Reconstruindo os caminhos históricos da Saúde Indígena

Livro lançado pela Editora Fiocruz examina lutas e articulações que construíram políticas públicas para povos originários. Sustenta: em meio à tragédia, ganharam protagonismo no enfrentamento à covid

Foto: Ministério da Defesa
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A história da Saúde dos povos indígenas no Brasil é o foco do livro Políticas antes da Política de Saúde Indígena, da Editora Fiocruz. O livro investiga o processo de formulação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, criado no âmbito do SUS. Os autores – três pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz – analisam que permanecem deficiências tanto no atendimento em si, quanto na frágil articulação da Saúde indígena com os demais níveis de complexidade da rede SUS.

Como parte do SUS, o subsistema foi idealizado para fazer o atendimento nos territórios indígenas por meio de uma estrutura de sistemas locais denominados Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Mas o forte do livro não é a atualidade – nem, a rigor, as questões propriamente sanitárias. Em vez disso, o texto adota uma perspectiva histórica e antropológica para reconstruir os muitos caminhos, lutas e articulações que possibilitaram a construção de políticas públicas para a saúde indígena.

Esse novo lançamento dá continuidade à coleção Saúde dos Povos Indígenas. É o nono título dos treze que deverão compor a coletânea. “Estamos interessados em analisar a complexa rede de atores e processos sociopolíticos”, explica Ricardo V. Santos, um dos autores ao lado de Ana L. Pontes, Felipe R. S. Machado. Os atores dessa rede, prossegue Santos, “não raro, são apenas mencionados nas entrelinhas das narrativas mais usuais”. Quase nada se sabe, por exemplo, das lideranças e organizações indígenas no Brasil.

Os 14 autoras e autores que contribuem para a coletânea destacaram esse aspecto do protagonismo indígena e indigenista até o momento pouco explorados na literatura. Também historiam as grandes instituições relevantes desde os tempos do regime militar: Conselho Indigenista Missionário, de 1972, a União das Nações Indígenas, dos anos 1980, o Centro Ecumênico de Documentação e Informação, de 1974, e a Fundação Nacional do Índio, de 1967.

A pandemia, tem salientado a imprensa, afetou bastante os povos indígenas, como se lê aqui e aqui. Para os autores, ela deu mais visibilidade ao ativismo e o protagonismo do movimento indígena, em comparação com períodos anteriores. Deu maior visibilidade à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), fundada em 2005. E repercutiu no Parlamento, reforçando a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas.

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