Sequelas profundas da covid no coração e artérias
Estudo que examinou 11 milhões de norte-americanos projeta riscos sérios para pacientes da pandemia. Podem ser mais graves que tabagismo e obesidade. Em escala inédita, verificou-se a ocorrência de vinte doenças cardiovasculares, de arritmia a trombose venosa profunda
Publicado 15/02/2022 às 06:30 - Atualizado 14/02/2022 às 20:29
Mesmo um caso leve de covid pode causar danos cardíacos e vasculares duradouros, após a infecção. É o que revelou o primeiro amplo estudo sobre os efeitos do coronavírus, que analisou mais de 11 milhões de registros de saúde nos EUA, examinando 20 doenças cardíacas e vasculares. A covid aumentou o risco de todas as 20 doenças estudadas – comparando os pacientes dessas doenças que também tiveram covid com pacientes que não tiveram.
Naqueles que foram infectados pelo coronavírus, por exemplo, o risco de insuficiência cardíaca é 72% maior, mesmo 12 meses depois da doença. O risco aumenta com a gravidade da infecção. Conduzido pelo epidemiologista Ziyad Al-Aly, da Universidade de Washington em St. Louis, e publicado na Nature Medicine, o estudo utilizou dados de quase 154 mil pessoas com covid, entre março de 2020 e janeiro de 2021, e os comparou com dois grupos de controle.
O primeiro reuniu 5,6 milhões de pessoas que procuraram atendimento cardíaco durante a pandemia, mas não foram diagnosticadas com covid. O outro abarcou 5,9 milhões de pessoas que haviam procurado atendimento cardíaco antes da pandemia, em 2017. A lista de doenças incluiu ataques cardíacos, arritmias, derrames, ataques isquêmicos transitórios, insuficiência cardíaca, doença cardíaca inflamatória, parada cardíaca, embolia pulmonar e trombose venosa profunda.
Embora a pesquisa ainda tenha um caráter preliminar e qualitativo, ela indica que a covid é um fator de risco mais sério que o tabagismo e a obesidade, diz a cardiologista Larisa Tereshchenko, da Cleveland Clinic. Ela fez um estudo semelhante, recentemente, mas em escala muito menor. “Na era pós-covid”, argumentou, “a covid pode se tornar o maior fator de risco para a consequência das doenças cardiovasculares”. A análise ainda precisa ser repetida, para validar com mais segurança seus resultados, ela diz. Além disso, é importante fazer pesquisas prospectivas, que busquem antecipar a ocorrência futura de problemas do coração dos pacientes da covid.
Outra limitação da pesquisa é que ela selecionou pacientes não vacinados, 90% deles homens, brancos na proporção de 71% a 76%, com idade média próxima de 60 anos. Os pesquisadores corrigiram esses vieses, em parte, por meio de cálculo estatístico, e dizem que os resultados, provavelmente também são relevantes para as mulheres e os negros. Além disso, avalia-se que a covid pode estar causando danos semelhantes no cérebro e em outros órgãos dos pacientes.