Eclode a primeira crise do “governo" Temer

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Vice acaba de cancelar reunião crucial para montagem do ministério. Por que a queda de Eduardo Cunha mergulha a equipe de Temer, e os próprios rumos de seu período, em grande zona de dúvidas

Por Antonio Martins

Na manhã desta segunda-feira, quando se abre a semana em que Michel Temer assumirá, sem votos, a presidência da República, as TVs e portais atraem a atenção do público para a coerção do ex-ministro Guido Mantega, pela Polícia Federal. É pura marola – o fato relevante é outro.

Ao afastar Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados, na última quinta-feira, o STF deflagrou a primeira grande crise do “governo” Temer. Ela cresceu sem parar, nos bastidores, durante o fim de semana. A ponta do iceberg acaba de surgir. O vice-presidente cancelou há pouco, reunião com os presidentes dos partidos que apoiam seu governo, marcada ainda ontem à noite. Faltando apenas três dias para sua provável posse, pelo Senado, Temer não tem mais certeza alguma sequer sobre a equipe de ministros que anunciará.

O tormento começou na quinta-feira, informa o competente repórter Raymundo Costa, do Valor. Embora esperasse o afastamento de Cunha, o vice Michel Temer não o previa – nem o desejava – para já. Contava com o presidente da Câmara, contra quem pesam suspeitas claríssimas de corrupção e lavagem de dinheiro, para levar adiante uma agenda impopular.

Os dois agiriam em aliança informal e oculta. Cunha, que maneja como ninguém as bancadas fisiológicas da Câmara (o chamado “novo Centrão”) se encarregaria de aprovar projetos como a terceirização selvagem dos contratos de trabalho, a (nova) elevação da idade mínima para aposentadoria, a quebra das leis trabalhistas obrigatórias. Temer tentaria proteger o aliado tanto quanto possível – em especial, compondo um ministério capaz de afagar o conjunto das bancadas articuladas por Cunha. Exatamente por isso, as ideias de redução do número de ministros, ou de uma “equipe de notáveis” haviam sido arquivadas, até a quinta-feira.

Nesse dia, a decisão matutina do ministro Teori Zavacki, seguida horas mais tarde pelo plenário do STF, desfez a trama. Agora, sem poder contar com o presidente derrubado da Câmara, Temer está inseguro sobre o comportamento da Cãmara e de todo o Congresso. Seus aliados no Legislativo também dividiram-se. Parte deles defende que uma nova eleição defina o substituto de Cunha; outros querem a posse Waldir Maranhão (PP-MA), conhecido por seu comportamento errático, oscilante e fisiológico.

Em face do novo cenário, Temer teria voltado a flertar com a hipótese de um ministério “de notáveis”. Estaria aborrecido com as vaidades dos aliados – que correm à mídia, após cada encontro com ele, para antecipar políticas de governo ou até mesmo sua própria condição de futuros ministros. Como saída, consideraria fazer um “governo das ruas”. Nesta hipótese, além de nomear uma equipe desvinculada de preocupações com maioria parlamentar, faria, logo após tomar posse, um discurso em favor da continuidade da Operação Lava Jato.

Mas como, se alguns de seus principais assessores (veja o caso do senador Romero Jucá, candidato ao ministério do Planejamento) são investigados por corrupção? Se o próprio Temer está comprometido em delações premiadas de empreiteiros e ex-diretores da Petrobras? Se, após a queda Cunha, parte dos aliados rejeita abertamente algumas das políticas que o vice-presidente quer implementar; se outra parte faz, a Temer, exigências irrealistas, em face de um orçamento magro?

Muita água vai rolar por baixo da ponte, nos próximos dias. Mas este foi o fim-de-semana em que Michel Temer teve noção da enrascada em que se meteu, a desejar a Presidência num golpe de Estado mal disfarçado.

