Por que o leilão de Libra golpeia o país

Não era necessário começar exploração agora. Governo priorizou compromissos com o mercado financeiro e atingiu a Petrobras

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O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicou, no dia 25/6, a sua Resolução n. 5, na qual são aprovados os parâmetros técnicos e econômicos do edital e do contrato de partilha da produção para o campo de Libra.

Os técnicos conscientes da riqueza que este campo representa e do valor estratégico de se ter controle sobre o respectivo petróleo sabem que Libra deveria ser entregue através de contrato de partilha à Petrobras, sem leilão prévio, utilizando o artigo 12 da lei 12.351. Inclusive, esta entrega não precisaria ser feita agora e, sim, na época em que esta empresa já estivesse colhendo as receitas dos vários investimentos feitos no Pré-Sal e em outras áreas. A sociedade brasileira está abastecida de petróleo pelos próximos 40 anos graças à Petrobras, então, não há pressa para explorar o Pré-Sal. Aliás, nenhuma das recentes rodadas de leilões, assim como as próximas, precisariam ser realizadas. Atualmente, há um furor privatista descomunal.

Nesta Resolução, o CNPE fixou o bônus em R$ 15 bilhões e o percentual mínimo do “excedente em óleo”, ou seja, o “lucro líquido”, a ser pago à União pelo consórcio contratado com a cláusula de partilha da produção, em 40%. Antes desta resolução, apesar de ainda existir alguma discordância, especulava-se que um bônus de R$ 8 bilhões e um percentual mínimo do lucro líquido de 65% poderiam ser considerados como a convergência entre algo aceitável pelo mercado e satisfatório para o interesse público.

Segundo matéria de certo jornal econômico, “as contas da União neste ano (2013) só fecharão se a receita desse bônus ingressar nos cofres públicos. O superávit primário do governo central (…) não será alcançado sem a receita do Pré-Sal (Libra)”. Então, claramente, o governo brasileiro resolveu priorizar o problema de curto prazo em detrimento das repercussões no médio e longo prazo. Assim, o primeiro objetivo deste artigo é avaliar o que significa esta priorização do curto prazo

Para atingir este objetivo, são comparadas as duas alternativas de valores dos parâmetros citados: (1) valores de “convergência entre mercado e interesse público” e (2) valores “contidos na Resolução n. 5 do CNPE”. Pode-se dizer que a decisão do governo correspondeu ao recebimento de um empréstimo de R$ 7 bilhões, que é o acréscimo do bônus em relação ao esperado (R$ 15 bilhões – R$ 8 bilhões), para ser pago durante a vida útil do campo, usando a diminuição de 25% do lucro líquido, que o governo abriu mão em relação ao valor esperado (65% – 40%). Armando o fluxo de caixa desta diferença de alternativas, pode-se verificar que o governo está recebendo um empréstimo com a taxa de 22% ao ano, acima da inflação, ou seja, está fazendo um péssimo negócio. Tudo em nome do fechamento das contas governamentais de 2013.

Outras observações sobre Libra no estágio atual das informações são as seguintes. Provavelmente, a Petrobras não conseguirá participar do leilão de Libra para ampliar sua parcela no consórcio, além dos 30% que já tem direito, por estar com recursos limitados. Sem ampliar a participação, ela já terá que pagar de bônus R$ 4,5 bilhões (30% de R$ 15 bilhões) e investir R$ 60 bilhões (30% de R$ 200 bilhões) durante a fase de desenvolvimento do campo. Esta é mais uma razão por que o leilão de Libra não deveria acontecer.

Assim, outra razão decorre do fato de a Petrobras só ficar com 30% do lucro líquido em óleo e os restantes 70% ficarem com as petrolíferas estrangeiras. Nenhuma outra empresa nacional deverá ter recursos para participar deste leilão. É inédito no mundo o leilão de um campo com 8 a 12 bilhões de barris conhecidos; e mais inédito, se for considerado que pouco usufruto será carreado para nacionais. Com exceção dos países militarmente ocupados.

Enquanto pessoas socialmente comprometidas esperneiam com a posição atual do governo brasileiro, forças antinacionais continuam na estratégia vitoriosa de dominação. Aliás, estas forças, desde que o setor do petróleo despontou, vêm insistentemente buscando tomar posse dos benefícios que ele traz. A campanha “O petróleo é nosso” e o suicídio do presidente Getúlio Vargas atrasaram muito esta dominação. A recente estratégia delas, de submissão dos políticos, desvirtuamento dos objetivos nacionais, controle total da mídia tradicional e cooptação da academia, tem dado resultados fantásticos, como a quebra do monopólio estatal, a aprovação da lei neoliberal 9.478, a entrega de cerca de 900 blocos do território nacional através desta lei, que repassa o petróleo para quem o produzir.

