“Empresas”, 7, “vítimas”, 1 – uma análise do discurso de Dilma sobre Mariana

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Como Dilma enxerga a tragédia de Mariana? (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Pescadores e povos indígenas receberam uma menção cada durante a fala de 21 minutos da presidente; ela celebrou 24 vezes o acordo e não citou a palavra “crime”

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Que palavras a presidente Dilma Rousseff utilizou no discurso que anunciou o polêmico acordo com Samarco, Vale e BHP, na quarta-feira, relativo à catástrofe em Mariana (MG)? “Catástrofe”, por sinal, não foi um termo enunciado. Ela preferiu “tragédia” (5 vezes), “desastre” (8) e “acidente” (1). Mas uma oposição específica sintetiza o espírito do evento: aquela entre “empresas” e “vítimas”. O placar foi de 7 x 1.

Claro que análises de discurso qualitativas são mais do que bem-vindas. Mas essa abordagem quantitativa traz algumas informações no mínimo curiosas. Outras, bastante representativas. Seja pela quantidade de vezes que a palavra foi utilizada – ela enunciou 24 vezes o termo “acordo” -, seja pela absoluta ausência ao longo dos 21 minutos de fala. Por exemplo: Dilma não mencionou a palavra “crime”.

Aquele 7 x 1 entre empresas e vítimas pode ser completado com as quatro menções (duas cada) à Vale e à Samarco – cumprimentadas logo no início do discurso. “Empresa”, no singular, apareceu duas vezes. Do outro lado, temos as palavras “população”, quatro vezes, “atingidas”, cinco vezes. Em 2.114 palavras, a presidente pronunciou uma vez a dobradinha “povos indígenas”.

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E o ambiente? Como o governo falou a respeito? (Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil)

A palavra “ambiente” apareceu dez vezes. “Água”? Duas vezes. Ela preferiu falar “Rio Doce”, oito vezes. Observemos agora mais duas menções únicas: “animais” e “mar”. Outra menção única: “pescadores”. O mesmo aconteceu com a palavra “peixe”. Ou, mais precisamente, “sem-peixe”. Teve sorte melhor a palavra “vida”, com oito menções. E mais duas para o plural, “vidas”.

Um dos termos preferidos entre políticos, “pessoas” também apareceu somente uma vez. Ela preferiu “sociedade” (4 vezes). O nome do município, Mariana, ganhou cinco menções. Os “escombros” ganharam menção única. A própria “barragem”, pivô da crise, apareceu duas vezes na fala de Dilma. Finalmente, vale destacar outra palavra que surgiu apenas uma vez em seu discurso: “Justiça”.

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