Diplomacia: as movimentações do ministro Patriota

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Chanceler brasileiro fustiga ordem internacional em Genebra e parte para encontros de alto nível na Turquia. Brasil voltará a ter projeção internacional da era Celso Amorim?

Seria interessante acompanhar e debater, no blog de Outras Palavras, as recentes movimentações do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Nos oito primeiros meses de governo, ele manteve perfil bem mais baixo que seu antecessor, Celso Amorim. Ainda são incertas as razões. Estaria tateando terreno? Ou o governo Dilma teria decidido adotar uma postura menos crítica à ordem internacional — e menos ousada, na criação de fatos novos — que a mantida por Lula? Um conjunto de movimentações de Patriota nos últimos dias pode ajudar a esclarecer a questão.

No sábado (10/9), o ministro participou de um seminário internacional promovido pelos prestigiado Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), em Genebra, Suíça. Falou sobre “Novos Cenários Estratégicos“. Há escassos relatos de sua participação. Notas sumárias, na mídia, dão conta de que ele retomou as posições da era Amorim. Teria apontado a ilegitimidade do G-7 e do Conselho de Segurança da ONU, frisando a necessidade de “um sistema [de poder internacional] coletivo, baseado na justiça”. Até a tarde desta segunda-feira, não era possível encontrar a íntegra de sua fala nem no site do Itamaraty, nem no do próprio IISS.

Da Suíça, Patriota seguiu diretamente para a Turquia, onde se reunirá, hoje e amanhã, com o ministro de Negócios Estrangeiros, Ahmet Davutoglu. Em algum momento, será recebido pelo presidente, Abdullah Gul (que tem funções secundárias em relação ao primeiro-ministro).

Turquia e Brasil têm em comum a forte influência que exercem nos respectivos espaços regionais e as ações proeminentes que promoveram — em alguns casos juntos — em busca de uma ordem internacional menos comandada pelos Estados Unidos e Europa Ocidental. Em maio de 2010, os dois países lideraram uma tentativa de acordo internacional para por fim às tensões entre Estados Unidos e Irã (Washington abandonou a proposta à última hora). Enquanto o Brasil passou a ter posição mais discreta, a partir do início deste ano, a Turquia intensificou suas ações. Aproveita-se de uma situação particularmente favorável no Oriente Médio.

Numa conjuntura em que os antigos países “centrais” parecem cada vez mais desconcertados diante da crise — e em que o Brasil ainda não definiu claramente como a enfrentará — seria ótima notícia saber que Patriota está sinalizando a retomada dos esforços para articular iniciativas conjuntas na “periferia” do mundo. Resta conferir

 

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2 comentários para "Diplomacia: as movimentações do ministro Patriota"

  1. Luiz Inacio Burlo da Sila disse:

    A meu ver, nada mudará na política do Brasil em relação às superpotências… como não temos condição de enfrentar militarmente nem a Venezuela, o Brasil continuará arriando as calças para os paises que tem poder nuclear………….

  2. Marilza De Melo Foucher disse:

    A meu ver não existe mudança de política internacional da diplomacia brasileira. Ela se inscreve dentro de uma continuidade do governo Lula. É normal que em seis meses de mandato o Ministro A. Patriota adquira uma postura de observação, estamos face à uma nova configuração geopolítica do mundo. O eixo de dominação EEU e Europa estar em plena mutação, e, o Brasil hoje, tem um papel geopolítico fundamental pela aproximação e pela historia que reuniu a diplomacia brasileira a esses países.
    Não é somente a crise econômica que altera a geopolítica mundial, trata-se também de uma crise política e ideológica do capitalismo. Os organismos multilaterais de governança mundial não podem mais aplicar as receitas dogmáticas do chamado neoliberalismo, as políticas de desenvolvimento fracassaram, as políticas de segurança publica local e internacional também fracassaram, com isto é toda a fundação que necessita ser reconstruída.
    O governo Brasileiro a partir de Lula tem demonstrado que este novo edifício não pode ser reconstruído com o mesmo material, pois ele é obsoleto! Hoje se necessita de outros componentes que se encontram no Brasil e no continente sul americano, na China, na Rússia, na Índia, na Turquia, na África do Sul e todo continente africano. O novo desafio da geopolítica é reinventar uma nova concepção de democracia e uma nova segurança publica com cidadania e um novo desenvolvimento baseado numa concepção holística sem a dominação do econômico. Este é um cenário para uma geopolítica baseada numa outra governabilidade para forjar um mundo de paz so assim poderemos enfraquecer o fundamentalismo das religiões que se apropriam de um mundo em crise total.

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