O hacker ladrão

Mesmo confrontado com provas, Pazuello mantém versão fantasiosa sobre aplicativo do governo

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A explicação de Eduardo Pazuello para o episódio do TrateCov é digna de um filme de péssimo roteirista: ele disse que o aplicativo foi “roubado” por um hacker durante o lançamento, quando ele e Mayra Pinheiro o apresentaram em Manaus. O hacker teria sido a pessoa responsável por colocar o aplicativo no ar: “ele alterou, com dados lá dentro, e colocou na rede pública”. Pazuello disse ter até um boletim de ocorrência disso, uma informação que nunca havia sido dada, apesar da chuva de críticas que o Ministério recebeu em janeiro, quando o app foi anunciado. Pazuello disse ainda que a ferramenta nunca chegou a ser usada – e sustentou suas posições mesmo diante da reprodução de uma reportagem da TV Brasil que apresentava a ferramenta e trazia o relato elogioso de um médico sobre seu uso. “O hacker é tão bom que conseguiu botar o programa numa matéria extensa na TV Brasil”, ironizou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD/AM).

Tem mais. Apesar de a ferramenta se chamar “TrateCov”, Pazuello quis emplacar a ideia de que o objetivo era o de apenas realizar o diagnóstico, e não a indicação de tratamento. E que teria sido lançado em Manaus por conta do colapso: “O diagnóstico clínico, naquele caso, em Manaus, era muito necessário, pela velocidade com que as coisas estavam acontecendo, pela contaminação excessiva e pelo risco de nós termos diagnósticos diferentes de doenças que estavam acontecendo em paralelo. Então, o diagnóstico era muito importante. Tem que se compreender que nós temos que separar o que foi feito, o resultado final do projeto com ideia do projeto. A ideia do projeto é uma calculadora que facilite o diagnóstico. Eu acho que ninguém é contra…”.

A narrativa é a de que esse aplicativo ainda não estava “completamente desenvolvido” quando foi lançado. Coube ao senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) confrontar Pazuello com uma prova inequívoca da mentira: um documento do dia seis de janeiro, assinado pelo ex-ministro, estabelecendo que seria disponibilizado ao Amazonas o “aplicativo desenvolvido” (e não “em desenvolvimento”) para “diagnóstico e consequente receitamento”, o que não deixa dúvidas sobre a intenção, desde o começo, de apresentar uma lista de remédios. 

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