Cordão contra o despejo do acervo do Teatro Oficina

Em plena pandemia, casa utilizada para produção e acervo do material, que compõe os 62 anos da cia, sofre ordem súbita de desocupação. Campanha chama à solidariedade pela preservação da história, e apoio à continuidade da pulsão teatral

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Amigxs amadxs, artistas, cientistas, historiadorxs, operários da cultura brasileira, companheirxs de vida e de teatro, todas as nossas alianças adoradas! Precisamos que essa notícia, que té também um chamado, um clamor! se espalhe! E que esse fio chegue às pontas que têm força para nos socorrer neste momento!

No último domingo (21) de junho, tivemos que desocupar às pressas a casa de acervo e produção da Companhia, na rua Major Diogo, no Bixiga, mais um efeito do avanço da especulação imobiliária agressiva que corrói, neste momento pandêmico, São Paulo e que tenta corroer já há muitos anos o nosso amado Bixiga. Estávamos há mais de 15 anos no espaço, que, além de ser a nossa casa de produção, guardava grande parte do acervo dos quase 62 anos de existência da companhia. Em estado de emergência, realocamos tudo dentro do teatro, na rua Jaceguai 520, que não comporta todo o acervo com os cuidados necessários, nem com espaços destinados para a devida preservação de todo  material.

A Cia foi avisada de susto que o prédio, um casario antigo, característico do conjunto arquitetônico do bairro, havia sido vendido para ser demolido por um mega empreendimento.

ACERVO DESPEJADO

Material gráfico e audiovisual de peças, fitas cassetes, registros históricos, documentos, cartazes-relíquias de montagens, figurinos… entre outras preciosidades, como obras de arte de Surubim Feliciano da Paixão, que já foram expostas no Memorial da Resistência (da Pinacoteca); peças de roupa de Lina Bo Bardi, doadas por sua irmã Graziela; materiais de espetáculos, roteiros, cadernos de artistas da cia, cadernos de Zé. todo esse acervo está agora em situação precária e sem perspectivas de cuidado, preservação e o restauro necessários – restauro pelo qual muitas peças, material audiovisual e documentos já precisavam passar e no entanto até hoje não tivemos condições financeiras pra isso. Grande parte da história do Teat(r)o Oficina, que é também a história de reexistência do teatro nacional, da cultura e da arte nacional, está ameaçada.

Fazemos um clamor às instituições culturais, de acervo, para que não permitam esse choque séptico no corpo da memória-viva do Teat(r)o Oficina.

PANDEMIA

Desde março o Teat(r)o Oficina está com as portas fechadas para conter, como tantos outros espaços culturais, a curva de contágio e o avanço violento da pandemia no país, e particularmente em São Paulo. Nossa situação financeira se agravou intensamente com a suspensão das peças que estavam em cartaz: “Roda Viva”, que vinha de um contínuo sucesso de bilheteria, e “O Bailado do Deus Morto”, de Flávio de Carvalho, que iniciava sua temporada no Oficina.

O momento é de grande fragilidade para a companhia. A campanha “Proteja O Teat(r)o Oficina” é uma invenção do chamado pelas alianças, pelo fortalecimento do cordão dourado de amigxs e apoiadorxs que desejam, como nós, manter este trabalho vivo. Divulgada nas redes da companhia, a campanha é focada no chamado às doações diretas via pic pay e depósito em conta do teatro; há também a possibilidade de colaboração na benfeitoria permanente, com doações mensais e recorrentes, e ainda à venda de ingressos solidários. Todas acessíveis aqui.

Estamos em movimento pela preservação do trabalho da companhia e seus mais de 60 artistas-atuadorxs, e para isso, precisamos de alianças fecundas para manter nosso pulso forte e aceso.

Por isso, é muito importante que o movimento pela preservação do acervo seja abraçado pela sociedade e pelas instituições culturais do país que se sentirem chamadas, ele faz parte da campanha #ProtejaOTeatroOficina que precisa agora dar um salto para que Instituições, Movimentos e Organizações irmãs somem-se à essa rede de solidariedade vital com a mais antiga companhia de teatro em atividade contínua no país. Façam esse chamado chegar às Instituições culturais do país que têm em seu cerne a faísca da preservação da nossa história, da nossa arte, da nossa cultura. É preciso cuidar do Oficina agora para que tenhamos futuro

Atravessamos momentos de grande turbulência ao longo da nossa história e não paramos. Temos no corpo, e no corpo forjado no fogo do teatro, as sabedorias ancestrais, as tecnologias de sobrevivência e os recuos sertanejos como estratégias vitais. Agora estamos de novo no olho do furacão. Sabemos, na nossa corrente sanguínea, que o teatro é uma força de vida capaz de atravessar todas as tragédias e combater todas as pestes, mas ela só vinga se for coletiva! O teatro é a arte do poder das presenças, da multidão, dos coros, na ágora, no centro da terra, no meio das florestas, no agora e aqui. É uma feitiçaria que tem grande poder, e para ativá-lo é preciso cuidar dos ritos. Hoje, mais do que nunca, lutar-junto é fazer juntos uma grandiosa cena teatral.

PULSÃO TEATRAL

O Teat(r)o Oficina está em cena nas lives, ligadas ao movimento da 4ª  dentição da Universidade Antropófaga (prática de troca e transmissão de conhecimentos da companhia), ocupando uma programação semanal no instagram do Oficina Uzyna Uzona e também no fortalecimento das lives realizadas pelo Parque Do Bixiga em Movimento, que acontecem no facebook do parque e ficam disponíveis no canal do youtube do movimento.

Nosso pulso teatral está quente e a todo vapor também com a Tv Uzyna, que tem uma programação gigante de peças, documentários, entrevistas e faz também transmissões ao vivo para vivermos os espetáculos junto ao público. Nesse momento Macumba Antropófaga está sendo montada para entrar no ar, será uma transmissão-acontecimento para arrecadar fundos para o Teat(r)o. A Rádio Uzona foi inaugurada, com o lançamento do podcast “Pra Dar Um Fim No Juízo De Deus”, devoração de Marcelo Drummond a partir da peça radiofônica de Antonin Artaud, e vem mais por aí! Estamos ensaiando “Paranoia”, de Roberto Piva, com Marcelo Drummond e “ O Bailado Do Deus Morto”, ambos para transmissão online. a Universidade Antropófaga em breve abrirá chamada para sua 4ª dentição, que tem como bússola vital o pulso teatral das multi linguagens do Oficina e a devoração de uma dramaturgia em comum. Camila Mota também abre os trabalhos com ensaios de dramaturgia e imagiário para Mutação de Apoteose, com devoração de “A Gaivota” de Tchecov (1860 — 1904), “Os Sertões” de Euclides da Cunha (1866 — 1909)  e de nós, agora aqui, com “Notícias do Centro da Terra”, conto de ficção kósmica de Cafira Zoé.

Com tudo isso, com toda nossa força, nossa história, nossa linguagem, não podemos deixar que a força vital do Oficina enfraqueça. Somos uma flecha de liberdade e vida neste brasil pandêmico, junto a tantas outras, fundadoras de um brasil que não vai se apagar! Lute ao lado do teat(r)o oficina nesse momento! Como canta nossa adorada verde-rosa:

 na luta é que a gente se encontra.

SÓ SE EXISTE EM ATO

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