Amor ao Cinema, um triângulo amoroso

Mostra do CineSesc projeta filmes que convidam a refletir sobre fazer e ver cinema. Tela de exibição, realizadores e espectadores compõem um trio que se fortalece na experiência coletiva – que passa pela produção, exibição e fruição dos filmes

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Começa nesta quinta, dia 27/04, no CineSesc, a Mostra “Amor ao Cinema”, repleta de filmes que homenageiam a linguagem cinematográfica. Exibirá 36 obras, ao longo de duas semanas (veja programação). Poderá ser acompanhada na sala escura, em São Paulo, ou em qualquer ponto do país, via Plataforma do Sesc Digital. Lança perguntas inquietantes sobre as relações afetivas produzidas pelo cinema.

O que seria do mundo sem a ida do infante Spielberg ao cinema para assistir a “O Maior Espetáculo da Terra”?

Na ficção autobiográfica, Os Fabelmans, vemos uma criança tentar obsessivamente reconstruir (e reviver) a cena da trágica explosão vista no clássico de 1952. Naquele momento, em sua primeira experiência como espectador de cinema, algo se transformou. O desejo que o impulsionou a realizar filmes ao longo da vida, vem, de alguma forma, da experiência ativa como espectador, do outro lado da tela.

É assim que a equipe de programação do CineSesc se pôs a reunir filmes que trazem inúmeras reflexões sobre fazer e ver cinema. Entre a tela de exibição, realizadores e espectadores, há um triângulo amoroso que se fortalece na experiência coletiva – passando pela produção, exibição e chegando à fruição de filmes.

Muitos de nós temos, na nossa memória, ao menos algum filme que tenha nos marcado, seja no cinema em tela grande, ou até mesmo, mais recentemente, no computador ou celular. Ser tocado por um filme é uma experiência que depende de muitas variáveis. Mas sobretudo, depende da nossa possibilidade em baixar resistências psíquicas e sofrer certos impactos. Choques, pensando com Walter Benjamin. O inquietante, pensando com Freud.

Porém, esta possibilidade se abre não por escolhas individuais, como quer o pensamento neoliberal. Trata-se muito mais de condições coletivas, subjetivas e ancestrais, que a formação cultural nos engendra.

Ver filmes em tela grande, sala escura, sem a possibilidade de interrupções e em meio a outras pessoas pode, de fato, ajudar na abertura de sentidos para outros mundos. E em tempos em que a maioria da população urbana não consegue passar muitos minutos sem checar o celular, a sala de cinema tem se mostrado um desafio e tanto.

A mostra estende-se de 27/04 a 10/05. E no seu decorrer, será possível acessar a filmes clássicos em cópias restauradas em 4K, como o comovente japonês “Depois da Vida” e o cult “Adeus, Dragon Inn”, que se passa numa sala de cinema taiwanesa decadente e fascinante. Também serão exibidos filmes inéditos como “O Deus do Cinema” e “Terceira Guerra Mundial” – ambos exibidos apenas na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e desconhecidos por grande parte do público.
Filmes que tematizam as inúmeras transformações tecnológicas, e, portanto, sociais, que o cinema vive ao longo de um século, como “Cantando na Chuva”, “O Crepúsculo dos Deuses” e até o mais recente “Rebobine, Por Favor” entram na Mostra. Contará ainda com a rara presença de Neville D’Almeida, em uma sessão especial com o anárquico “Matou a Família e Foi ao Cinema”.

E, para quem não poderá se deslocar ao cinema, ou não mora na cidade de São Paulo, haverá uma programação na Plataforma do Sesc Digital, com filmes importantíssimos como os documentários sobre Alice Guy e Ingmar Bergman, “Crítico”, de Kleber Mendonça e “A Mulher da Luz Própria”, sobre nossa grande atriz a realizadora Helena Ignez.

Na sessão de abertura, nesta quinta, além da exibição de “O Deus do Cinema”, Cristiano Burlan estreará seu curta-metragem, em diálogo com seu longa de 2008, “O Condutor da Cabine”. Dessa vez, brilha a participação de Valmir, um dos projecionistas mais antigos do CineSesc, que certamente irá atrair o público a um universo de encantamento e amor ao cinema.

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