A crítica elétrica de Amiri Baraka

Editora Sobinfluencia resgata escritos de uma das figuras mais influentes do movimento beat e black power. Obra retrata florescer do movimento que aprofundou as expressões culturais afro-americanas: o free jazz. Sorteamos 1 exemplar e 1 pôster

Baraka na Convenção Política Nacional Negra, em 1972. Fonte: Gary Settle/The New York Times
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Autor de inúmeras críticas musicais, ensaios, peças e poesias, Amiri Baraka é o homenageado de hoje em nossa série de matérias para o mês da consciência negra.

Integrante do movimento beat nos anos 50 e, futuramente, um dos líderes do movimento contracultral black power, o poeta jamais silenciou diante do racismo e esteve em palanques e manifestações pela libertação do povo negro, chegando a ser considerado o Malcom X da literatura – clamando a revolução através da poesia.

A crítica o chama de incandescente e incendiário, a comunidade afro-americana o compara a James Baldwin e o reconhece como um dos mais respeitados escritores negros de sua geração. Além disso, suas obras também figuram como as mais amplamente publicadas entre os de sua época.

Com seu pé na tradição oral e sua proximidade com a linguagem crua das ruas, alguns dizem que Baraka, com sua jazz poetry, é um dos precursores do rap, do hip-hop e do slam – uma batalha de rimas e poesias, lembrando as batalhas de MC’s, porém, com poesia.

Esse ano – após 50 anos de seu único lançamento no Brasil – , a sobinfluencia edições lançou a obra Black Music: free jazz e consciência negra (1959-1967), um compilado de escritos de Baraka, que através de uma linguagem elétrica e furiosa, reflete a liberdade de improvisação do free jazz.

Outras Palavras e sobinfluencia edições sortearão 1 combo [Livro+Pôster] de Black Music: free jazz e consciência negra (1959-1967), de LeRoi Jones (Amiri Baraka), entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Traduzidos pelo poeta e tradutor André Capilé, os textos deixam explícito que tal expressão musical “só pode ser compreendida como parte de um conjunto de experiências, que ao longo do século XX, moldaram uma nova consciência do que significava ser negro nos Estados Unidos.”

Rodrigo Correa, Fabiana Gibim e Alex Peguinelli, time que coordena a sobinfluencia edições, contam que: “Neste livro, o leitor sedento por teoria encontra uma poética radicalizada; o leitor que busca poesia encontra o cano fumegante de uma crítica refinada, selvagem e elaborada. Este livro não é um só, é uma arca navegante, onde remam os espíritos da Grande Música Preta e nós somos convidados a escutar os cochichos de suas antigas histórias de luta”.

Nathalia Grilo, pesquisadora e curadora que assina o prefácio da edição afirma que os estudos de Baraka “sobre música negra o levam a ser considerado a primeira pessoa negra a elaborar uma séria pesquisa e análises seminais dentro dessa área. Suas investigações trouxeram uma compreensão inovadora na época, de que a história dos negros americanos poderia ser rastreada através da evolução de sua música. Baraka carrega uma intensa radicalidade em seu pensamento e atesta os efeitos que a música negra teve na América, em termos econômicos, culturais e sociais, desenhando ideias que apresentam por exemplo os ‘africanismos’ em relação direta com a formação da cultura americana”.

Para o poeta André Capilé, a edição “pode ser tornar mais um elemento do repositório teórico da crítica na diáspora e, com alguma sorte, reorientar algumas tomadas de posição diante dos objetos de arte, a ver se em modos mais radicais, em seu sentido mesmo de ir à raiz dos fenômenos”.

Infelizmente, Baraka praticamente não foi publicado no Brasil. Apenas um de seus títulos chegou a ser lançado, Blues People – Black Music in White America, com o nome de O Jazz e Sua Influência na Cultura Americana. A edição é de 1963, sem segunda impressão.

Baraka e a Black Music

O free jazz foi um movimento que se deu pelo aprofundamento das inovações sonoras do bebop e recuperação do jazz. Os dois de profunda raiz nas experiências negras. O jazz, já muito conhecido, e o bebop, uma melodia cheia de pequenas notas inspiradas no som das centenas de martelos que batiam no metal das construções das ferrovias americanas, amplamente habitadas por trabalhadores negros.

Baraka, que originalmente chamava-se LeRoi Jones, ficou conhecido como um dos principais nomes no Black Arts Movement, ao longo dos anos 1960 e 1970, buscando aplicar ficção, poesia, drama e outras expressões do movimento na luta política e sua presença na cena literária internacional foi duradoura, sendo impossível ignorá-lo.

