O vasto potencial das algas como fonte de novos remédios

Na década do conhecimento oceânico, pesquisadores exploram a opulência bioquímica dessas criaturas e revelam seu alto valor na fabricação de medicamentos, cosméticos e alimentos

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Por Flávio Dieguez

Três expedições, duas no Espírito Santo e uma no Ceará, propiciaram um pequeno tesouro bioquímico para a pesquisadora Talissa Harb, do Instituto de Biociências da USP. Seu trabalho, nesses locais, foi coletar amostras de algas que usualmente se acumulam nas praias e terminam queimadas como lixo pelas prefeituras. Mas nas 11 espécies obtidas – dos tipos vermelhas, pardas e verdes –, a bióloga descobriu uma cobiçada cesta de moléculas naturais que poderão ser transformadas em fármacos, cosméticos e alimentos.

A pesquisadora destaca, por exemplo, substâncias com propriedade antioxidante, importantes na prevenção de artrite, arteriosclerose e catarata, entre outros distúrbios. Como são naturais, os antioxidantes das algas das praias teriam grande demanda, já que os sintéticos, mais usados, apresentam sérios efeitos colaterais. Essa atividade apareceu com mais vigor nas algas pardas Dictyopteris jolyana, Zonaria tournefortii e Osmundaria obtusiloba.

Outra propriedade bioativa, muito prestigiada, e ainda mais valorizada face à pandemia, é a antiviral, possível fonte de tratamento contra os temidos vírus. Nessa categoria nada menos que seis algas revelaram potencial altamente promissor, como a Codium isthmocladum. Três outras espécies apresentaram alta atividade citotóxica – possíveis armas contra células tumorais da leucemia e do câncer de cólon.

As algas são um caso exemplar da imensa riqueza guardada pela vida marinha – ainda mal explorada. Porém não por muito tempo, diz a professora Letícia Veras Costa-Lotufo, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Temos muitas formas de empreender e de desenvolver produtos e serviços ecossistêmicos a partir da biodiversidade marinha, que seria a biotecnologia marinha”, explica ela. “E discutir isso dentro de um contexto de sustentabilidade”, continua.

A diversidade química dos oceanos é enorme. Portanto, conclui Letícia, a biotecnologia azul tem grande potencial para a economia, e é questão de tempo a sua utilização industrial. No Brasil, com sua imensa costa, especialmente. Diversos estudos em curso, em muitos países, reforçam essa perspectiva.

Em uma pesquisa recente registrou-se, por exemplo, a opulência das microalgas, repositórios naturais de ácidos graxos, carotenóides, ficobiliproteínas e polissacarídeos e outras moléculas. A pandemia ensinou aos pesquisadores do mundo a necessidade urgente de novas fontes e novos produtos farmacêuticos, ponderou um outro estudo recente sobre a urgência de recorrer às algas para renovar nossa reserva de produtos naturais úteis.

Para esses pesquisadores, as descobertas de medicamentos farmacêuticos nos últimos cinquenta anos, dependeram profundamente da busca de um grande número de compostos “puros” (ou naturais). A triagem de extratos ou compostos é uma maneira comum de descobrir novas moléculas biologicamente ativas. Por esse raciocínio, o mar se coloca, naturalmente como uma das fronteiras da saúde.

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