Assim funciona o ultracapitalismo

Documentos secretos divulgados revelam como EUA pressionaram União Europeia para assinar acordo que libera transgênicos e permite às empresas processar Estados em tribunais secretos

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Documentos secretos divulgados revelam como EUA pressionaram União Europeia para assinar acordo que libera transgênicos e permite às empresas processar Estados em tribunais secretos

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Documentos confidenciais divulgados pela imprensa alemã no último domingo (01/05) e tornados públicos pelo Greenpeace um dia depois feira revelaram que os Estados Unidos pressionaram a União Europeia (UE) a aprovar o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).

O jornal alemão Süddeutsche Zeitung e as emissoras públicas WDR e NDR, tiveram acesso a mais de 240 páginas de documentos referentes às negociações para o TTIP, inicialmente obtidos pelo Greenpeace. Ao publicar os papéis na internet, a organização criticou o acordo, afirmando que ele colocaria interesses corporativos acima da segurança ambiental e do consumidor.

“Este tratado ameaça ter implicações de longo alcance para o meio ambiente e para a vida de mais de 800 milhões de cidadãos na UE e nos EUA”, disse o Greenpeace durante apresentação dos documentos em Berlim.

Washington ameaçou barrar os esforços para facilitar a exportação de automóveis europeus para os EUA, afirmou a imprensa alemã com base nos documentos. O objetivo seria forçar a UE a consumir produtos agrícolas americanos, considerados de maior risco ambiental. O princípio da UE, de que as mercadorias devem ser certificadas como seguras, tem sido usado com frequência para restringir as importações de alimentos geneticamente modificados ou de carne tratada com hormônios dos EUA.

A ameaça americana de bloquear as exportações de automóveis europeus visa pressionar a UE para substituir os princípios de segurança ao consumidor, adotados pelo bloco europeu, por uma abordagem mais liberal, como a dos EUA, que permite o comércio de bens alimentícios até que os riscos sejam comprovados.

Segundo a agência de notícias DPA, pessoas próximas às negociações teriam confirmado a autenticidade dos documentos. Até o momento, o acesso a informações sobre o andamento das conversações tem sido bastante limitado.

Documentos confirmariam temores

O TTIP, cujas negociações ocorrem em extremo sigilo, encontra forte resistência entre a população alemã. Por ocasião da visita do presidente americano Barack Obama a Feira de Hanonver, dezenas de milhares de pessoas realizaram uma manifestação contrária ao acordo.

Segundo a imprensa alemã, os documentos mostram ainda que os Estados Unidos estariam tentando bloquear a exigência europeia de que os painéis que irão arbitrar os processos legais corporativos devem ser públicos, e não sigilosos, como querem os americanos.

O diretor da central de agências alemãs de defesa do consumidor, Klaus Müller, afirmou ao Süddeutsche Zeitungque os documentos vazados confirmam “praticamente todos os nossos temores em termos do que os americanos querem atingir no mercado de produção de alimentos através do TTIP”.

Jürgen Knirsch, especialista em comércio do Greenpeace, disse que o pouco que se sabe até agora sobre as negociações “soa como um pesadelo”. “Agora sabemos que isso poderia, muito provavelmente, se tornar realidade”.

Durante a visita à Feira de Hannover na semana passada, Obama e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pediram urgência nas negociações sobre o acordo. O presidente americano afirmou esperar que o TTIP seja concluído em 2017.

No entanto, na última sexta-feira, os principais negociadores de ambos os lados disseram que o objetivo é concluir o tratado antes do final do mandato de Obama, em janeiro do ano que vem.

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3 comentários para "Assim funciona o ultracapitalismo"

  1. Isaias disse:

    Não há “desestatização”, pelo contrário, o que há é um Estado cada vez mais empenhado (e empoderado) em atender aos interesses das megacorporações. O Estado, afinal, não é um ente neutro, cujo propósito é resguardar os “interessas nacionais” e a “soberania cidadã”, mas um instrumento de dominação da classe dominante. Há sempre uma relação entre política e interesses do capital, e o Estado está sempre subordinado à tais interesses.

  2. Arthur disse:

    Concordo plenamente com o comentário acima.Esse é o princípio de um mundo tirânico comandado por um grupo de corporações mundiais, como já se antecipou em alguns livros e filmes de ficção.Só que a realidade parece superar em muito a ficção e para pior.

  3. Antonio Pereira disse:

    Os crimes cometidos contra populações indefesas somados aos golpes políticos/juridicos/institucionais, fasem parte do processo de desestatização e desmonte de soberania cidadã.
    O objetivo é escravizar o Povo é governá-lo através das agências de “autocontrole” criadas pelas grandes corporações.

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