Os intelectuais brasileiros na mira da Guerra Fria

Viagens com tudo pago. Bolsas de estudos. Espaço em publicações de prestígio. Novo livro da Editora UNESP destrincha a competição entre EUA e URSS por nossos pensadores. Quem apoia nosso jornalismo concorre a três exemplares e tem 40% de desconto

Cada nova leva de documentos descobertos e pesquisas publicadas reafirma: o Brasil foi um dos principais campos de batalha da Guerra Fria. Agências de cooperação e de espionagem – e as que unem as duas atribuições – das superpotências rivais atuaram constantemente para incidir sobre a política brasileira a fim de que ela tomasse rumos favoráveis a seus interesses.

Os “corações e mentes” dos intelectuais brasileiros foram um dos principais espaços em que se travou essa batalha. Em O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria cultural, novo livro publicado pela Editora UNESP, o sociólogo Marcelo Ridenti explora os detalhes das relações construídas por estadunidenses e soviéticos com luminares da produção científica e literária nacional.

Viagens à Europa ou aos Estados Unidos com tudo pago. Gordas bolsas de estudo. Espaço em publicações de prestígio internacional. Foram muitos os artifícios utilizados para fidelizar autores a um lado ou outro da disputa, ainda que nem sempre com sucesso.

Outras Palavras e Editora UNESP sortearão 3 exemplares de O segredo das senhoras americanas – intelectuais, internacionalização e financiamento na Guerra Fria Cultural, de Marcelo Ridenti. O formulário de participação será enviado por e-mail. As inscrições serão aceitas até quarta-feira, 17/08, às 14h.

Nem sempre com sucesso porque, como mostra o autor, os pensadores não eram joguetes na mão de potências estrangeiras, meros peões no tabuleiro do xadrez geopolítico. Os artistas e intelectuais têm seus próprios objetivos, que vão desde suas sinceras convicções políticas até o desejo de construir uma reputação. Cientes das questões em jogo, eles se servem dos “atalhos” do apoio institucional para alcançá-los.

Ridenti explora esquinas complexas e contraditórias sem recair em simplificações. Em um determinado momento, discute-se a aproximação de pensadores como Mário Pedrosa, Celso Furtado, Florestan Fernandes e Milton Santos das atividades do Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), posteriormente exposto como um braço da inteligência norte-americana. Seriam todos agentes do imperialismo? Não exatamente. Mário Pedrosa, por um lado, de fato levou suas posições anti-varguistas e anti-stalinistas até a defesa de uma aliança com o Ocidente liberal. Florestan, por outro, ao saber do financiamento norte-americana do CLC, escreveu: “desde que a CIA entre em um assunto, nós devemos estar fora” – posição de distanciamento que Furtado também tomou, mais discretamente.

Todos esses nomes, de um modo ou outro, são de intelectuais que associamos ao pensamento crítico. Ridenti explica que a direção internacional do CLC desenvolveu um arrojado plano de atração de nomes da esquerda acadêmica a fim de não permitir que se aproximassem da URSS. O autor mostra também que, com financiamento norte-americano, um grupo conhecido como Associação Universitária Interamericana (AUI) montou até mesmo um programa de bolsas de estágio em Harvard que levasse universitários brasileiros de esquerda para conhecer os EUA e se tornarem testemunhas “do saber, da democracia e da modernidade”. Nem tudo isso foi divulgado à época, o que abre margem para entendermos que nem todos sabiam que estavam participando de um programa que visava mais do que o simples intercâmbio acadêmico.

Do outro lado da Cortina de Ferro, a destacada atuação de autores como Jorge Amado e Pablo Neruda em órgãos como o Conselho Mundial da Paz os reduz a “teleguiados de Moscou” aos olhos da propaganda anticomunista. Como se vê no livro, nada poderia estar mais distante da verdade.

Tanto o baiano quanto o chileno eram comunistas convictos e “de carteirinha”. Exilados em Paris pela perseguição aos PCs em seus países, se uniram ao surrealista-comunista francês Louis Aragon no que viam pessoalmente como uma importante iniciativa de solidariedade internacionalista. 

Ao longo de seu engajamento com a luta pela paz, porém, os escritores viram crescer largamente o reconhecimento de sua obra literária, passando da fama nacional ao prestígio internacional. Os benefícios colhidos pelas diferentes partes são distintos, mas se conectam: a tarefa política conduz os militantes ao estrelato artístico. Ao movimento comunista internacional, em contrapartida, era de grande ajuda que os maiores escritores, poetas, pintores e dramaturgos do mundo fossem defensores sinceros de sua visão – Ridenti fala de um star system em oposição ao de Hollywood.

A obra do professor da UNICAMP ilumina novos detalhes de uma Guerra Fria que também se deu no campo cultural e que teve como atores não só os Estados Unidos e a União Soviética, mas também os intelectuais e artistas com seus projetos pessoais. Um trabalho de leitura agradável, daqueles em que cada página dá vontade de ler a próxima, e que elucida um ângulo interessante mas menos observado da história.                                           


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