Enfim, a Carta!
Publicado 29/11/2008 às 11:36 - Atualizado 10/12/2018 às 17:00
“A integração nos faz irmãos, enriquece saberes e sabores e se cristaliza nos âmbitos culturais, sociais e políticos”
Por Carolina Gutierrez
“Cultura popular é reinventar o mundo. É fundir o ouro, o cobre, o chumbo, a prata, é construir os instrumentos, é curtir o couro; é moldar o barro, polir a pedra, tingir a areia, converter penas em coroas verdadeiras, talhar a madeira, tecer as fibras das árvores e, com elas, tecer a fibra da humanidade nova. E cantem livres aos ventos que os levem a uma roda de baile que cultive nossos povos, nutrindo assim a nossa espiritualidade”(Carta das Culturas Populares).
Há 38 anos, precisamente na quarta semana de novembro – mesma semana que aconteceu o II Encontro Sul-Americano das Culturas Populares – Revelando experiências, Políticas e Manifestações -, houve a primeira Reunião Interamericana de Especialistas em Etnomusicologia e Folclore, em Caracas. O resultado foi a Carta do Folclore Americano.
E hoje, o terceiro dia do encontro, culminou com a leitura e apresentação da Carta – documento político que leva em seu conteúdo os anseios, as propostas e os problemas relacionados à cultura popular. A Carta foi construída a partir das contribuições e depoimentos de mestres, mestras e brincantes e visa a “defesa, valorização e a promoção das culturas tradicionais e o respeito à diferença dos povos de todo o mundo”.
Espera-se que os países participantes realmente reconheçam, aceite, incorporem e concretizem as afirmações e as propostas dos mestres e mestras das culturas populares.
Uma comissão de representantes do Brasil e Venezuela foi responsável pela feitura da Carta. Sua construção começou já no primeiro dia, sendo aprimorada e alterada segundo os depoimentos e propostas dos diversos mestres.
Na parte da tarde, ela foi exposta em painéis, onde todos puderam dar suas contribuições de forma espontânea e livre. À noite, foi lida por quatro pessoas de diferentes países: Maria Luiza, do Paraguai, Gil, do Brasil, Carlos, da Venezuela, e Adriana, da Bolívia.
Os principais pontos indicados pela Carta foram: promover a integração e a diversidade, com respeito às diferentes culturas populares, protegendo as raízes de cada uma delas. Para isso, foi enfatizada a necessidade de “atuação do Estado para promover e dar base para multiplicar a sabedoria popular dos mestres, sem ter a participação política como condição”, rompendo com o apoio único às Belas Artes.
A preservação pressupõe educação das crianças e jovens, de forma que a Carta aponta para um casamento entre a cultura e a educação. A proposta é que se valorize a atuação dos mestres e mestras em escolas e universidades. Além disso, o documento indica para a constituição de centros de formação permanente e intercâmbio maior entre os países, promovendo, dessa forma, interculturalidade.
A idéia é que se crie um fundo criar latino-americano e também uma pensão digna aos mestres, para proteção e promoção das culturas populares.
“E, mais que tudo, que a voz e a decisão sejam, a partir de agora e para sempre, dos artistas”