Protagonistas contra ditadura de 64 se calam diante da repressão atual em SP

ditadura

Reação da sociedade civil está tímida à violência do governo estadual contra o livre direito à manifestação; país perde sua memória e as referências sobre resistência

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Onde está a OAB? A Fenaj? A Igreja? Onde estão os sindicatos? E as lideranças que protagonizaram a luta contra a ditadura? De Lula a FHC, de Dilma Rousseff a José Serra? Acadêmicos, intelectuais? Por que se calam? O que mais a PM de São Paulo precisa fazer para motivar uma nota institucional, a organização de atos, uma fala contundente contra a repressão à livre manifestação, contra as agressões a pessoas que se manifestavam ou simplesmente estavam na rua, em São Paulo, nesta terça-feira?

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo informa que nove repórteres ficaram feridos em ação na Avenida Paulista. Isso não basta para a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se pronunciar? O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, decisivo na luta pela redemocratização, informou ontem que vai enviar uma nota de protesto ao Governo do Estado, exigindo o fim da violência contra manifestantes e jornalistas. Será suficiente?

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) emitiu nota de repúdio. Mas o MST surgiu exatamente com a redemocratização, em 1984. Chegou a participar da campanha das Diretas Já. E quem já estava no cenário político desde os anos 60? Ótimo que haja novos protagonistas (e que eles se manifestem), mas e aqueles que se afirmaram como resistentes nos anos 70 ou 80?

A Ordem dos Advogados do Brasil teve seu papel na luta contra a ditadura de 1964. Mas está calada. Apenas o diretor de Direitos Humanos da OAB-SP fez declaração. A página da OAB-SP abre nestes dias com um imenso banner contra a corrupção. Um fantasma difuso. Qual a coragem de se colocar contra a “corrupção”? E se falarmos de policiais corruptos? Do crime organizado com a participação de policiais, dos grupos de extermínio (em São Paulo, no Rio, em todo o Brasil), teremos um banner da OAB?

E o Partido dos Trabalhadores? Será suficiente a declaração tímida do prefeito Fernando Haddad, de olho na “mediação do Ministério Público”? Ou uma nota do diretório municipal do PT paulistano? Nem o diretório estadual se anima a se pronunciar contra o terror implantado pela polícia – estadual? (O site do PT está abrindo hoje com propaganda do combate à corrupção feito pelo governo mineiro, apontado como “maior legado do governo do PT”.)

Mas e a repressão? Em que momento enterraram nossas antigas resistências?

figueiredo

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3 comentários para "Protagonistas contra ditadura de 64 se calam diante da repressão atual em SP"

  1. Joana disse:

    Sei que parte dessa turma de 60 e 70, que não se promoveu publicamente e politicamente, está se pronunciando da maneira mais coerente possível. Seguem indo às manifestações. Repare e verá uma turma de velhinhos, tímidos mas presentes, que está nas manifestações.

  2. João Batista Pinzon disse:

    Por diversas vezes mandei à CNBB correspondência alertando-a sobre a sua necessária presença à crítica fase que o nosso país atravessa. Nos tempos atuais não se sabe se as igrejas, principalmente a católica que se diz o maior país “católico” do mundo, se utilizam da teologia; diplomacia ou da hipocresia!!! Se considerarmos a Igreja Católica vemos que dispõe de 450 bispos; 35 mil sacerdotes; milhares de ex- seminaristas; milhares de colégios de 1º, 2º e 3º gráus; centenas de rádios e televisões; milhares de paróquias e igrejinhas espalhadas Brasil adentro; inúneras tipografias, editoras, revista e jornais; relação interminável que compõem imenso arsenal que poderia servir de apoio logístico para uma “IGREJA EM SAÍDA” MAS O QUE VEMOS É UMA ORGANIZAÇÃO ACUADA, SILENCIOSA; COBERTA DE INDIFERENÇA.

  3. Marcia Oliveira disse:

    Também fico estarrecida. Muitos desistiram. Outros talvez não lutassem exatamente por uma sociedade mais democratica e participativa, mas contra a barbarie do golpe. Logo contentam-se com os limites da democracia burguesa.
    Acho também que muitas entidades e grupos de indivíduos consideram que basta postar algo em sua rede social, uma nota no meio de tantas outras.

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