Entrando pelo Kahn
Em um furo mundial, o Chéri à Paris descobriu as três linhas da defesa que o ex-chefe do FMI pretende apresentar
Publicado 20/05/2011 às 18:16
(Chéri à Paris, por Daniel Cariello)
O trocadilho é tão inevitável quanto besta, mas a sensação geral na França é de que Dominique realmente Strauss pelo Kahn. O agora ex-chefe do FMI e ex-favorito à sucessão de Sarkozy procura uma maneira de explicar a grande lambança que envolve o seu nome e o seu inominável. Em um furo mundial, o Chéri à Paris descobriu as três linhas da defesa que ele pretende apresentar.
Primeira linha
– Mas, seu juiz, eu não fiz nada de errado.
– Como assim? O senhor está sendo acusado de abuso sexual e diz que não fez nada de errado?
– Tudo aconteceu quando fui pagar a conta do quarto. Como gerente do dinheiro do mundo inteiro, prefiro pagar as faturas antes, porque aí a grana volta mais rápido pros cofres do FMI.
– Continue, senhor Kahn.
– Eu perguntei pro atendende quanto devia. Ele respondeu: “Cinco mil dólares”.
– Cinco mil por um quarto, senhor Kahn?
– Foi exatamente o que perguntei pra ele: “Cinco mil por um quarto?“
– E o que ele respondeu?
– Ele falou: “É, cinco mil dólares, mas todos os serviços estão inclusos”. Eu falei: “Por esse preço, ainda é pouco”.
– Realmente, é pouco.
– Então eu insisti, eu sempre quero mais. E aí ele completou: “E, é claro, todos os funcionários do hotel estarão à sua inteira disposição”. Viu? À inteira disposição. Foi ele mesmo quem disse!
Segunda linha
– Seu juiz, quando a camareira falou que sonhava em ver a minha eleição, eu entendi “ereção”. Como o senhor pode ver, é culpa do sotaque dela.
Terceira linha
– Seu juiz, a culpa é do Obama.
– Senhor Kahn, o que está tentando insinuar contra o nosso presidente?
– Acontece, seu juiz, que a camareira e eu estávamos tendo uma conversa amena sobre os Estados Unidos. E ela me confessou um grande orgulho em ser governada pelo senhor Obama.
– Todos nós temos muito orgulho, senhor Kahn.
– Ela me falava da campanha presidencial, da mobilização da população, do slogan.
– Continue…
– Ela disse em voz forte: “Yes, we can.”. Eu repeti: “Yes, we can”. Aí ela ficou de pé, abriu os braços e gritou com força: “Yes, I Kahn”.
– E você?
– Depois dessa convocação? Yes, I créu, of course.
–
Daniel Cariello, editor da revista Brazuca, é colaborador regular da Biblioteca Diplô/Outras Palavras. Escreve a coluna Chéri à Paris, uma crônica semanal que vê a cidade com olhar brasileiro. Os textos publicados entre março de 2008 e março de 2009 podem ser acessados aqui.
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