Romance: a aventura histórica da esquerda brasileira

Marcelo Ridenti, sociólogo da Unicamp, usa uma criativa abordagem ficcional para narrar cem anos de luta por um Brasil mais justo. Apoiadores de Outras Palavras concorrem a 3 exemplares do e-book da obra, lançada pela Boitempo

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Há pouco mais de cem anos, a esquerda atua de forma organizada no cenário político nacional. É uma já longa tradição de luta em defesa de outro Brasil, governado por e para quem trabalha para construir a riqueza, na qual milhares e milhares de brasileiros, anônimos e ilustres, se envolveram. Um professor da Unicamp decidiu encarar o instigante desafio (seu desejo há quarenta anos, segundo ele mesmo) de transportar essa história para o mundo da literatura.

Arrigo, lançado há poucos meses pela Boitempo Editorial, é o primeiro romance do sociólogo Marcelo Ridenti. Se inicia com uma curiosa premissa: o narrador está na tarefa de registrar a vida de um velho militante, homônimo à obra. Chegando em seu apartamento, o encontra inerte em uma cadeira. Ao tentar sair para pedir ajuda, percebe que a porta está emperrada. Impossibilitado de fazer outra coisa, se senta e dá continuidade ao projeto de escrever a biografia de seu companheiro.

O autor do livro é uma referência na área das ciências humanas por suas pesquisas em torno do engajamento da intelectualidade e dos meios culturais nacionais com o marxismo e a ideia de revolução. No último ano, Marcelo Ridenti lançou pela Editora Unesp O segredo das senhoras americanas, em que discute o financiamento de intelectuais brasileiros por potências estrangeiras na Guerra Fria. O novo romance vem, portanto, beneficiado por toda uma carreira em que seu criador se debruçou sobre temas centrais para uma representação bem feita de seu contexto.

Em outras oportunidades, a literatura brasileira já tratou da história dos que fundem suas vidas com seu compromisso com o povo. Jorge Amado dedicou os três tomos de seu Os subterrâneos da liberdade à saga da reorganização clandestina do Partido Comunista do Brasil durante a ditadura Vargas. Na obra do baiano, se misturam personagens ficcionais com militantes reais – vagamente escondidos em pseudônimos: Hermínio Sacchetta é Saquila, Marighella é simplesmente Carlos, Apolônio de Carvalho é Apolinário, etc. –, e o realismo socialista norteia sua abordagem, na forma e no conteúdo.

No final da ditadura, livros de cunho mais memorialístico supriram a necessidade de narrar o que viveram os protagonistas do enfrentamento com o regime militar. Alguns mais polêmicos, como O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira, que já sinalizava seu futuro rompimento com a esquerda. Outros, como Combate nas trevas, de Jacob Gorender, se tornaram uma fonte inestimável de informação sobre a trajetória das organizações do período – além de, por conterem passagens de tom mais pessoal, oferecerem uma janela para as reflexões íntimas dos participantes dos eventos de então.

Outras Palavras e Boitempo Editorial sortearão três exemplares do e-book de Arrigo, de Marcelo Ridenti, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 20/4, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 20% de desconto no site da editora.

Assim como nos Subterrâneos de Amado, os personagens de Arrigo se encontram com célebres partidários não-ficcionais do marxismo. Nos marcos de uma cronologia que parte dos anos 20 do século XX e se conclui ao final da segunda década de nosso milênio, o personagem que dá nome ao livro e seus familiares confabulam com figuras como Astrojildo Pereira, principal organizador do esforço de fundação do Partido em 1922, e alguns escritores de militância comunista, como Graciliano Ramos e Jorge Amado.

Somam-se aos personagens emprestados da realidade a descrição, devidamente inserida na narrativa, de acontecimentos-chave da história da esquerda no Brasil. Arrigo não foge de falar de temas duros como a tortura e os momentos mais difíceis da luta armada contra o Estado ditatorial. Na infância do protagonista, aborda processos como a Greve Geral de 1917 e a Revolta de 1924 em São Paulo, eventos em que seus pais, imigrantes italianos e anarquistas como muitos, se integram ativamente.

No cômputo geral, surge de Arrigo um mosaico que mescla vitórias e derrotas, sucessos históricos e fracassos ainda não superados, mas cuja imagem transparece luta, sempre. O centenário Arrigo, incansavelmente dedicado a seu ativismo político, incorpora esse espírito de uma tradição política que, entre erros e acertos, nunca fugiu da raia de batalhar pela reconstrução do Brasil sobre bases de justiça social e democracia verdadeiramente popular.

O acúmulo de cem anos da esquerda – e, mais especificamente, de organização dos comunistas, sua corrente mais longeva e consequente – no Brasil oferece variados legados: ensinamentos políticos de grande valor tático, estratégico e programático, mas também histórias de vidas de pessoas de carne e osso que estiveram a serviço de um horizonte de emancipação para a humanidade. 

A celebração desse caminho trilhado até aqui pelo campo político de que fazemos parte permeia o livro de Ridenti – o que não quer dizer que seja um romance laudatório, simplista. A difusão de nossa perspectiva sobre nós mesmos na arte e na cultura é, na verdade, indispensável em todos os momentos. “Nem os mortos estarão em segurança se o inimigo vencer”, lembra Walter Benjamin. Ao registrar nossa memória de nossos mortos, ajudamos a garantir que suas vidas e seus legados resistirão às calúnias que sempre surgem do lado de lá.


Em parceria com a Boitempo, sortearemos 3 exemplares do e-book de Arrigo, de Marcelo Ridenti, entre os apoiadores do nosso jornalismo.

Poderão se inscrever no sorteio os leitores de Outras Palavras que contribuem mensalmente com suas atividades na plataforma apoia.se/outraspalavras. O formulário de participação será enviado por e-mail aos membros do Outros Quinhentos e ficará aberto até a próxima quinta-feira, 20/4, às 14h.

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