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7 comentários para "Eclode a primeira crise do “governo" Temer"

  1. muito boa essa postagem meus parabéns para os idealizadores

  2. Roldão Lima Junior disse:

    Prezado E. Soares
    Concordo com você. Mas você tem que aceitar que existe um movimento revolucionário em marcha no Brasil. Se a CIA está por detrás desse movimento, é preciso aprofundar a reflexão. Quanto ao golpe em curso no Brasil, ele está previsto na constituição. Por mais incrível que pareça ser, é um golpe constitucional fundamentado na existência de crime de responsabilidade cujo conceito é muito abrangente e difuso, para não dizer confuso. Basta ler o texto constitucional que aborda esse assunto para chegar a essa conclusão. Essa foi uma das heranças dos constituintes de 1988 que prepararam o terreno para o parlamentarismo como forma de governo. Como o parlamentarismo não vingou, ficou esse esqueleto para infernizar as vidas dos presidentes da república. Na época, não houve mobilização da sociedade para impedir a inclusão dessa possibilidade de golpe no texto constitucional porque não existiam as redes sociais suportadas pela Internet. A partir de 1992, com o impeachment do marajá Caçador de Marajá, a classe política brasileira passou a considerar essa possibilidade de golpe constitucional. Tanto é que um dos partidos de oposição ao governo da Turma da Sorbonne/Ibiúna cansou-se em protocolar pedidos de impeachment do presidente da república de então. Esse partido político de oposição protocolou 14 pedidos de impeachment durante o governo da Turma da Sorbonne/Ibiúna. Todos legais, fundamentados na constituição golpista de 1988, e por crime de responsabilidade. Portanto, não há golpe em curso no Brasil de hoje. E se for golpe, é um golpe muito bem dado por não ter fardas na jogada. A elite conservadora fascista, aboletada no poder desde 2003, abusou e fez-se merecedora desse golpe. Ela tem culpa no cartório por ter quebrado o país para se perpetuar no poder. Bem feito! Quanto às jazidas de petróleo brasileiras, não existem motivos plausíveis para despertar a cobiça da potência hegemônica da atualidade. Os grandes consumidores de petróleo, particularmente aqueles que detem tecnologia de ponta na geração sustentável de energia, como é o caso da nossa Grande Irmã do Norte, não estão mais interessados no petróleo dos outros. A demanda por petróleo está baixa, fazendo os preços despencarem. Está nos planos da PETROBRAS em reduzir a produção de petróleo para não aumentar o seu prejuízo operacional. Com os preços aviltados, é mais lucrativo comprar petróleo africano e processar gás natural. O petróleo brasileiro é muito caro. Quanto aos ditadores latino-americanos sustentados pela nossa Grande Irmã do Norte, não se esqueça de incluir nessa lista a família Castro de Cuba. Essa família está no poder desde 1959. Tem cubano que não aguenta mais o regime. O mais estranho é que a potência hegemônica mantem, até hoje, uma base militar na ilha de Cuba (Guantánamo). Qual é o preço dessa base militar que hoje é presídio para os ativistas da Al Qaeda envolvidos no 11 de setembro? Lembra-se do Che Guevara? Não é instigante, no mínimo, que, diante da proximidade da Ilha de Cuba com a potência hegemônica, cerca de 150 km, aprofundar nas causas da permanência da família Castro no poder até os nossos dias? O que leva a potência hegemônica a empregar o seu poder de fogo monstruoso no Afeganistão e no Iraque, no outro lado do planeta, deixando de lado a ditadura dos Castro, mantida no seu quintal? O medo de perder Guantánamo? Ou o acordo de traição ao Che? Será que o tiro de misericórdia dado pelos rangers no Che Guevara no altiplano boliviano, no dia 8 de outubro de 1966, foi disparado de Havana? Não seria o Che, quando vivo, uma ameaça à ditadura dos Castro? Lembre-se que as ditaduras não permitem opositores. Vamos refletir mais um pouco.

