Crise econômica, crise do indivíduo
Publicado 07/10/2011 às 03:37
Aliás, os últimos três filmes gregos que chegaram às telas francesas desde a crise (e talvez por causa da crise, já que os distribuidores franceses sempre fazem da miséria econômica um forte argumento publicitário) ignoravam a sociedade, fechavam-se literalmente dentro de uma casa e abordavam os transtornos de jovens adultos. Em Dogtooth, os jovens jamais tinham conhecido o mundo além dos muros da casa. Em Strella, a protagonista travesti tornava-se Édipo ao viver uma tórrida história de amor com o pai dentro da própria casa. Pode-se insistir sobre a sociedade e a política (pública por definição), mas todos estes filmes preferiram instalar suas câmeras dentro do lar, no ambiente privado, na falência do núcleo familiar.
Attenberg reduz de maneira tão drástica o universo em tela que todos os personagens poderiam ser contados nos dedos de uma mão: além da filha, há o pai, sedutor e protetor, a amiga, heterossexual e manipuladora, o cliente-namorado, e só. A câmera prefere espremer Marina contra paredes brancas, ou isolá-la num corredor vazio. Falta contexto, falta desenvolvimento, e o filme acaba por transformar sua falta de referências numa finalidade em si. Vide as diversas “danças” entre as duas amigas, coreografadas, e que não adicionam indicam nenhuma direção precisa à narrativa.
O que interessa nesta obra não é portanto seu roteiro, nem seu tratamento da sexualidade ou da morte, muito menos sua estética simples. O mais interessante é justamente a fragmentação do sentido, o jogo de insinuações. O público é posto numa posição ativa, como se o filme não lhe fosse oferecido, mas ao contrário, exigisse que ele se concentrasse para produzir alguma significação precisa. O mais instigante nestas “telas abstratas” é o convite a uma experiência nova, inesperada, um convite ao desconforto (toda novidade nos retira do conforto dos elementos conhecidos), à dificuldade em se explicar porque se gostou ou não gostou.
Afinal, os elementos simples para se abraçar ou rejeitar uma obra estão ausentes: “empatia”, “mensagem veiculada”, “estética inovadora”, “autor conhecido” etc. Quem gostar ou desgostar de Attenberg vai ter um grande trabalho para justificar – para si mesmo, para os amigos – as razões de sua própria percepção de qualidade. E isto já é, por si próprio, uma relação espectatorial das mais produtivas.