Pandemia: as mulheres foram mais afetadas

Elas sofreram mais demissões e deixaram as escolas, violência aumentou. Entre as grávidas que precisaram de UTI, 77% tiveram o parto pré-maturo, no continente americano. Estudos analisam como as disparidades foram acentuadas

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A desigualdade de gênero durante a crise sanitária foi tema de estudo pré-publicado pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), divulgado na semana passada. Embora a maior parte das vítimas de covid sejam homens, em termos gerais, os efeitos diretos e indiretos foram sentidos com mais intensidade pelas mulheres, no continente americano. A covid trouxe consequências ruins em termos de trabalho e desemprego, e a violência doméstica cresceu. O aumento de chamadas de mulheres por meio de linhas de socorro foi de até 40% em alguns países. Mas o relatório da Opas chama atenção para outro problema assustador: o da mortalidade materna.

O perigo da covid para as grávidas, especialmente em populações empobrecidas, aumenta muito. Desde o início da pandemia, 3 mil gestantes morreram, e 365 mil contraíram a doença. Uma em cada três mulheres grávidas que precisavam ser internadas em UTIs não foram atendidas a tempo. “Quase 77% tiveram seus bebês prematuros e 60% dos bebês nasceram com baixo peso – um problema que pode afetar a saúde de uma criança por toda a vida”, afirma a Opas. Estudos também mostram que mulheres que contraem covid durante a gravidez são mais propensas a terem parto prematuro e ao aborto espontâneo. A entidade reforça a importância da vacinação de gestantes no continente.

Outro artigo publicado no Lancet reforça como a pandemia acentua a disparidade entre homens e mulheres em todo o mundo – embora com especificidades regionais. Pesquisadores fizeram o esforço de reunir e revisar dados sobre a covid em 193 países para explorar as desigualdades de gênero contidas neles. Cerca de 26% das mulheres perderam seus empregos, ante 20,4% dos homens. Entre as jovens, 1,21 vezes mais meninas deixaram a escola do que os meninos. E 53,7% delas sentiu que a violência de gênero aumentou durante a pandemia.

Também foram registradas as diferenças continentais. As maiores distâncias entre homens e mulheres na questão da perda de emprego foram sentidas em primeiro lugar no norte da África e no Oriente Médio, seguidas da América Latina e Caribe. A maior perda de renda foi sentida na África subsaariana. Em termos de evasão escolar, na Europa e na Ásia central houve mais desigualdade entre os gêneros. E o aumento da violência foi registrado com mais intensidade na América Latina e no Caribe. De maneira geral, a África é o continente onde há mais disparidades, enquanto as mulheres de países ricos sentiram menos diferença entre seus pares do sexo masculino.

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