A emergência Yanomami enfim é reconhecida

• O Brasil olha enfim para os Yanomami • Declarada Emergência Sanitária • Denúncias em Haia • Óbitos maternos explodiram com a covid • Ministério da Saúde se compromete com piso salarial da Enfermagem • CNS contra fake news da saúde •

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O final de semana ficou marcado pela revelação definitiva da tragédia Yanomami, território indígena do extremo norte brasileiro cercado por garimpeiros. Foram dezenas de alertas sobre sua situação de abandono governamental e violento cerco (Outra Saúde tratou do assunto aqui). O STF e outras instâncias da justiça brasileira também ordenaram que o governo tomasse providências em distintos momentos. Agora, um relatório divulgado pelo ministério dos Povos Originários revela que cerca de 570 crianças morreram de causas evitáveis. As imagens dos indígenas de corpos ressequidos pela fome e doenças diversas lembraram os judeus em campos de extermínio nazistas. “Precisamos responsabilizar o governo anterior por ter permitido que essa situação se agravasse com o povo Yanomami ao ponto da gente chegar aqui e encontrar adultos com peso de criança, e crianças em uma situação de pele e osso”, afirmou Sônia Guajajara, ministra dos Povos Originários.

Lula condena Bolsonaro

“Mais que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio. Um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento do povo brasileiro. Não haverá mais genocídios. Povos indígenas serão tratados com dignidade. A humanidade tem uma dívida histórica com os povos indígenas, que preservam o meio ambiente e ajudam a conter os efeitos das mudanças climáticas. Essa dívida será paga, em nome da sobrevivência do planeta”. Foi essa a maneira com a qual Lula, que viajou à terra dos Yanomami, definiu o cenário de devastação humanitária. “Para enfrentarmos a desassistência sanitária dos povos que vivem nessa que é a maior reserva indígena do país, declaramos Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) e instalamos um Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE)”, declarou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. 

Denúncias em Haia 

Como mencionado, o caos humanitário já havia sido denunciado internacionalmente. O Tribunal Permanente dos Povos condenou Bolsonaro por genocídio contra povos indígenas em 1º de setembro de 2022 e sua sentença foi encaminhada ao Tribunal Penal Internacional, a corte de Haia, que julga crimes de lesa humanidade. Corresponsável pela tragédia, o exército brasileiro viu Lula demitir seu comandante neste sábado. A instituição não fez qualquer pronunciamento sobre a tragédia Yanomami, enquanto inunda a mídia de melindres que visam atenuar sua evidente relação de apoio com o golpismo neofascista. Enquanto isso, organizações como a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e a Brigada de Médicos Populares anunciam envio de equipes de ajuda à terra indígena.

Óbitos maternos cresceram 40% em 2020

Um estudo do Observatório Covid-19 Fiocruz divulgado nesta quinta-feira (19/1) aponta que, em 2020, houve um excesso de óbitos maternos de 40% em comparação aos anos anteriores. Considerando a expectativa de aumento de mortes em geral devido a pandemia, o excesso foi de 14%. O artigo, publicado na revista científica BMC Pregnancy and Childbirth, evidencia que gestantes foram mais penalizadas pela pandemia de covid-19 do que a população em geral. Segundo o estudo, as chances de constar entre os óbitos eram de 44% para mulheres negras, 66% para mulheres que residiam na zona rural 66% e 28% para aquelas internadas fora do município de residência. O país registrou 549 mortes maternas por covid-19 em 2020, a maioria de gestantes no segundo e terceiro trimestre.

Piso da enfermagem: reunião para implementação

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, recebeu representantes da enfermagem brasileira e avisou que já está em vigor um grupo de trabalho que estuda meios de implementar o Piso Nacional da Enfermagem. Além do piso, temas como ensino à distância, privatização do setor e atenção a profissionais com sequelas de covid-19 foram abordados. “A reunião foi muito produtiva e saímos com grandes expectativas de que o governo federal solucione o pagamento do piso em fevereiro. Estaremos dialogando e cobrando diariamente. A Enfermagem terá a sua valorização merecida”, disse Líbia Bellusci, noInstagram do Fórum Nacional de Enfermagem.

Conselho Nacional de Saúde se mobiliza contra fake news

Na quinta-feira (19/1) um encontro entre o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e Fernando Pigatto, do Conselho Nacional de Saúde, tratou do combate às fake news na área. “Na área da saúde, as consequências da fake news são ainda mais graves, porque a fake news mata. A gente enfrentou isso na pandemia e nas vacinas”, disse Pimenta. “É papel nosso, da sociedade brasileira, fazer esse enfrentamento e garantir vida de verdade para a população brasileira”, completou Pigatto, em matéria publicada pelo DCM. Obviamente, a iniciativa visa reverter a disseminação de mentiras anticientíficas que, entre outras coisas, fizeram a cobertura vacinal brasileira se reduzir em cerca de 30% nos últimos anos. Ainda não há um cálculo preciso sobre quantas pessoas morreram por se valerem das mentiras da direita sobre cuidados em saúde.

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