Até na poeira: vírus respiratórios podem se propagar por partículas minúsculas

Usando porquinhos-da-índia, cientistas descobrem transmissão de vírus da gripe por partículas sólidas microscópicas. Cientistas se preocupam com SARS-CoV-2

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Um experimento com porquinhos-da-índia mostrou que o vírus da gripe pode pegar carona em partículas microscópicas, como poeira, se espalhar no ar e atingir em cheio o nariz de indivíduos sadios. O estudo, publicado esta semana na Nature Communications, teve início muito antes de a pandemia explodir e trata especificamente da influenza A nas cobaias. Mas é claro que, no contexto atual, levanta mais uma possível fonte de preocupação: e se o SARS-CoV-2 também se comportar dessa maneira?

Sabemos que superfícies contaminadas podem ser vetores de vários vírus respiratórios quando as pessoas encostam nesses lugares e, em seguida, levam a mão ao nariz ou à boca. Essas superfícies são chamadas fômites, e os cientistas da Universidade da Califórnia que conduziram os testes com os roedores falam em algo muito mais complicado: os fômites aerossolizados, que são sólidos minúsculos, como poeira, células mortas de pele e fibras de roupa, onde os germes podem grudar – e viajar. Foram feitos vários testes em que porquinhos-da-índia com vírus contaminaram outros não-infectados em gaiolas separadas, mas anexas. Isso acontecia com os roedores acordados e se mexendo, mas também quando os bichos contaminados estavam desmaiados e imobilizados. Os pesquisadores foram mais longe: sacrificaram algumas das cobaias contaminadas e, mesmo sem respirar e inertes, elas liberaram a mesma quantidade de partículas com vírus. Os cientistas também pegaram porquinhos-da-índia que já haviam sido infectados e curados, estando imunes, e usaram um pincel para revestir seu pelo de vírus. E mesmo assim houve contaminação. A única explicação possível é que o vírus passou pelo ar, e não pode ter sido pela respiração.

Embora isso tenha acontecido com o influenza A, não temos a menor ideia se outros vírus, como o SARS-CoV-2, podem se comportar assim também. Mas especialistas ouvidos pelo Wired acreditam que é algo a se prestar atenção. Até porque isso significaria muito em relação à proteção de trabalhadores que atuam na limpeza, por exemplo – uma atividade simples como varrer o chão é algo que levanta uma infinidade de partículas. Entre fevereiro e março, quando pesquisadores analisaram amostras de aerossol em dois hospitais de Wuhan, descobriram que os níveis de coronavírus no ar eram maiores nos locais onde a equipe médica trocava suas roupas de proteção. Na época, os autores já levantaram a hipótese de que o vírus estava sendo suspenso no ar pelo ato de remover as roupas contaminadas. Ninguém deu muita atenção porque eles não testaram se os vírus encontrados eram capazes de infectar pessoas.

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