O chamado de Marighella à luta

Organizado por Vladimir Safatle, livro da Ubu Editora reúne manifestos, cartas e poemas do comunista baiano que enfrentou a ditadura – muitos só circularam clandestinamente. Nossos apoiadores concorrem a 2 exemplares

Só a luta renhida abre condições para a vitória. É um princípio da política que se confirmou mais uma vez no último domingo, em que se consagraram os enormes esforços de milhões pela derrota da ameaça fascista. Nesta sexta-feira, 4/11, comemoramos a memória do brasileiro que mais insistiu que devemos “não ficar de joelhos, que não é racional renunciar ser livre”: o comunista baiano Carlos Marighella.

Preparada para a coleção Explosante, uma ótima seleção de seus escritos foi publicada por nossos parceiros da Ubu Editora em 2019, ano em que originalmente seria lançada a cinebiografia Marighella. Chamamento ao povo brasileiro, volume organizado pelo professor Vladimir Safatle (FFLCH-USP), abarca os principais trabalhos políticos de Marighella pós-golpe de 1964 e inclui textos de sua não tão conhecida obra poética.

Na noite de 4 de novembro de 1969, o grande dirigente comunista, apelidado de “inimigo público número 1” pela ditadura, foi assassinado pelos órgãos da repressão. Foi o fim de uma caçada feroz contra um militante experiente, com uma trajetória de mais de 30 anos de luta, mesmo em períodos de clandestinidade e prisão. A espetacular campanha de propaganda armada impulsionada pela Ação Libertadora Nacional (ALN), organização que fundou após romper com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), havia instigado o governo gorila a tê-lo como alvo principal.

A ordem dos textos corre em paralelo a seu caminho da ruptura com o PCB até a construção da ALN. Reproduzido na íntegra no volume da Ubu (com a apresentação de Antonio Candido e o prefácio de Jorge Amado), seu livro de 1965 “Por que resisti à prisão” foi um dos primeiros sinais de tensão entre Marighella e a direção do Partido. Começavam a se expressar as divergências táticas e estratégicas – o CC pecebista se encaminhava para uma política de resistência pacífica em aliança com a oposição liberal, já o comunista baiano, para o choque aberto com o regime golpista, o que não esconde nas páginas de sua obra. 

Daí em diante, a conjuntura só se acirrou. Cada passo levava Marighella à convicção de que sua militância não caberia mais na estrutura pecebista, que ele entendia como paralisada e desmoralizada desde a ausência de resposta ao golpe de 1964. Em “A crise brasileira”, “Carta à Comissão Executiva do Partido Comunista Brasileiro” e “Crítica às teses do Comitê Central”, escritos reunidos na seção A análise política do país e a ruptura com o PCB, vemos Marighella demitir-se da direção comunista e começar a dar forma a teses radicalmente distintas sobre as tarefas para a libertação do país.

Outras Palavras e Ubu Editora sortearão dois exemplares de Chamamento ao povo brasileiro, de Carlos Marighella, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima terça-feira, 08/11, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem até 30% de desconto no site da editora.

A participação na Conferência da OLAS, em Cuba, foi decisiva para o rompimento final. De Havana, no dia 17 de agosto de 1967, Marighella escreve a carta – que está neste livro – em que renuncia à condição de militante do PCB para dar continuidade à luta comunista consequente. Na sequência, se dedica a reunir um núcleo capaz de ativar o único mecanismo que, para ele e para seu grande interlocutor Fidel Castro, levaria ao socialismo nas condições latino-americanas: a luta armada.

O Agrupamento Comunista de São Paulo, primeira encarnação dessa organização, rapidamente evolui para a Ação Libertadora Nacional, implantada em diversos estados do país e estruturada o suficiente para impor  duros golpes ao regime militar. Na terceira seção do livro, A luta armada, encontramos os documentos que nortearam a luta da ALN: seu internacionalismo, sua opção pela guerrilha, sua oposição sem quartel à política de todas as facções das classes dominantes, seu enfrentamento direto com as forças de segurança e seu horizonte estratégico de incendiar as massas na luta pelo socialismo. É possível visualizar um quadro bastante amplo da ALN com esta seleção de textos.

Seria incompleto um comentário sobre o livro da Ubu que não falasse das “juvenílias” marighellianas que o integram. Quando pensamos em Marighella, pensamos no homem que “não teve tempo de ter medo”. É preciso evitar que essa percepção confunda-se com a de uma figura com a subjetividade anulada, um narodnik turguenieviano que só tem olhos para a política, nada mais. Sem contradição alguma com sua dedicação militante, Marighella foi poeta. Sua produção é bela e penetrante, da famosa prova em versos do tempo de colégio à ode ao “poeta dos escravos” Castro Alves. É um mérito enorme da organização da coletânea a inclusão – nada óbvia – desses textos.


Nos 53 anos da passagem de Marighella à imortalidade, em um momento desafiador para os que almejam um Brasil mais humano, justo e solidário (para isso, necessariamente, socialista), queremos comemorá-lo sorteando entre os apoiadores do nosso jornalismo dois exemplares de Chamamento ao povo brasileiro, coletânea de textos de Carlos Marighella organizada por Vladimir Safatle.

O formulário de participação será enviado por e-mail na lista exclusiva do Outros Quinhentos, e as inscrições serão aceitas até a próxima terça-feira, 8/11, às 14h.  

Esta é a primeira ação de uma sequência especial de sorteios do Outros Quinhentos no mês de novembro. Até o Dia da Consciência Negra, 20/11, homenagearemos figuras e temas centrais da luta pela libertação negra. Baiano e negro, Marighella sofreu ataques racistas de parlamentares de direita quando ocupava mandato comunista na Câmara dos Deputados e sempre identificou no abolicionismo um antecedente histórico das lutas emancipatórias de sua corrente política.

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