O Festival do Rio traz uma safra de doze cinebiografias. As de “cinéfilos” vão de Grande Otelo a Nelson Pereira dos Santos. Vistas em conjunto, iluminam e mapeiam a história do nosso cinema, com todas as suas carências e potencialidades
Em cartaz, dois documentários do diretor cearense Karim Aïnouz. Um é o seu acerto de contas com o pai ausente, buscando-o num delírio febril, entre o fluido e o concreto, até a Argélia. No outro, o mesmo país, pelas lentes de uma jovem ativista
Em cartaz, o curta Estranha forma de vida seguido de entrevista com o diretor. Aborda o reencontro de dois caubois, ex-amantes. Em cena, o erotismo, mas também uma civilização em que os tormentos da alma e da carne são resolvidos à bala
Santiago, 1973. Post mortem (2010) narra a paixão de um funcionário de necrotério por uma apoiadora de Allende. Um desajeitado jogo erótico inicia-se enquanto o golpe militar avança, abarrotando salas corredores de cadáveres
Filme italiano retrata uma amizade contrastante ao longo de décadas — entre um citadino e outro montanhês. Entre paisagens vivas e cambiantes, relação mostra como a cultura filtra a percepção da natureza. E as buscas humanas que se esvaem
Sem deixar rastros conta a história real de um jovem poeta polonês, espancado até a morte numa delegacia, em 1983. Combina rigor e sutileza ao mostrar um ambiente político sufocante, onde, apesar de tudo, resta certa margem para o arbítrio
Documentário de Kleber Mendonça Filho é crônica autobiográfica apenas à primeira vista. Com humor e melancolia, ele traça uma arqueologia urbana da sétima arte em Recife entre afetos, marcas políticas, especulação e mudanças culturais
Casa vazia, de Giovani Borba, é uma narrativa seca sobre um homem abandonado pela família, desempregado e ladrão de gado. Na vertigem horizontal da planície, filme mostra um peão fora do jogo devido à monocultura de soja – e sua mecanização
Capitu e o capítulo, de Julio Bressane, não se inspira, mas “saqueia” com inventividade a obra de Machado de Assis. A personagem torna-se signo para entender seu tempo. E, em vez de ser interrogada, é ela quem interpela a sociedade
Em cartaz, dois instigantes filmes portugueses. Um narra com surrealismo as aventuras de um príncipe-bombeiro diante da crise climática – e que prefere arte e sexo ao trono. O outro usa diálogos entre vivos e mortos para satirizar a família