Clóvis Moura, historiador da resistência negra

De Palmares aos Malês, obras do intelectual comunista piauiense são essenciais para compreender passado de lutas. Apoiadores de Outras Palavras concorrem a 5 exemplares de Quilombos – resistência ao escravismo

A contrapelo da história oficial, que insiste em celebrar sanguinários bandeirantes e independências negociadas, os movimentos sociais têm conseguido, cada vez mais, inserir a história das lutas do povo na memória coletiva nacional. Zumbi e o Quilombo dos Palmares, símbolos da resistência aos poderes coloniais e que só passaram a ser homenageados no recentíssimo feriado do Dia da Consciência Negra, são exemplos. Nesse esforço de passar a contar a história que a história não conta, o piauiense Clóvis Moura teve papel de destaque e merece ser cada vez mais rememorado.

Intelectual de altíssimo quilate sem jamais ter sido acadêmico ou professor universitário, Clóvis Moura conduziu suas pesquisas científicas em profunda união com sua militância política. Comunista dos vinte anos até o fim da vida, suas principais obras – Rebeliões da senzala, Sociologia do negro brasileiro, Dialética radical do Brasil negro – se assentam em uma compreensão marxista da realidade social.

Seu olhar materialista e dialético o permitiu ver muito além das interpretações em voga, que diziam que o escravizado havia sido passivo ou mesmo conivente com sua própria exploração. Em trabalhos como Quilombos – resistência ao escravismo, editada pela Expressão Popular, demonstrou que, longe de ser esporádica, a luta dos escravos contra os senhores era sistemática, tendo as áreas quilombolas como espaço de organização da rebeldia.

Muito por mérito de sua pena, podemos hoje entender o caráter revolucionário de Palmares, uma experiência em oposição radical ao escravismo-colonialismo que pariu o capitalismo. As fugas em massa, os assassinatos de senhores e as guerrilhas deixam de ser expressões isoladas de insatisfação e passam a ser parte de uma estratégia política coordenada dos trabalhadores negros, feita para travar a luta de classes de seu tempo.

Clóvis não travou sua batalha de ideias só nos livros. Durante sua trajetória militante, se envolveu com diversos jornais e revistas que compunham a influente imprensa comunista dos anos 40, 50 e 60. Quando viveu em Salvador, foi redator d’O Momento e se aproximou da Academia dos Rebeldes organizada por Jorge Amado e Edison Carneiro, colaborando com sua revista Flama.  Já em São Paulo, participou das atividades da Fundamentos, uma das principais publicações teóricas do Partido Comunista à época, onde dividiu redação com Caio Prado Júnior e Vilanova Artigas. 

Outras Palavras e Expressão Popular sortearão cinco exemplares de Quilombos – resistência ao escravismo, de Clóvis Moura, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima segunda-feira, 28/11, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 25% de desconto no site da editora.

Autodidata, sua trajetória e biografia – um filho de negro com alemã, mulato de Amarante (PI) que foi viver no Rio Grande do Norte, na Bahia e em São Paulo – o ajudaram a construir um repertório intelectual original e singular, muito valorizado pelo PCB, pelo PCdoB e pelo MST, organizações onde militou ou com quem colaborou. Pedro Pomar, dirigente comunista por décadas, o teve como amigo e colaborador próximo, como conta sua filha.

Clóvis também foi um dos responsáveis, com suas obras, por traçar a linha que conecta as resistências de ontem com as lutas do hoje – e celebrá-las como nosso glorioso passado insubmisso. Em seu entendimento, de Palmares ao MST, passando por Canudos e pela Guerrilha de Araguaia, podemos ver a chama da revolta do povo brasileiro, ainda em busca de dar cabo de sua tarefa histórica contra os filhos dos senhores de escravos que nos governam até hoje.

Neste Novembro Negro, os sorteios do Outros Quinhentos se pautam por uma temática especial, centrada em nomes incontornáveis da busca pela emancipação negra e popular, seja na política ou na cultura. Do início do mês para cá, já homenageamos Carlos Marighella, Paulinho da Viola e Lima Barreto. Hoje, prestamos nossos respeitos a Clóvis Moura, imprescindível para o próprio reconhecimento da história das lutas negras no Brasil.


Junto de nossos parceiros da editora Expressão Popular, sortearemos cinco exemplares de Quilombos – resistência ao escravismo, de Clóvis Moura, entre os membros da rede Outros Quinhentos. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima segunda-feira, 28/11, às 14h.

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