2015 – Homofobia ainda mata, persegue, apedreja e espanca
Publicado 30/12/2015 às 08:25
Beijo em novela ainda gera repulsa em certos setores da sociedade; outros homofóbicos, movidos pelo mesmo ódio, atiram e apedrejam até a morte
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
Ela foi ameaçada de morte, em junho, por representar numa crucificação a violência contra homossexuais e transexuais. A imagem tolerada em outras situações, como uma capa de revista com o jogador Neymar crucificado, não foi admitida por um setor obscurantista e violento da sociedade brasileira. Em entrevista a O Dia, Viviany Beleboni lembrou que “cruz não tem patente”:
16/06 (São Paulo): ‘A cruz não tem patente de ninguém’, diz atriz ‘crucificada’ na Parada LGBT
Agredida por um morador de rua, ela não quis ir à delegacia – onde seria tratada como um homem. “Sabe o que eu vou ter que fazer? Ficar trancada dentro de casa. É isso que esses religiosos, esses fanáticos, querem“.
A imagem de uma pessoa crucificada está longe de ser um exagero, como mostram algumas notícias de 2015. No Ceará e no Espírito Santo, homossexuais foram apedrejados:
10/02 (Itatira, CE): Homossexuais são perseguidos e apedrejados no interior do CE 14/06 (Cariacica, ES): Estudante morto a pedradas é enterrado em Cariacica, no ES
CONFUSÃO E ÓDIO
A homofobia pode atingir todo mundo. Não é incomum que pais e filhos, ou irmãos, sejam confundidos com homossexuais, por estarem abraçados ou de mãos dadas, e isso motive (aos olhos dos criminosos) agressões. Como esta:
05/05 (Rio): Amigos se abraçam e são espancados por grupo homofóbico na orla do Rio
O produtor cultural Adriano Cor foi assassinado na Baixada Fluminense. Amigos logo levantaram a hipótese de homofobia. E ela foi confirmada: o assassino repetia que odiava homossexuais.
08/07 (Nova Iguaçu, RJ): Ator e dançarino de 33 anos é morto; amigos suspeitam de crime homofóbico
12/09 (Nova Iguaçu, RJ): Assassino de Adriano Cor confessa crime na DHBP
RELIGIÃO E MÍDIA
Em outubro, um bispo sofreu um atentado em Fortaleza. Ele já vinha sofrendo ameaças. “Falava-se que qualquer dia poderíamos ser atingidos por uma bala, que qualquer dia iam calar a minha voz. A intenção era me calar, dizendo que eu tinha que parar com essa aberração”:
22/10 (Fortaleza): Bispo de igreja que acolhe público LGBT sofre atentado em Fortaleza
Em uma afiliada da Record em Aracaju, um apresentador chamou as atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg de “sem-vergonhas”, por protagonizarem um beijo gay na novela Babilônia, da Globo:
26/03 (Aracaju): Apresentador faz comentários homofóbicos e ofende atrizes da Globo
Ele também criticou um beijo de duas jovens em frente de um shopping popular na cidade. O curioso é que o texto do UOL reproduz frase que costuma ser reproduzida pelos homofóbicos: “De fato, qualquer casal de namorados se beijando agressivamente, seja ele homo ou hétero, é desconfortável”.
Como se beijos heterossexuais costumassem gerar desconforto.
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