As novas promessas da vacina russa

Pesquisadores garantem imunidade de no mínimo dois anos – um atestado impossível nesse momento

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Dez dias depois de a Rússia anunciar o registro da vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia, os resultados dos testes clínicos de fase 1 e 2 continuam sem seus resultados publicados em parte alguma (as informações sobre eles estão aqui e aqui). 

Em vez disso, o governo russo divulgou ontem resultados de pesquisas com outras drogas e vacinas que utilizam tecnologia parecida, produzidas nos últimos 30 anos, como forma de demonstrar a segurança e eficácia do seu imunizante. São, por exemplo, trabalhos sobre vacinas contra Aids, hepatite B, zika e ebola. “Se antes os dados apresentados para a Sputnik V careciam de informações e de publicações em periódicos científicos revisados por pares, os dados publicados representam cerca de 250 ensaios clínicos e 77 artigos científicos publicados de diversos países, incluindo China, Estados Unidos, Alemanha e a própria Rússia”, diz a matéria da Folha. O problema é que isso não muda nada: o mundo não precisava de uma revisão bibliográfica sobre a tecnologia, e sim de informações sobre a Sputnik V, que seguem indisponíveis.

Os resultados das fases 1 e 2 de sua vacina vão ser publicados em revista científica ainda em agosto, segundo Kirill Dmitriev, presidente do Fundo Russo de Investimento Direto, que financiou as pesquisas. Esperamos que sejam promissores, mas lembramos: ainda assim, nunca deveriam ser suficientes para a obtenção de um registro. A eficácia da vacina só é comprovada após a conclusão da fase 3, e a aplicação em massa de uma vacina ruim pode ter resultados catastróficos. 

A fase 3 começaria este mês com dois mil participantes, mas agora a promessa é que conte com 40 mil voluntários. Em entrevista coletiva ontem, responsáveis pelo desenvolvimento da vacina informaram que ela deve oferecer imunidade por, no mínimo, dois anos – mas, francamente, se ainda não se sabe nem se a vacina será eficaz contra covid-19, prometer proteção por dois anos é impossível nesse momento. Disseram também que o produto estará pronto para ser exportado em novembro. E que negociam parcerias para a fabricação com o Brasil, Índia, Coreia do Sul e Cuba . Por aqui, além do governo do Paraná, o da Bahia também se reuniu com representantes russos para discutir uma futura parceria. 

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