"Como nossos pais": otimismo de bicicleta

171011_como nossos pais

.

Mulher e mãe da classe média branca, com um marido que até a ajuda quando ela pede. Para o crítico, o filme de Laís Bodanzky expressa “um certo otimismo duro”, que foge da “falsa libertação”

Por Airton Paschoa
O filme da Laís Bodanzky é bom retrato de certa condição feminina moderna. Mãe de duas filhas em idade escolar, ralando em casa e fora, a protagonista leva vida de classe média remediada, vida rasteira, como toda vida, sem nada de excepcional, mas o retrato é sensível, fugindo dos clichês.
O marido, por exemplo, é um cara legal, ajuda-a quando pede, diverte-se com as filhas, abre mão do futebol semanal com os amigos, um cara legal, mas… marido, e toda mulher sabe o que é isso.
Ponto louvável do filme é se concentrar na condição feminina, de cuja dureza extrai até otimismo, desde o momento que compreende ela que sua condição de mãe e mulher não muda, tendo o marido um caso com a amiga ou não, tendo ela um caso com o amigo ou não, outro cara legal, outro marido, enfim, separando-se ou não.
A irresolução do filme acerca de tais desdobramentos, que seria de norma resolver em qualquer bom roteiro, a suspensão em que fica o espectador, numa palavra, está apenas a indicar que nada disso interessa de fato, que nada disso alteraria a condição feminina, coisa que, pr’além de resignação, conforma certo otimismo duro, o único possível para as nossas mulheres.
Podemos chamá-lo, inspirado no último quadro do filme, a esse otimismo duro, a esse otimismo possível, a esse otimismo pedestre, de otimismo de bicicleta. Sim, não se trata de cabelos ao vento, de otimismo de moto, mas não se trata também, e viva o filme! de falsa libertação.
Leia Também:

Um comentario para ""Como nossos pais": otimismo de bicicleta"

  1. Dagmar Zibas disse:

    Esse filme é superestimado. Cheio de clichês e de “forçação” de barra. Imagine que a protagonista precisa discursar em passeio na praia sobre a condição feminina. Isso não é cinema. As teses da diretora precisam ser defendidas com discurso? E a menina lésbica? Introduzida gratuitamente na trama. Situaçaõ totalmente artificial para se discutir uma bandeira. E o pai, totalmente babaca, sendo sustentado por mulheres inteligentes e sofisticadas? Só para traçar mais um perfil de homem babaca? O único item feminista que é bem trabalhado cinematograficamente é aquele em que a protagonista tira a blusa na rua, marcando um preconceito social, sem necessidade de fazer um discurso.

Os comentários estão desabilitados.