Atenas: a resistível ascensão do nazismo

Desfile nazista em Atenas, em março. Milicianos atacam imigrantes albaneses, e propõem fechar a fronteira com minas antipessoais

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Às vésperas do pleito, partidos tradicionais temem sair às ruas. Esquerda divide-se. No berço da democracia, emergem os fascistas

Desde que a Grécia livrou-se de uma ditadura militar sangrenta (em 1974), a política institucional seguia os padrões ocidentais ordinários. Dois partidos alternavam-se no poder: o socialista (Pasok), de centro-esquerda, e a Nova Democracia (AD), conservadora. Ainda que suas políticas fossem próximas, mantinham forte rivalidade, sem jamais coabitar um governo.

Embora importantes, os comunistas não chegaram a ultrapassar a barreira dos 15% do eleitorado. Uma direita nacionalista, formada em 2000 (o LAOS) chegou ao Parlamento pela primeira vez em 2009, ao alcançar, 5,3% dos votos. E uma ultra-direita de clara inspiração nazista, o Alvorecer Dourado, foi sempre desprezível, jamais chegando (até 2010) a 1% do eleitorado. Este quadro foi violentamente sacudido, nos dois anos de imposição da “austeridade” pela chamada troika — Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Nas eleições parlamentares do próximo domingo, a única perspectiva visível, até o momento, são caos e ingovernabilidade.Desde 2009, a Grécia é pressionada a reduzir investimento público e cortar direitos sociais. Em novembro do ano passado, a troika foi além. O primeiro-ministro George Papandreou (do Pasok) sugeriu um plebiscito, para que a sociedade pudesse manter ou revogar as políticas em curso — que incluem redução do salário mínimo, demissão de dezenas de milhares de servidores, privatização selvagem (até mesmo dos espaços públicos, nas cidades) e eliminação de benefícios previdenciários. A proposta foi rechaçada com virulência pelos mercados financeiros e pelos governantes europeus — liderados pela alemã Angela Merkel e o francês Nicolas Sarkozy. Consultar a sociedade, alertou-se, significaria excluir o país do euro e, possivelmente, da União Europeia.

Colocados contra a parede, Pasok e AD cederam. Aceitaram manter e aprofundar a “austeridade”, Juntos, formaram um novo ministério — chefiado, porém, por Lucas Papademos, um ex-alto funcionário do banco norte-americano Goldman Sachs, jamais submetido a voto popular, confiável apenas aos olhos da troika. 

A popularidade dos dois partidos desabou. Antes, cada um deles foi capaz de formar um governo majoritário, bastando adesões secundárias, de pequenos partidos. Agora, as sondagens indicam que, juntos, não serão capazes de reunir 40% dos votos. Seu desprestígio é tão profundo que os obrigou a uma campanha bizarra. Nenhum deles realizou, até o momento, um único comício. Temem a revolta popular. Para angariar votos, confiam apenas na máquina do Estado e em seu clientelismo.

Contrária aos cortes de direitos, a esquerda cresceu. As três correntes que hoje a compõem: Partido Comunista (KKE), Esquerda Radical (Syriza) e Esquerda Democrática deverão obter, juntas, cerca de 30% dos votos. Poderiam ser maioria, caso se unissem e entabulassem algum acordo com o Pasok. Mas são incapazes de fazê-lo. O KKE julga-se portador de uma verdade revolucionária que poderia ser manchada, caso se alisasse com forças impuras. O Syriza incomoda-se com a Esquerda Democrática, surgida de uma dissidência em seu seio. A Esquerda Democrática teme que KKE e Syriza sejam demasiado radicais…

Esta febre de egos acabou abrindo espaço para a antes minúscula ultra-direita. Os militantes do Alvorecer Dourado têm como símbolo uma cruz que pouco se diferencia da suástica. Como saudação, erguem o braço direito, a la Hitler e Mussolini. Propõem prender todos os estrangeiros e cercar o território do país com minas. Cultivam um discurso de ódio, segundo o qual todos os adversários são aproveitadores e suspeitos. Falam em “limpar o país” — de políticos, imigrantes e vícios… Segundo grupos em defesa dos direitos humanos, praticam, desde já, espancamentos e agressões.

Para tentar viabilizar-se, desenvolveram  importantes habilidades. Também condenam as políticas da troika (em nome do orgulho nacional ferido). Montaram brigadas de militantes que protegem os idosos de assaltos, quando estes vão aos bancos buscar os recursos minguados da aposentadoria. Devem obter em torno de 10% dos votos — algo fantástico, para uma força política que, até as políticas de “austeridade” era marginalizada, com justiça, pela esmagadora maioria dos gregos.

As perguntas que surgem inevitavelmente do prognóstico são: a troika estará levando a Europa a uma polarização que favorece a ultra-direita, numa reedição exata do cenário que levou ao nazismo? A esquerda será incapaz de aprender com o passado?

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3 comentários para "Atenas: a resistível ascensão do nazismo"

  1. É, Antonio, tolerância, convivência, etc., são termos e atitudes para tempos de bonança, mas não para tempos de tempestade. De modo geral pessoas querem resultados (em suas vidas), e não se mostram muito interessadas em ideologias. Como alternâncias se dão por meio dos votos, leva a taça quem vai bem, ou os que se apresentam como esperança de dias melhores. Isso tem um caráter quase atávico.
    Abraço

  2. Ricardo disse:

    Atenção site Diplo!!! Coloquem uma foto correta!!! Esta é uma parada militar do exército grego.

  3. Nelson disse:

    Prezados Srs.
    A foto acima está errada. Ela se refere a parada do aniversário grego de 25/3 e é de um comando do exército grego.
    Atenciosamente, Nelson

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