Genocídio yanomami: a culpa é do garimpo

• O garimpo em terras yanomami • A principais causas de morte na terra indígena • Povo Xerente está sem água potável • Nísia fala em eliminar doenças ligadas à pobreza • ACS reconhecidos como profissionais de saúde • Novo Mais Médicos •

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Após a visita na Terra Yanomami, em Roraima, a ministra da Saúde Nísia Trindade afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi omisso diante das condições alarmantes em que se encontra o povo yanomami. A ministra classificou a situação como genocídio. “Eu vejo o abandono como uma forma de genocídio, essa população estava desassistida. O genocídio também pode ocorrer por omissão”, afirmou. Em entrevista à BBC News Brasil, a ministra apontou que o garimpo ilegal de ouro na região é o principal culpado pela crise humanitária – devido à contaminação dos rios e às escavações que geram depósitos de água, aumentando a proliferação de mosquitos causadores de malária, por exemplo. Além disso, as ameaças constantes e o cenário de violência dificultam o acesso de equipes de saúde às regiões em que há doentes.

Pneumonia, verminoses e desnutrição

Dados do Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena (Sisai) apontam que um terço das mortes evitáveis de crianças yanomamis com até 5 anos foram causadas por pneumonia em 2022. De 99 óbitos, 33 tinham relação com a enfermidade – elevando para 38% a morte de crianças yanomamis por causas respiratórias. Em dezembro, quando foi revelado o escândalo de desvio de verba originalmente destinado para a saúde indígena, foi descoberto que muitos menores de idade também estavam doentes devido a verminoses. A desnutrição, contudo, continua sendo uma das principais preocupações na região: entre as crianças com até 5 anos, cerca de 79,3% registram peso baixo ou muito baixo. “O que vimos foi uma situação muito precária em termos de saúde, com pacientes acometidos por desnutrição grave, infecções respiratórias, muitos casos de malária e doenças diarreicas. Junto a isso, uma escassez de equipes e de estrutura”, relatou o médico André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que foi à Terra Yanomami neste mês. O especialista classificou a experiência à BBC como “a pior situação humanitária” que já viu. 

Indígenas Xerente estão sem água potável por contaminação do rio

O povo da aldeia Kâkaka, localizada na Terra Indígena Xerente, em Tocantins, está há onze dias sem água potável e sem poder pescar devido à contaminação por agrotóxicos do rio Gorgulho. A comunidade fica a 1km de monoculturas de soja na região. Na semana passada, o cacique Ranulfo Cursino Xerente divulgou um vídeo denunciando a contaminação das águas e recebeu apoio do Instituto Indígena de Tocantins (Indtins), que pediu providências imediatas do Ibama e da Funai. Ouvido pelo site Amazônia Real, Ranulfo Xerente, que vive na aldeia há 37 anos, afirmou que as vidas de quatro famílias e de ribeirinhos estão em risco e que a aldeia não possui saneamento básico, energia elétrica ou poço artesiano, e que depende inteiramente da água do rio para seu sustento e sobrevivência. 

Ministério da Saúde quer eliminar doenças ligadas à pobreza

Esquistossomose, filariose, hanseníase, oncocercose, tracoma e geo-helmintíases: as doenças que podem ser eliminadas com investimento em saúde e melhores condições sanitárias serão um dos focos da gestão de Nísia Trindade. Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, disse à Folha que o Brasil pode eliminar essas enfermidades mediante ações planejadas e cooperação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV, relembrou que a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi responsável pela queda vertiginosa de mortes pelas doenças que acometem, especialmente, “pessoas que vivem em áreas de grande vulnerabilidade social, sem condições básicas de saneamento e higiene e sem acesso a diagnóstico e tratamento”. Agora, mais investimentos e programas podem levar à eliminação dos contágios. 

Lei transforma agentes comunitários em profissionais de saúde

O presidente Lula sancionou, na última sexta-feira (20/1), o projeto de lei que passa a considerar os Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Combate às Endemias como profissionais de saúde. A mudança permitirá que os trabalhadores possam acumular cargos públicos e ter melhores condições trabalhistas garantidas, como o recebimento de adicionais de insalubridade. Hoje, o Brasil conta com 265 mil agentes que trabalham com Saúde da Família, na prevenção de doenças e na promoção da saúde em ações domiciliares, comunitárias, individuais e coletivas. Além deles, outros 61 mil profissionais de combate às endemias atuam na vigilância epidemiológica e ambiental, na prevenção e controle de doenças – também assegurados pela lei. 

Novo Mais Médicos em formulação

O programa Mais Médicos, criado na gestão de Dilma Rousseff e substituído por Jair Bolsonaro pelo “Médicos pelo Brasil”, deverá retornar nesse governo, como já indicou Lula e seu ministério da Saúde. Nésio Fernandes, chefe da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, sinalizou que a nova edição do programa que visa ampliar o atendimento médico em localidades remotas do país e zonas pobres das metrópoles não será mais focado na contratação de profissionais estrangeiros – mas promoverá incentivos para médicos formados no país. Estrangeiros serão contratados apenas caso tenham se submetido ao exame Revalida, processo unificado para revalidação de diplomas médicos de acordo com as normas das universidades brasileiras. 

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