2015 – Multiplicam-se os vídeos que flagram abusos de PMs
Publicado 29/12/2015 às 04:33
Registros audiovisuais de violência poderiam significar freio na ação de policiais; na prática a banalização tem sido regra, das redes sociais à grande imprensa
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
A naturalização da violência policial no Brasil deveria ter nos flagrantes audiovisuais uma força contrária. Mas não há muitos indicativos de que isso esteja acontecendo. Cada vez mais há casos registrados em vídeos. Com toda sorte de flagrante de abusos, despreparo e trapalhadas de PMs. Os portais de notícias já reproduzem essas gravações com certo robotismo, como se fossem cenas de entretenimento.
Alguns motivam títulos idênticos e que cumprem certa função de naturalizar os abusos. Vejam que, segundo os jornais, os policiais aparecem agredindo “durante abordagem” – como se esta significasse uma senha para matar:
16/02 (São Paulo): Vídeo mostra PMs agredindo pessoas durante abordagem em SP
03/09 (Porto Alegre): Homem é agredido por PM durante abordagem em Porto Alegre
26/05 (Luziânia, GO): Vídeo flagra PM de Goiás agredindo motociclista durante abordagem
18/10 (Piumhí, MG): Policiais são filmados agredindo suspeitos rendidos durante abordagem
Observem a quantidade de registros em vídeo. E a sequência de covardias:
14/01 (Blumenau, SC): Vídeo mostra rapaz sendo agredido por PMs em Blumenau
21/02 (Brasília): Vídeo mostra suposto policial dizendo para garoto morrer com dignidade e sem chorar após batida no DF
29/05 (SP): Vídeo mostra manifestante levando soco de policial em protesto na USP
29/05 (Vitória do Mearim, MA): Vídeo mostra que PMs testemunham execução de mecânico no Maranhão
02/10 (Recife): Durante protesto, PM atira contra manifestante do Ocupe Estelita, em PE
DESPREPARO PSICOLÓGICO
Em Cascavel (PR), a polícia chegou a prender um palhaço, em agosto. Motivo: ousou criticar a polícia do governador Beto Richa (PSDB): Palhaço é preso pela PM durante apresentação no Centro de Cascavel.
E a falta de preparo (técnico e psicológico) dos policiais não tem limites:
06/04 (Rio): No Rio, PM chama fuzil de “neném” e diz que vai pôr “bandido para dormir”
11/02 (GO): Policiais militares ‘exorcizam’ homem durante abordagem em Goiás
https://www.youtube.com/watch?v=L9egnNVfMP4
SOCIEDADE DO SIMULACRO
Alguns vídeos deixam claro o quanto vivemos na sociedade do simulacro. Ao registrarem uma perseguição em São Paulo, os programas de torcida jornalística pelos policiais comemoravam a ação até que as imagens deixaram claro que eles tentavam esconder a cena do crime. Os apresentadores tiveram de voltar atrás:
24/06 (São Paulo): Após balear homens rendidos, PM pega arma de um dos suspeitos e dá dois tiros no chão
Em outro caso de execução as imagens mostram que uma versão anterior da polícia paulista não tinha base nos fatos:
19/09 (São Paulo): Imagens inéditas mostram PM de SP ao prender, algemar e jogar jovem de telhado para ser morto a tiros
Dez dias depois foi a vez de policiais cariocas fazerem o mesmo:
29/09 (Rio): Policiais militares tentam forjar tiroteio em favela no Rio de Janeiro
A revista Época, aliás, mostrou que essa prática tem uma origem comum:
0610 (Rio): instrutores da PM do Rio ensinam a forjar tiroteios
E o Jornal Nacional divulgou um vídeo gravado em um celular que contesta versão de policiais para mais uma chacina ocorrida na Grande SP, em setembro:
08/10 (Carapicuíba, SP): Celular registra mortos de chacina em SP, no chão, com as mãos na nuca
TEMOS IMAGENS. TEREMOS MEMÓRIA?
Este crime de 2014, uma execução, teve vídeo divulgado em janeiro deste ano:
03/01 (Nilópolis, RJ): Em vídeo, PMs do Rio de Janeiro culpam vítimas por ação policial que terminou com a morte de uma estudante a tiros de fuzil
Haíssa Motta tinha 22 anos. Estava no banco de trás do carro de um colega, voltando de uma festa.
LEIA MAIS:
2015 – Mais um ano de naturalização da violência policial
2015 – Mais um ano de naturalização da violência policial (II)
2015 – Rio teve apartheid na zona sul e execução de crianças
Gostou do texto? Contribua para manter e ampliar nosso jornalismo de profundidade: OutrosQuinhentos