Se o piauiense Clóvis Moura foi o principal responsável por tornar a resistência nos quilombos e senzalas objeto de estudos sérios nas ciências sociais brasileiras, o paulistano Marcelo D’Salete é certamente o artista que consagrou o tema nos quadrinhos nacionais. Seu Angola Janga, editado pela Veneta, reviveu Palmares em uma das mais modernas formas de expressão artística e, por isso, se tornou um clássico desde o momento de sua publicação.

De 2018 para cá, o quadrinho já se tornou um multicampeão da nona arte. No ano de seu lançamento, foi ganhador do Prêmio Jabuti Quadrinhos, do Prêmio Grampo Ouro e do Troféu HQMix. Por outra obra sobre o Quilombo dos Palmares, seu autor já recebeu também o Eisner, premiação de enorme importância internacional. D’Salete lança ainda neste ano mais um quadrinho sobre a história da luta negra no Brasil, Mukanda Tiodora, abordando as lutas da população negra em São Paulo nos anos 1860 — e que já vem candidatíssimo a todos os prêmios.

Pudera. Não há palavra melhor que ímpares para descrever os textos e os desenhos assinados por D’Salete. Ao longo de suas mais de 400 páginas (e, talvez, por isso melhor definida como uma graphic novel), Angola Janga cativa o leitor, muito por dar materialidade – nomes, lugares –  a processos históricos que, à primeira vista, podem parecer distantes ao leitor de nosso tempo. Acotirene, Ganga Zumba e Zumbi surgem como seres bastante concretos, de contornos bem definidos, seja em termos de construção do personagem ou de estilo de arte gráfica.

Angola Janga, porém, não resume aos grandes personagens da História com H maiúsculo. Traça a ligação entre a rebeldia que agitava  as senzalas e a guerra popular prolongada dos quilombos, acompanhando a trajetória de escravizados “anônimos” como o bravo Soares, e como se uniram para paulatinamente formar o exército da Pequena Angola, baluarte anti-escravista e anti-colonial na Serra da Barriga. 

Outras Palavras e Editora Veneta sortearão dois exemplares de Angola Janga, de Marcelo D’Salete, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima terça-feira, 29/11, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 20% de desconto no site da editora.

Tratando com tamanha sensibilidade e maestria uma questão histórica tão complexa e rica, Angola Janga não podia ser menos do que a primeira história em quadrinhos com bibliografia de que se tem notícia! Ou, pelo menos, de que eu tenho notícia. Nela, o já citado Clóvis Moura, com seus clássicos Rebeliões da senzala e Dicionário da escravidão negra no Brasil, divide espaço com outros grandes pensadores-militantes da luta negra brasileira, como Edson Carneiro e Joel Rufino dos Santos. Para a produção da obra, o quadrinista dedicou onze anos de pesquisa.

O livro de D’Salete é muito feliz em se encaminhar para a conclusão de sua narrativa sugerindo que não está nada concluído na história, e que os oprimidos ainda tem contas para acertar com os algozes. Deixando no ar que a queda física de um quilombo em 1695 não poderia parar o anseio negro pela liberdade. Que há um fio condutor dos resistentes das matas alagoanas até os quilombos urbanos hoje incrustados nas metrópoles. Que se Palmares não vive mais, se fará Palmares de novo.

Neste Novembro Negro, os sorteios que Outros Quinhentos promove entre os leitores que contribuem financeiramente com o trabalho de Outras Palavras se dedicam à celebração de nomes da história, cultura e política da emancipação negra e popular no Brasil. Com a ação de hoje, queremos homenagear o imortal Zumbi dos Palmares, que se soma aos já comemorados Carlos Marighella, Paulinho da Viola, Lima Barreto e Clóvis Moura.

Sortearemos dois exemplares de Angola Janga, de Marcelo D’Salete, entre os apoiadores do nosso jornalismo. Realizado em parceria com a Editora Veneta, o sorteio receberá inscrições até a próxima terça-feira, 29/11, no formulário que será enviado por e-mail na lista do Outros Quinhentos.

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