Nathalia Grilo afirma que “Baraka dedicou sua vida ao desenvolvimento de considerações filosóficas e práticas artísticas negras, buscando encorajar os teóricos, educadores e músicos, ou seja, toda a comunidade que orbita o mercado da música, a conceber o jazz, o blues, entre outros, como elementos que conferem autoridade a cultura estadunidense. Seus esforços em examinar e estabelecer novas teorias da arte negra, tendo a música como fio condutor de seus estudos, resultaram em uma pressão pelo reconhecimento das complexidades e profundidades do contexto estético que rege essa música. Ele inaugura um tipo de crítica musical que vai trazer dignidade às produções negras, justamente porque ele mesmo é fruto dessas tradições. Por isso suas elaborações apresentavam angulações que escapavam ao crítico branco. Os ensaios escritos por Baraka transformaram uma tradição extremamente elitista, racista e cafona em um campo de produções documentais belas e sensíveis sobre a música negra”.

Seu papel cultural, político e social é lembrado até os dias de hoje. Suas visões e críticas culturais foram muito influentes dentro da música negra. Sendo assim, o que conhecemos hoje como Black Music, em algum ponto, tem o dedo do crítico.

Trajetória

A vida de Baraka tem momentos controversos, mas sempre de muita ação política. O começo de sua carreira foi marcado pelo movimento beatnik; já nos anos intermediários de sua vida, ele chegou a ser nacionalista negro e, mais tarde, tornou-se marxista.

O escritor já chegou a servir à Força Aérea. Em 1985, ele contou à revista Essence que essa foi “a pior época de sua vida”, porque, como ele afirma, “estava sob a jurisdição direta de pessoas que odiavam pessoas negras”, além do fato de se sentir “desconectado de sua família e amigos”. 

O interessante desse momento de sua vida é que, aproveitando a biblioteca da base de Porto Rico – onde serviu – e os longos períodos de solidão – e miséria –, Baraka leu muitos livros que jamais teve acesso antes. Literatura, filosofia e história da esquerda passaram a fazer parte de seu repertório. 

Três anos depois, ele foi dispensado “desonrosamente” por suspeitarem que fosse comunista, devido às suas leituras. Mais tarde, Baraka comenta que a ironia é que realmente se tornou comunista, no entanto, apenas muito tempo depois.

Ao deixar a força aérea, o jovem LeRoy se mudou para Nova York, onde começou um trabalho editorial na revista independente de música, dedicada à repercussão do jazz, The Record Changer. Além disso, passou a morar em meio aos poetas Beats, em Greenwich Village.

Nessa época, ele se considerava um escritor um tanto apolítico, que assim como muitos beats, concentrava sua poesia no aspecto mais introspectivo.

Porém, foi quando viajou à Cuba que se radicalizou. Por conta de uma conferência internacional de escritores do terceiro mundo, Baraka, à época ainda LeRoy, viajou à ilha em 1960, no começo da administração de Fidel Castro. Após essa viagem, de acordo com suas palavras, ele passou a acreditar – e pregar – que arte e política deveriam ser inseparáveis, influenciando milhares de escritores ao redor do globo.

A morte de Malcolm X também repercutiu em sua decisão, sendo um divisor de águas em sua vida, já que depois desse fato, renunciou à sua vida anterior, passando a assinar como Amiri Baraka.

Sua consciência política logo começou a se demonstrar de maneira mais afiada em seus escritos. Em 1956, publicou o primeiro trabalho que viria a se tornar famoso, o Blues People, um longo escrito acerca do blues e do free jazz, a partir de um panorama sócio histórico. O livro é considerado a primeira grande história da música negra.

Já no fim dos anos 1960, criou o selo Jihad Productions, através do qual saíram gravações de músicos como Sun Ra e Sunny Murray.

Em 1970, o poeta ajudou a organizar a National Black Political Convention e fundou o Congresso dos Povos Africanos. Sua voz foi ouvida por muitas pessoas em incontáveis discursos, sendo lembrado como um “fascinante orador”. Baraka também lecionou em muitas universidades e reivindicava o ensino de arte e história negra.

Foi nomeado Poeta Laureado de Nova Jersey de 2002 a 2004 pela Comissão de Humanidades da cidade e seu livro Tales of the Out & the Gone (Akashic Books, 2007), foi escolha dos editores do New York Times e vencedor do prêmio PEN/Beyond Margins.

Como um todo, sua obra se estende entre os anos 1960 e os 2010. Em 2014, o artista faleceu, aos 79 anos.

Baraka se considerava um “revolucionário otimista” e jamais deixou de acreditar que “os bons garotos – o povo – haverá de vencer”.


SOBRE O PÔSTER

O pôster Our world is full of sound acompanha o livro Black Music: free jazz e consciência negra (1959-1967), de LeRoi Jones (Amiri Baraka), e é feito no tamanho A3 (29,7x42cm), impresso em risografia, no papel pólen bold 90g, com a frase:


“Our world is full of sound / our world is more lovely than anyones / tho we suffer, and kill each other / and sometimes fail to walk the air.”



Em parceria com a sobinfluencia edições, Outras Palavras irá sortear 1 combo [Livro+Pôster] de Black Music: free jazz e consciência negra (1959-1967), de LeRoi Jones (Amiri Baraka), entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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