A nova topologia da exploração

Na obra “O Capital Está Morto”, McKenzie Wark expõe como as tecnologias moldaram novas classes e propõe um olhar atualizado e ampliado sobre as novas formas de produção da exploração. Sorteamos 1 exemplar

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A palavra burguesia evoca que imagem em sua mente? Talvez, a imagem que venha seja a do clássico “homem de colarinho branco” ou até mesmo o velhinho do jogo Monopoly, de fraque, cartola e bengala. Todavia, será que esse imaginário representa os exploradores de nosso tempo?

São essas perguntas que McKenzie Wark, nos faz em seu livro O Capital Está Morto. Publicada em 2019, a obra foi traduzida e lançada para o público do Brasil em 2022 pelas editoras sobinfluencia e Funilaria

Através de sua escrita descomplicada e envolvente, a autora de “O Manifesto Hacker” (2004), nos faz um convite a repensar e atualizar as categorias de classe para enfrentar a exploração contemporânea, que, para ela, pode ser algo muito pior do que os velhos processos que compreendemos por capitalismo. 

Outras Palavras e sobinfluencia edições sortearão 1 exemplar de O Capital Está Morto, de McKenzie Wark, entre quem apoia o nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e serão aceitas inscrições atésegunda-feira do dia 3/7, às 14h.

Na esteira de muitos dos atuais debates, Wark defende que a informação é a nova moeda de troca. Sem negar as categorias de análise marxistas e partindo do olhar da economia política da informação, ela propõe uma classificação que abarque os novos tipos de exploradores e explorados de nossa era: os vetorialistas e os hackers.

Em seu livro, Wark explica que a classe vetorialista é a que “possui e controla o vetor”. Para ela, vetor é “algo que molda o mundo de uma maneira particular, mas que também pode moldar diferentes aspectos do mundo”. As informações, que são constantemente coletadas nas mídias digitais, estariam na estrutura desse vetor. Ao mesmo tempo que esse vetor é feito de informação, ele a transporta. Na era em que aplicativos de celular – que são constituídos desses vetores – coletam dados e os transformam em uma moeda valiosa, é um divisor de águas “ter a propriedade do vetor” e “os protocolos legais e técnicos” desses dados e informações. Esse, por exemplo, é o debate da “propriedade intelectual”.

Mas e os hackers? Bom, os hackers estão do lado dos explorados, ou seja, dos que produzem. Somos nós, que lemos e escrevemos, como jornalistas, publicitários, designers, artistas, até mesmo professores; são também os trabalhadores da tecnologia, que empreendem novas linguagens de programação e técnicas digitais (que vão desde coletar dados em si até habilitar um novo filtro no Instagram – que pode ser apenas um protótipo de alguma nova tecnologia de vigilância). Esse tipo de profissional também é chamado de “criativo”. Essa classe, que teoricamente tem formação, capacidade e habilidade técnica, tempos atrás se achava “imune” da exploração e até mesmo superior em relação às outras classes exploradas. Um pouco como pareciam ser os publicitários de Mad Men, que nos idos dos anos 1960 eram os criativos da “era de ouro da publicidade” – a autora, aliás, não se furta de citar a série várias vezes no decorrer do texto. Porém, nos novos moldes da exploração, nossa mão de obra também tem sido cada vez mais capturada e precarizada.

Além disso, Wark defende que a busca por lucros tem alcançado níveis cada vez mais abstratos, desde a produção do material à sua captação. Com isso, estamos sujeitos a um processo muito mais voraz do que o velho capitalismo. Nesse sentido, “não há nada que não possa ser marcado e capturado por meio de informações e considerado uma variável nas simulações que impulsionam a extração e processamento de recursos”. Em outras palavras, tudo pode ser commodity. Enxergamos esse processo na financeirização do cotidiano empreitada pelos aplicativos de celular que constantemente coletam e transformam os rastros das nossas vidas em dados – produtos de alto valor monetário.

“Agora, a mercantilização só pode canibalizar seus próprios meios de existência, tanto naturais, quanto sociais”

As tecnologias capazes de controlar toda essa informação estão sob o jugo da classe vetorialista, que não se configura como a classe latifundiária ou a industrial. Até porque ter os meios de produção não é suficiente nesse processo, e por isso até mesmo a velha classe capitalista é cativa dos vetorialistas. É deles o domínio das técnicas para gerir os algoritmos, para fazer o marketing digital, definir o perfil de consumo, o alvo e a estratégia nas redes sociais.

No entanto, longe de ter um olhar determinista sobre o futuro da classe dos explorados, a autora faz um chamado à classe dos hackers. Um apelo à politização e à organização, não mais das nossas informações, mas dos mais diversos estratos da nossa classe trabalhadora. Nesse sentido, também é nossa responsabilidade a produção de saídas para esse cenário. Hackers, uni-vos!


Em parceria com a sobinfluencia edições, Outras Palavras irá sortear 1 exemplar de O Capital Está Morto, de McKenzie Wark, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 3/7, às 14h. Membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso! 

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