Bananas, entre produção orgânica e agrotóxicos

No Caribe, avançam cultivos sem venenos. Enquanto isso, grandes produtores temem fungo com grande capacidade de mutação, que ameaça devastar suas plantações

Por Julio Godoy, na Envolverde

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No Caribe, avançam cultivos sem venenos. Enquanto isso, grandes produtores temem  fungo com grande capacidade de mutação, que ameaça devastar suas plantações  

Por Julio Godoy*, em Envolverde

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) está apoiando dois projetos aparentemente contraditórios em países do Caribe: promoção de bananas orgânicas e uso maciço de fungicidas para combater a sigatoka negra, inimiga número um deste alimento importantíssimo. A FAO assessora produtores de banana orgânica da República Dominicana, “porque esse país é um pequeno produtor em escala mundial e porque sua produção se encaixa nas características altamente especializadas exigidas pelo mercado”, disse ao Terramérica o economista Kaison Chang, que trabalha na área de comércio dessa agência da ONU.

“Como pequenos produtores, os dominicanos não podem competir com os grandes, como os equatorianos, cujo custo de produção por unidade é consideravelmente mais baixo”, explicou Chang, secretário do Grupo Intergovernamental sobre Banana e Frutas Tropicas da FAO. Por essa razão, os dominicanos devem melhorar suas colheitas e suas técnicas de manejo da fruta, para ampliar suas vantagens comparativas. Como parte da assessoria, a FAO distribuiu cerca de 900 mil “lâminas de proteção”, conhecidas como “pescoço de freira” por sua forma, para cerca de 780 produtores dominicanos. Estas lâminas são colocadas em volta do cacho durante o amadurecimento, e permitem reduzir entre 40% e 50% a quantidade de bananas não aptas para a exportação.

A República Dominicana exporta quase toda sua produção de bananas orgânicas para a Europa, em particular a Alemanha. No ano passado, estas vendas totalizaram 300 mil toneladas. A proporção de banana orgânica no total das vendas dominicanas deste alimento aumentou de 32% para 58% entre 1999 e 2007. A banana é a fruta fresca mais exportada do mundo, tanto em volume como em divisas. Sua venda para o exterior é feita sobretudo por países em desenvolvimento para o mundo industrial, que absorve quase 90% das importações.

Trata-se de uma fonte de renda e de empregos essencial para centenas de milhares de famílias na América Latina, no Caribe, no sudeste asiático e na África ocidental, segundo o Fórum Mundial Bananeiro. A produção em grandes plantações e intensiva em uso de agroquímicos, as distorções da cadeia de valor e os preços deprimidos pagos aos agricultores criaram problemas ambientais e sociais. Dar-lhes uma resposta exige a participação de todos os atores do mercado bananeiro mundial, o que levou à criação do Fórum.

Um desses problemas ambientais é a doença da sigatoka negra. Em junho, a FAO organizou uma capacitação de pessoal para Dominica, Santa Lúcia, Granada e São Vicente e Granadinas destinada a “promover o uso efetivo de fungicidas para controlar e erradicar” essa praga, informou Chang. Este fungo (Mycosphaerella fijiensis Morelet), seguramente o mais devastador dos patogênicos que atacam a banana, é daninho para a maioria de espécies e variedades, destruindo a fotossíntese nas folhas e assim diminuindo a capacidade da planta para amadurecer os frutos no ritmo natural.

“A sigatoka negra causa perda de peso da fruta em até 57% e provoca seu amadurecimento precoce”, disse ao Terramérica o especialista em tecnologia Humberto Gómez, do Programa de Inovação para a Produtividade e a Competitividade, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), em Trinidad e Tobago. A enfermidade foi descoberta em 1963, em Fiji. Outra variante, a amarela, também foi detectada em Fiji, em 1912. Na América Central foi encontrada em 1972 em Honduras, de onde se espalhou para outros países. Segundo a FAO, as exportações de banana de São Vicente e Granadinas e da Guiana caíram entre 90% e 100% por causa dessa doença.

A situação “é desastrosa. É uma emergência”, advertiu Gómez. Para enfrentá-la, “os técnicos foram treinados para avaliar a reação da enfermidade a ingredientes específicos dos fungicidas, e então desenvolvendo planos de tratamento mais efetivos”, afirmou Chang. Este especialista reconheceu que o uso de fungicidas é contraproducente, pois o fungo é muito adaptável e desenvolve resistência à combinação de produtos químicos disponíveis. Além disso, a grande umidade e precipitação do Caribe é um ambiente fértil para seu desenvolvimento.

Uma campanha de sucesso contra a sigatoka exige constantes controles da umidade do solo, otimização da irrigação e da drenagem, melhoria da nutrição dos bananais mediante fertilizantes, redução da densidade das plantações espaçando mais as plantas e poda frequente das folhas afetadas, indicam os técnicos. “Contudo, até agora, os produtores de banana convencional no Caribe mantêm seu modo de produção, com uso de produtos químicos”, pontuou Chang. “A produção orgânica é muito exigente e torna impossível utilizar a maioria dos produtos químicos tradicionalmente empregados para controlar enfermidades. Por isso, os custos de produção da banana orgânica são muito altos, reduzindo o lucro”, destacou.

Outro método, proposto por Gilberto Manzo-Sánchez, professor e pesquisador da Universidade de Colima, no México, consiste em desenvolver antibióticos naturais de maneira profilática, para melhorar a resistência da planta à doença. “Dessa forma poderíamos reduzir o uso de fungicidas, economizando até 50% dos custos, e contribuir para a proteção ambiental”, afirmou ao Terramérica. Envolverde/Terramérica

* O autor é correspondente da IPS.

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