Como os abortos clandestinos desaguam no SUS

Só este ano, sistema público precisou fazer mais de 80 mil procedimentos para salvar mulheres

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Um levantamento do G1, com informações do DataSUS, mostra que só no primeiro semestre deste ano foram feitas 80.948 curetagens e aspirações – para de limpeza do útero após um aborto incompleto – no sistema público, enquanto o SUS  fez apenas 1.024 abortos legais. Isso significa que, para cada mulher que conseguiu um aborto legal e seguro, outras 79 precisaram recorrer a serviços públicos depois de procedimentos clandestinos. Para especialistas, o número de interrupções legais da gravidez realizadas certamente é menor do que deveria ser, mesmo considerando somente os casos previstos na lei atual.”Para os níveis de violência que a gente tem hoje no Brasil, que são muito, muito perversos com as mulheres, nós deveríamos ter um número muito maior de abortos legais. Essa proporção maior de curetagens e aspirações do que de abortos legais é esperada, mas o tamanho dela não é justificável. Não é possível que a gente tenha, depois de 80 anos de lei, um percentual tão pequeno de abortos legais em um país que é tão violento contra as mulheres”, avalia  o obstetra Jefferson Drezett, que coordenou o serviço de aborto legal do Hospital Pérola Byington, em São Paulo.

Embora os dados sejam contestados por ativistas ‘pró-vida’, sabemos que a legislação restritiva brasileira prejudica não só as mulheres – sujeitas à morte ou prisão –, como também o SUS. Dois anos atrás, um levantamento da Folha concluiu que em uma década foram gastos quase R$ 500 milhões em internações para tratar as complicações de abortos mal sucedidos. 

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