Gaza: o que dificulta a trégua

Netanyahu, o premiê de Israel: exigências leoninas

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Nas negociações iniciadas esta semana, Israel continua fazendo exigências típicas de poder colonizador

Por Andressa Pellanda

Uma oportunidade de trégua surgiu no Oriente Médio, depois de sete dias de ataques de Israel contra a população da Faixa de Gaza, respondidos por disparos esporádicos de foguetes, por grupos de palestinos ainda não precisamente identificados. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon e o ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle envolveram-se nas negociações. A Casa Branca declarou que manterá três encontros – com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém; com as autoridades palestinas em Ramallah; e com líderes egípcios, no Cairo.

É improvável, no entanto, que muitas das exigências feitas por Israel e pelo Hamas sejam aceitas pelas contrapartes. O grupo islâmico reivindica o fim das medidas que transformam Gaza numa grande prisão. Quer remoção do bloqueio naval sobre a área, abertura da fronteira com Israel e garantias internacionais de que Telaviv irá interromper o assassinato de seus dirigentes. Já as “exigências” de Israel revelam que seu governo está interessado em manter Gaza como colônia humilhada. Incluem compromisso de cessar-fogo permanente (quando Israel rompeu há dias uma trégua que vigorou por muitos meses); promessa egípcia de não permitir a entrada de armas em Gaza (enquanto Telaviv arma-se inecesantemente) e garantia de que os membros do Hamas mantenham-se distantes 500 metros da fronteira com Israel (perdendo, portanto, o direito de se locomoverem livremente em seu próprio território.

Em entrevista coletiva no Cairo, ontem, o principal dirigentes do Hamas, Khaled Meshaal, declarou que os resultados da empreitada de Israel custarão a reeleição ou não do primeiro ministro israelense. “É por isso que ele está hesitante e clamando respaldo internacional do Egito e da Turquia para pressionar o Hamas; mas a resistência não teme suas armas”, afirmou.

Antecipadas em nove meses, por iniciativa do próprio primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, as eleições estão previstas para janeiro de 2013. As imagens de propaganda do exército israelense divulgadas nos últimos dias sugerem que Meshaal pode estar certo. No dia 14, início dos ataques contra Gaza, publicou-se uma foto de Ahmed Jabari, líder militar do Hamas, que havia sido assassinado por um míssil de Israel. No mesmo dia e nos dias subsequentes, as imagens alertavam para a “ameaça dos morteiros do Hamas

A propaganda dá continuidade a uma escalada de medo, que já vinha sendo alimentado desde agosto, quando afirmou-se que a população israelense seria alvo do Hamas. O grupo, que tem armamento ultrapassado e obsoleto, não é capaz de atingir alvos precisos – ao contrário do que Israel revelou, no ataque a Jabari. Apesar disso, já são mais de 100 civis palestinos mortos, sendo 27 crianças, contra três israelenses.

Histórico de conflitos

A maioria dos mais de 1,5 milhões dos residentes na Faixa de Gaza são refugiados palestinos (e seus descendentes) que foram empurrados para a área, superpovoada, após a criação de Israel em 1948. A população de Gaza não tem direito à cidadania, está sob cerco e não pode deixar o território, diferentemente do que ocorre com os palestinos residentes em outras partes de Israel.

Operação Coluna de Nuvem, ou Pilar Defensivo, conduzida pelas Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza, começouna quarta-feira passada, 14, quando o militante Ahmed Jabari, foi assassinado por um míssil israelense disparado de um caça F-16 contra o carro em que ele viajava com seu filho. Em resposta, grupos de Gaza lançaram, nos quatro dias seguintes, 737 foguetes e morteiros contra Israel.

No mesmo dia, os EUA publicaram um pronunciamento através da página do Departamento de Estado, condenando o lançamento dos morteiros por Gaza e apoiando o direito “de defesa” de Israel. Canadá e Noruega também se posicionaram a favor de Israel. No dia seguinte, foi a vez de Reino Unido e Alemanha declararem apoio aos israelenses. China e França expressaram preocupação com vítimas civis. Por outro lado, Marrocos, Líbano, Sudão, Irã, Egito, Paquistão, Rússia e Turquia condenaram as ações israelenses, em apoio a Gaza.

Desproporção de forças

De Teerã, o Hamas recebeu os chamados Fajr-5, foguetes capazes de atingir alvos a até 75 km de distância, os melhores que possuem. Um deles caiu perto de um assentamento judaico ao sul de Jerusalém, sem deixar feridos, mas foi suficiente para acionar as sirenes de emergência na cidade, que não é atingida por um foguete desde 1970. Além disso, possui morteiros pesados, que no entanto alcançam apenas 9,7 km; foguetes Qassam, que chegam a 17,7 km; foguetes Grad, atingindo 20 km; e foguetes Upgrade Grad, com alcance de 48 km. Nenhum desses mísseis possui precisão.

Israel, que conta com um dos mais bem preparados exércitos do mundo, realizou o Austere Challange 2012, seu maior treinamento militar conjunto com os EUA, no último mês. Durante o exercício, foram testados os sistemas antimísseis Iron Dome e Arrow 2, já utilizados na defesa contra os ataques de Gaza. O orçamento militar israelense no ano passado correspondeu a 7% do PIB, tendo-se investido fortemente em tecnologia. Os principais jatos de combate israelenses são os caças F-15l, que têm a capacidade de superar os 3 mil km/h em altas atitudes e 1,482 km/h em baixas altitudes. São capazes de carregar até 11 t, sendo equipados com vários mísseis ar-superfície e bombas teleguiadas. Clique aqui e conheça mais do arsenal militar israelense.

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