?️ Os impasses do transporte público pós-pandemia

Lógica dos privilegiados tenta se impor: segurança do homeoffice e dos automóveis — deixando as periferias à deriva. Mas e se ônibus e metrô fossem baratos e de qualidade, financiados nos moldes do SUS, livrando-nos das “máfias rodoviaristas”?

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Roberto Andrés em entrevista a Rôney Rodrigues, no Tibungo

Em cidades com a tradição de um urbanismo mais democrático, como Barcelona, Roma e Paris, a pandemia impulsionou pequenas transformações na mobilidade urbana: ampliaram-se calçadas, vias exclusivas e zonas de prioridade para pedestres. O número máximo de viajantes no metrôs foi reduzido. Ônibus turísticos e escolares foram usados para aumentar a frota. Até áreas de carga e descarga foram ampliadas, devido ao aumento de serviços de delivery.

O governo brasileiro parece conformado com o fato de que a população mais pobre poderá morrer exposta à covid-19, ao se deslocarem para o trabalho. Nesse vazio de propostas, emergem duas soluções falhas e elitistas. A primeira é a do trabalho em casa, que funciona apenas para uma parcela menor da população, que trabalha em escritório. A segunda é o automóvel: opção individualista, poluente, cara e que, se intensificada, pode tornar a vida urbana ainda mais insalubre.

Essa ausência de políticas públicas efetivas poderá servir para acentuar as brutais desigualdades já existentes. Mas como implantar soluções coletivas pro transporte nas cidades, ao invés dessas, mais individualistas e antidemocráticas?

No programa de hoje, conversaremos com o arquiteto-urbanista Roberto Andrés, também autor de Outras Palavras. Ele é professor da Universidade Federal de Minas Gerais e editor da revista PISEAGRAMA. Andrés tem uma proposta surpreendente: um rearranjo do financiamento do transporte público, que deveria ser federalizado, assim como o SUS, e subsidiado pelo governo, como já acontece em diversas cidades do mundo. Isso retiraria das mãos da “máfia do transporte” um serviço essencial e determinante para o funcionamento das cidades, tornando mais viáveis ações de prevenção à contaminação. Na entrevista, ele detalha as possibilidades a médio e longo prazo.

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