O presidente Lula, no seu segundo mandato, com a descoberta do Pré-Sal, demonstrou ter a compreensão da grandeza estratégica e financeira que o petróleo representa e, graças a seu empenho pessoal, 41 blocos desta área foram retirados da nona rodada às vésperas da sua realização, para esperarem a aprovação de uma lei melhor. Com seu peso político, conseguiu aprovar a lei 12.351, que, sem romper com o capital externo, busca trazer razoáveis benefícios para a sociedade brasileira, o que demonstra a lei 9.478 ser uma excrescência.

Entretanto, continua a insistência do capital internacional pela usurpação da nossa riqueza e só o fato de existirem três rodadas no presente ano bem demonstra seu sucesso. A nova conquista perseguida agora, pelo que se depreende do artigo de um porta-voz do capital estrangeiro, é a retirada da Petrobras da posição de operadora única do Pré-Sal, argumentando que isto seria só uma excepcionalidade para o caso de Libra. Este é mais um caso em que se objetiva derrubar o primeiro portão para, depois, invadir o castelo todo. A Petrobras ser a operadora única do Pré-Sal significa para os brasileiros mais compras no país e o fornecimento de dados confiáveis sobre o campo.

Infelizmente, a presidente Dilma, hoje, “privatiza e desnacionaliza” Libra. Trata-se de uma luta desigual e a presidente, que deveria nos dar apoio, é insensível aos nossos argumentos. Se a queda de popularidade da presidente significasse o surgimento de um candidato de esquerda com compreensão da importância da questão da soberania como forma eficaz de atendimento das necessidades da população, eu votaria neste novo candidato.

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4 comentários para "Por que o leilão de Libra golpeia o país"

  1. Jose disse:

    Não existe petroleo nenhum gente ingênua!

  2. O que vem dando errado? apesar dos esforços da ANP, acredito que a estratégia brasileira está errada. Primeiro quando ouve o vazamento no Campo de FRADE. A Presidenta DILMA ROUSSEFF, mandou a Polícia Federal ir vistoriar até os funcionarios da Chevron em auto mar. Nomearam um delegado inexperiente, que junto com o Carlos Minc, fez uma série de entrevistas imbecis com o delegado, visando acharcar a CHEVRON. Essa sucessão de erros, além do fato da senhora Graça Foster, bater publicamente na gestão anterior da Petrobras, é óbvio que deixou o mercado perplexo, Indeciso, hesitante; espantado e atônito, com tanto amadorismo, tanta falta de respeito por quem é parceiro da Petrobras e do BRASIL. Só a CHEVRON, tem presença no Brasil desde 1915. Creio que se faz urgente suspender esse leilão de LIBRA. Pois estamos entregando tudo, a maior riqueza já descoberta no BRASIL, para ser de Chineses, Malasianos etc. Não se trata aqui de espírito de Xenofobia que significa aversão a pessoas ou coisas estrangeiras, mais sim de PATRIMÔNIO NACIONAL, riqueza que deveria sim ser explorada por empresas brasileiras, em parceria com estrangeiras. Quando estamos sendo espionados pela “NSA” em questões estratégicas já comprovadas, deveriamos enchergar a longo prazo. O Governo vem errando sistematicamente, e estar entregando tudo, dados, estudos, conteúdo estratégico, e não podemos hoje confiar mais em quem manipula essas informações. Pois o resultado já tá aí, é só vê o “modus operandi” do MENSALÃO. Isso já passou do sinal vermelho, e não se ver ninguém, nem oposição, nem governo discutir essas questões estratégicas. Isso pode levar o BRASIL a tornar-se um Grande Paraguai, e isso se nós, se ainda amamos essa Nação não podemos mais permitir. Já ouve abuso demais!
    MARCÍLIO NOVAES MAXXON
    Presidente da CONPETRO
    CONPETRO – Confederação Nacional do Petróleo,
    Gás Natural, Biocombustíveis e Energias Renováveis
    http://www.conpetro.com.br

  3. Segundo fontes consultadas pelo iG, a Sadia pode valer algo entre R$ 15 bilhões e R$ 10 bilhões e seriam poucos os grupos que teriam recursos atualmente em caixa para bancar uma aquisição desse porte, sobretudo no Brasil.

  4. José Frid disse:

    Dilma privatizando sem necessidade, vendendo o futuro para tapar buracos do seu desgoverno, afundando a Petrobrás. Às ruas, povo!

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