Se meu apartamento falasse (às Big Techs…)

Estudo evidencia, pela primeira vez, nova forma de invasão de privacidade. Aparelhos domésticos “inteligentes” conectam-se uns aos outros e enviam informações sensíveis sobre as famílias ao Google. Depois, a publicidade faz a festa

Imagem: Guardian Design
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Esqueça a ideia ingênua de que um pedaço de fita crepe, na câmera de seu notebook, impedirá as Big Techs de devassar seus segredos. As Big Techs já desenvolveram novo método para invadir sua vida, conhecer seus hábitos e desejos (prevendo-os, às vezes) e oferecê-los à publicidade. Um estudo pioneiro realizado por várias universidades e centros de pesquisas – entre eles, o Proper Data e as universidades de Berkeley e Northeastern – revela como dispositivos de “casas inteligentes” comunicam-se entre si – algo que nunca fora comprovado. A lista é longa: smartTVs, eletrodomésticos, sensores de iluminação, alto-falantes, termostatos, assistentes virtuais, câmeras de segurança, etc. Tudo que é conectado a uma rede wifi local pode comunicar-se entre si e enviar informações via aparelhos como smartphones.

Para provar isso, a equipe de pesquisadores promoveu uma “grande balada de aplicativos”, como o El Pais contou, com bom humor. Um laboratório-apartamento foi criado, onde 100 aparelhos IoT – sigla para a “internet das coisas”, ou seja, rede de objetos capaz de reunir e transmitir dados – foram conectados e seus “comportamentos”, analisados. Resultado: quando um dispositivo era ligado, logo ele usava o wifi do local para reconhecer a outros dispositivos, extraindo informações deles.

“A exposição dessas informações sem controle”, disse Narseo Vallina-Rodríguez, um dos pesquisadores, “permite que serviços de publicidade ou aplicativos espiões criem uma impressão digital de sua casa que a identifique de forma exclusiva ou possa inferir seu nível de renda e hábitos” – além de monitorar a dinâmica e quem entre e sai de uma casa.

O impacto desta pesquisa se estende muito além da academia, frisou o portal Techxplore. “As descobertas sublinham a necessidade imperativa para os fabricantes, criadores de software, operadores de plataformas móveis e de IoT, bem como para governantes, de tomarem medidas para melhorar as garantias de privacidade e segurança dos dispositivos domésticos inteligentes.”

É possível que estes aparelhos IoT possa ser hackeados para espionagem política – em 2022, um empresário que fornece softwares de vigilância a polícias e Forças Armadas brasileiras gabava-se que a Alexa é “uma grande solução de escuta ativa em uma residência”. Mas a principal preocupação dos pesquisadores é com a “vigilância comercial”: assim como muitas páginas na internet fazem uma impressão digital do usuário para reconhecê-lo, mesmo quando cookies são excluídos, permitindo que as Big Techs dirijam suas publicidades, o estudo mostra que é possível, na teoria, fazer o mesmo com casas e famílias específicas. Afinal, mostrou-se ser muito fácil descobrir quando um casal se separa ou o nível de renda de amigos que vão a sua festa de aniversário, provoca o El Pais, em sua reportagem.

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