  3. e soares disse:

    Tudo dito ao contrário como mandam os manuais da CIA. Quem descredibilizou os políticos foram eles mesmos que fizeram um golpe de estado à rebelia dos resultados eleitorais democráticos e com um fundamento jurídico, no mínimo duvidoso.
    Sabe-se como é táctica dos não-democratas atribuirem aos seus adversários democratas o que eles próprios estão a fazer; se tiverem, como têm, os meios de comunicação social comprados, propalam tais mentiras como verdades para os estúpidos as repetirem como ideias certas e próprias.
    O Brasil está descredibilizado porque o consul americano não se apercebeu que estava metido com aventureiros que não vão saber descalçar a bota em que estão metidos. Mas a cobiça pelo petróleo brasileiro vale tudo, até dividir um país e instigar a violência, lançar as pessoas para situações de vida difissílimas, trazer de novo a miséria para milhões de cidadãos.
    É o que o gringos SEMPRE fazem, apresentando-se como libertadores, defensores dos DDHH e da democracia … Basta ver o que fizeram na Líbia, o apoio que dão aos terrorista na Síria e como desestabilizam a américa latina de cima a baixo, depois de há meio século terem sustentado sem pejo os pinochetes, os videlas, os castelos brancos, os somozas e quejandos …
    Agora mentir, NÃO VALE !!!

  4. jorge rosa de sousa disse:

    Pior que tudo isso é perceber que ainda existam milhões de brasileiros, grudados em torpes telas transmissoras de football e novelas, enquanto nossa frágil democracia escorrega para não se sabe onde e, o que é muito mais complicado:
    – os poucos avanços sócio economico e cultural conquistados, descambam em direção ao vale dos escombros, levando grande parte de nossa jovem esperança.
    Embora sabendo que essa elite pôdre faria de tudo para retornar ao poder, não há como isentar toda essa galera petista que nos fez sonhar e ao mesmo tempo nos fez acordar em meio a esse
    terrivel pesadêlo.
    Se eles ( os petistas ) não fossem corruptos, tanto quanto os que hora salivam a sêde do poder, estaríamos livres dessa desgraça que se avizinha .
    mas quem sabe os deuses do STF nos salvem dessa, derrubando os corruptos e promovam navas eleições.

  5. João Bosco Feres disse:

    Em primeiro lugar quero agradecer e cumprimentar vocês pela excelente cobertura da marcha desse infeliz golpe que assola o país. Não será nada fácil analisar e avaliar a torrente que está passando debaixo da ponte nesta semana. Confio e aguardo o olhar certeiro do Antônio Martins. Por enquanto, deixei de querer entender. Onde chegaremos? Até quando o país continuará desgovernado? O que virá depois da derrota da República Evangélica dos Safados? Temo que o principal posto de comando do país ainda vá cair nas mãos do Gilmar Mendes, por falta de algum militar afoito. Um pedido: tentem explicar o papel do Supremo. Não consigo acreditar que nossos meritíssimos sejam tão bananas, ou tão coniventes, ou tão ‘parte’ do golpe.

