paredes com grafites e stêncils particularmente interessantes, e apesar de ter sido desalojada em 2010, logo ocupou outro prédio no mesmo bairro e criou o slogan: “para cada expulsão, outra okupa!”.

Talvez o exemplo madrilenho diga algo aos jovens das grandes cidades brasileiras. Aqui, surgiram nos últimos anos centenas de “coletivos”. Produzem eventos, arte, limpam as ruas, fazem festas, reciclam, discutem a ocupação das cidades, plantam hortas em praças públicas, lutam por formas alternativas de transporte e promovem uma grande variedade de atividades expressam novas formas de viver. Seria interessante vê-los ocupando prédios e multiplicando arte, em metrópoles onde sobram tantos imóveis vazios, e faltam tantas opções culturais…

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3 comentários para "Madri, cidade okupada"

  1. Kairós Uam disse:

    muito obrigado para o nome nos!
    squat o mundo!

  2. Val Frei disse:

    E ai Angela Diana, o que acha de ocuparmos aquela galeria do itaú. ehehehehehe.

  3. As cidades precisam de rebeldia senão morrem.

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