?️ A nova batalha das editoras independentes

Elas despontaram nos últimos anos, fenômeno da nova cena cultural. Mas, sem capital, podem sucumbir à queda drástica nas venda. Para sobreviver, apostam numa cultura anti-Amazon: o livro como ferramenta política, não só produto

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Tadeu Breda em entrevista a Rôney Rodrigues, no Tibungo

Nos últimos anos, duas tendências opostas marcaram a atividade de edição de livros no Brasil. Por um lado, as livrarias se transformaram em redes de “superstores”; editoras clássicas faliram ou foram vendidas para editoras estrangeiras, e, as que sobraram, parecem interessadas em publicar apenas o que vende muito. Foi nessa esteira que também cresce o Império da Amazon, a toda-poderosa do varejo. Por outro lado, parece ter emergido um novo Ecossistema do Livro, no Brasil. Cresceu o número de feiras literárias, pequenas livrarias e editoras independentes, que parecem compor uma espécie de resistência, impulsionados pelo alcance da internet e preços relativamente baixos de impressão.  Ela se sustentava, com esforço, até que chegou a pandemia.  As vendas caem: parte de quem antes costumava comprar livros foi demitida ou está em vias de ter salários reduzidos. O momento é de contingência —  e livro é um dos primeiros cortes.

Há algumas propostas para superar essa crise da cena editorial independente. As novas editoras e pequenas livrarias, por exemplo, têm um custo muito baixo e alta eficácia, mas precisam de boas condições de crédito, auxílio emergencial, subsídios ou alternativas mais baratas para o frete de livros, facilitando as vendas online. Governos também poderiam incluir livros em programas sociais básicos. Nos EUA, por exemplo, a Associação Americana de Livreiros tem arrecadado doações para prover auxílio financeiro para livrarias independentes e de pequeno porte.

Nessa edição do Tibungo, entrevistamos o jornalista Tadeu Breda, um dos fundadores da Editora Elefante, parceira de Outras Palavras e uma das organizadoras do Salão do Livro Político. Sua aposta é tão instigante quanto necessária: a construção de uma cultura livresca que se oponha ao Império da Amazon (que transforma livros em commodities, baseando nossa relação com o conhecimento no “menor preço” e no “imediatismo”). Para Breda, a contribuição das livrarias e editoras independentes é mais eficaz se desacelerarem o frenético fluxo de venda e compra para cultivar uma relação mais vagarosa (e forte) com leitores, dando-lhes atenção e estimulando a crítica aos gigantes do mercado editorial. A ideia é de “humanizar o livro”, entendido não apenas como mercadoria, mas também instrumento para a política, a cultura e a felicidade humana. Outras Palavras, inclusive, publicou um capítulo de livro que sairá em breve pela Editora Elefante, Contra Amazon, de Jorge Carrión.

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