  6. Roldão Lima Junior disse:

    Esse impasse político no qual o país se encontra mergulhado é uma das situações previstas nos velhos manuais de guerra revolucionária. Quem viveu, conscientemente, o tempo da dètente (décadas 50, 60 e 70 do século passado) sabe ao que estou me referindo. Um dos pressupostos da implantação da ditadura do proletariado é promover e disseminar a descrença da população na capacidade da classe política dominante para conduzir o país na direção do bem estar social (welfare state). Esse meu discurso, aparentemente anacrônico nesses tempos de redes sociais, ganha força e contemporaneidade com a velocidade do trânsito da informação nessas mesmas redes sociais por mais paradoxal que seja. A mobilização das forças revolucionárias através das redes sociais permite a coordenação de ações de instabilidade da ordem pública em tempo real, vencendo distâncias continentais. Para refletir: Em escala nacional, a mobilização para os bloqueios de vias públicas e estradas de forma coordenada, no dia 10 de maio de 2016. Em escala mundial, as ações terroristas coordenadas pelo Estado Islâmico, fincado nas plagas do deserto iraquiano, que, num mero post em rede social, em 2015, além de nos ameaçar com atentado terrorista chamou o Brasil de país de merda. Esses acontecimentos são exemplos cabais da força das redes sociais a serviço do movimento revolucionário. Recorrendo ao velho manual de guerra revolucionária, verifica-se que o motor desse tipo de conflito social é, num primeiro momento, desacreditar a classe política que se encontra encastelada no poder, mesmo que esta seja eleita por voto popular, sendo de esquerda ou de direita, e instalar um clima de insegurança institucional e social, amedrontando a população através de ações de intimidação psicológica e de desordem pública. Num segundo momento, promover a instabilidade econômica e o descrédito do país no concerto das nações, e revoltar a população fazendo com que, através da ação calculada e perseverante de movimentos sociais, tais como VempraRua, MST, patinho da FIESP, entidades sindicais (CUT e Força Sindical) e congêneres, esta saia às ruas para reivindicar, de forma pacífica evoluindo para a violenta, a mudança institucional radical com a finalidade de estabelecer novos rumos da nação em direção ao progresso e ao bem estar social. São essas as forças ditas progressistas, sejam elas de direita ou de esquerda, dependendo da inclinação ideológica da facção conservadora aboletada no poder. Até esse momento, a classe proletária mobilizada para a revolução não tem a mínima noção da intenção da nova elite política que vai assumir o poder. A turba proletária é conduzida para atuar violentamente, mas dentro de princípios supostamente altruístas – apear do poder a elite conservadora de esquerda ou de direita, para alcançar o progresso e o bem estar social. Uma vez criado o vazio de poder, a nova elite política, apropriando-se da vitória da classe proletária, assume as rédeas da condução política do país e promove o expurgo, eliminando, sumariamente, seus opositores ou os inimigos da revolução. O objetivo é governar sem oposição. Daí, a ditadura do proletariado. Nessa altura dos acontecimentos, a liderança do movimento revolucionário já se organizou em partido político hegemônico, geralmente chamado de partidão (PCUS da extinta URSS, por exemplo). É nesse momento que surge o líder salvador da pátria – o ditador. Não é um líder que surge por geração espontânea, do nada. É um líder que, paulatina e sub-repticiamente, foi sendo preparado, cuidadosamente, pela intelligentsia do movimento revolucionário. É líder carismático. Inicialmente, não tem preferência por corrente política, seja esta de esquerda ou de direita. Tem origem humilde. É inculto ou com formação política pelas canelas. Mas tem boa conversa. Fala o que o povão quer ouvir. É bom de articulação política. Para ter mais visibilidade pública, recebe um polimento cultural meia-boca da estrutura de propaganda do partidão. Na maioria dos casos, é da linha militarista por aproximar-se das forças armadas. Pode até vestir uniforme, sem nunca ter entrado num quartel. São exemplos os lideres nazistas, fascistas e marxistas – todos socialistas de carteirinha – que a Humanidade teve o desprazer de conhecer ao longo do século passado. Aparentemente, os objetivos dos movimentos revolucionários são altruístas. Esses movimentos buscam, essencialmente, a tomada do poder, com violência, para instalar o estado de bem estar social (welfare state). No entanto, em qualquer ditadura, mesmo que seja a do proletariado, esse estado de bem estar social nunca será alcançado, uma vez que a individualidade do cidadão sempre será devassada e expropriada pela elite conservadora que está aboletada no poder, seja esta de esquerda ou de direita, torno a repisar. As liberdades individuais não passarão de meras referências nos textos constitucionais, se existirem. As forças institucionais de repressão atuarão para calar a voz daqueles que se opõem ao regime. Fica a reflexão: Será este o futuro que queremos para o Brasil?

  7. Marcio Ramos disse:

    Direita medíocre, golpistas desqualificados, nem pra golpe presta. Querem governar quem? A CUT, o MST, os movimentos sociais, os estudantes, o empresariado? Vai tomar bucha, estão se matando uns aos outros o pior é que nem governo temos para defender, apenas uma democracia fajuta, mais pra ditadura do que outra coisa.

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